Notas do Coração

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Haru acordou com a luz suave da manhã invadindo o quarto. Por um momento, ele não soube onde estava, mas logo se lembrou: estava no quarto de Aki. Ele se levantou, ainda um pouco confuso, e notou que estava sozinho. Kaito, provavelmente, já havia saído para algum lugar. O silêncio parecia ainda mais denso após a noite, e a luz suave do dia trouxe uma sensação de calma, mas também de inquietação.

Ao olhar ao redor, seus olhos caíram sobre a mesa de Aki. Ela não havia guardado tudo, como costumava fazer quando estava de alguma forma organizando seus pensamentos ou criando algo. Várias folhas estavam espalhadas de maneira desordenada, algumas amassadas, outras dobradas com pressa. Haru se aproximou da mesa, sentindo uma leve inquietação no peito.

Ele pegou uma das folhas e olhou mais de perto. Eram letras, palavras que ele não conhecia, mas logo o formato das frases começou a parecer familiar. Ele leu em voz baixa, com a sensação de que aquilo deveria ser importante.

— Uma música... — ele murmurou, sentindo um frio na espinha.

Conforme os versos se desdobravam, Haru reconheceu imediatamente o que estava lendo. Não eram apenas palavras aleatórias. Era uma canção. E mais do que isso, ele logo percebeu que a música estava repleta de momentos compartilhados entre ele e Aki. Cada estrofe descrevia algo profundo, mas simples, que eles haviam vivido. Falava sobre passeios à beira-mar, sobre como ela sempre gostava de brincar de esconde-esconde nas noites de verão, como ele sempre tentava fazer ela rir, até nos momentos em que estavam apenas observando o pôr do sol em silêncio.

As palavras pareciam capturar os sentimentos de Aki de uma forma sutil, mas poderosa. A música não mencionava grandes gestos, mas sim os pequenos detalhes que Haru sabia que eram especiais para ambos. Como a maneira que ela sorria, ou a vez em que ele a ajudou a escolher um presente de aniversário, ou quando passaram uma tarde inteira juntos, sem dizer uma palavra, apenas aproveitando a companhia.

Com o coração acelerado, Haru começou a folhear as outras folhas, algumas com rabiscos apressados, outras com partes da letra que pareciam não ter saído do jeito que Aki queria. Ele podia quase ouvi-la cantar as palavras em sua mente. Era como se ela estivesse tentando capturar a essência do que eles compartilhavam, algo que fosse deles, algo que a ligasse a ele de uma maneira única.

— Ela... estava escrevendo isso para mim... — disse Haru baixinho, com um nó na garganta, e um sorriso triste tomou conta de seu rosto.

A música não era apenas uma composição de notas e letras. Era um reflexo de tudo o que eles tinham vivido juntos, a prova de que, apesar da distância agora, Aki ainda pensava nele, ainda carregava tudo o que eles haviam compartilhado. Ele sentiu um misto de gratidão e saudade.

Aquele momento, aquela música, se tornaram um símbolo de tudo o que ele esperava manter vivo entre ele e Aki. Mesmo com ela tão distante, a música permanecia como uma prova tangível do amor e da conexão que eles tinham.

Haru estava completamente imerso nas folhas de música espalhadas pela mesa, ainda tentando entender a letra de Aki. Ele nem percebeu que Kaito havia entrado silenciosamente no quarto até que o irmão mais velho se aproximou dele com um sorriso travesso no rosto.

— E aí, Haru, procurando as calcinhas da minha irmã? — Kaito perguntou, com um tom brincalhão, observando a cena e, com um gesto teatral, apontando para as folhas que Haru estava lendo.

Haru se virou rapidamente, seus olhos arregalados de surpresa.

— O quê?! Kaito, que diabos você está falando?! — ele gritou, quase derrubando a pilha de papéis.

Kaito, completamente descontraído, se encostou na porta com um sorriso malicioso.

— Ué, não estava você aí, todo concentrado, "desvendando os segredos da minha irmã"? Não me diga que não tá na hora de procurar algo mais... pessoal? — Kaito fez uma cara de quem estava se divertindo com a situação.

Destino Entre LinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora