07/12/24
Duas semanas após o programa,João e Lydia resolveram visitar os pais de Lydia em Belo Horizonte. Era um momento muito importante no relacionamento dos dois, pois João teria a oportunidade de conhecer a família dela, um passo necessário que ele encarava com seriedade.Durante o voo, Lydia percebeu a inquietação de João, algo raro para ele, que normalmente transparecia autoconfiança. Ele olhava pela janela, mexia nas mãos, claramente tenso. Lydia, sempre perceptiva, segurou a mão dele e apertou levemente.
— Nervoso? — perguntou, tentando disfarçar um sorriso de leve provocação.
João riu, meio sem jeito, mas não negou.
— Um pouco — admitiu, passando a mão pela nuca. — Conhecer você é uma coisa, mas a sua família... Quero que eles gostem de mim.
Lydia deu uma risada e apoiou a cabeça no ombro dele.
— Relaxa, João. Eles vão te adorar. Você só precisa ser você mesmo.
Ele assentiu, respirando fundo, enquanto Lydia, na tentativa de aliviar a tensão, começou a contar histórias de sua infância: das manhãs ensolaradas na roça com o pai, das tardes aprendendo receitas com a mãe, e das travessuras com os irmãos. A maneira como ela falava, cheia de carinho e nostalgia, parecia transportar João para um lugar completamente novo e ao mesmo tempo familiar.
Ao chegarem à casa dos pais de Lydia, foram recebidos com uma energia calorosa. Dona Glória, já estava com um sorriso no rosto, eu já logo abriu os braços para João antes que ele pudesse reagir.
— Você deve ser o famoso João! Seja bem-vindo, meu filho! — Ela o puxou para um abraço apertado, pegando-o de surpresa.
João riu, meio sem jeito, mas aceitou o abraço com gratidão.
— O prazer é meu, Dona Glória. Lydia fala muito da senhora.
Enquanto isso, Seu Geraldo, mais reservado, estendeu a mão para João, com um aperto firme e avaliador.
— Bom conhecer você, rapaz — disse ele, com uma expressão séria, mas que aos poucos se suavizou ao ver o sorriso sincero de João.
Depois dos cumprimentos iniciais, Dona Glória os levou para a mesa, onde um banquete mineiro estava preparado: pão de queijo, frango com quiabo, feijão tropeiro, e, para a sobremesa, doce de leite caseiro. O aroma preenchia a sala de jantar, e João, acostumado com a culinária de Recife, sentiu-se imediatamente transportado por aqueles sabores novos.
Quando ele pegou seu primeiro pedaço de quiabo, hesitou, estudando a textura, o que fez Lydia esconder uma risada.
— Aposto que você nunca comeu quiabo na vida, não é? — ela provocou, com um brilho divertido no olhar.
João, determinado a mostrar que estava aberto à experiência, pegou mais um pedaço e mastigou lentamente, tentando se acostumar com o sabor.
— Eu estava preparado para tudo, menos para o quiabo — brincou, arrancando risadas de todos na mesa.
Dona Glória, rindo com a cena, comentou:
— Se quiser ficar com uma mineira, vai ter que aprender a gostar, viu, João?
João fingiu pensar, colocando uma expressão dramática, antes de dizer:
— Pelo amor da Lydia, até quiabo eu como!
A resposta fez Lydia rir, e ela deu um leve empurrão nele, de brincadeira. Aquele momento, tão simples, parecia romper qualquer formalidade. João se sentia cada vez mais à vontade, como se já fizesse parte daquela família.
Durante o almoço, as conversas fluíam, até que Dona Glória, com um tom mais sério, perguntou:
— João, você e a Lydia têm uma vida agitada lá em Recife. Como conseguem tempo para estarem juntos?
João olhou para Lydia, e o olhar entre eles dizia tudo. Ele então respondeu com sinceridade:
— Dona Glória, Lydia é meu equilíbrio. Mesmo com as agendas cheias, cada segundo que passamos juntos vale a pena. Ela me dá forças para enfrentar qualquer coisa.
Lydia sorriu, emocionada. Para ela, ver João expressando aquilo diante de sua família era uma prova de como o relacionamento dos dois havia se tornado sólido. Seu Geraldo, que até então estava quieto, deu um leve pigarro e, em um tom protetor, comentou:
— Lydia é minha menina, João. Quero que ela esteja feliz e segura. Se você consegue fazer isso, tem o nosso apoio.
João assentiu, ciente da responsabilidade, mas ao mesmo tempo grato por receber essa confiança. Ele sabia que construir uma relação com Lydia também significava construir uma conexão com as pessoas que ela amava.
Depois do almoço, Lydia levou João para conhecer lugares importantes de sua infância. Passaram pelo mirante da cidade, onde ela costumava ir para refletir e sonhar com o futuro. Ao chegar, Lydia apontou para o horizonte, mostrando a vista da cidade que ela tanto amava.
— Era aqui que eu vinha para pensar... planejar minha vida — confessou, com um sorriso nostálgico. — E sabe, João, nunca imaginei que estaria aqui um dia com alguém como você.
Ele a abraçou, e ficaram ali em silêncio por alguns minutos, apenas apreciando o momento. João sabia que aquele lugar era especial para ela, e estar ali, compartilhando aquilo, fazia tudo parecer mais significativo.
Quando retornaram à casa, Dona Glória insistiu para que passassem a noite ali. Ela preparou o quarto de Lydia para o casal, que se sentia acolhido como se realmente fizesse parte daquela família. João observou o quarto dela, cheio de pequenas lembranças de infância, livros antigos, e fotos que mostravam uma Lydia mais jovem, em momentos felizes com os pais e os irmãos.
Deitados lado a lado, eles conversaram sobre o dia, ainda impressionados com a recepção calorosa. Lydia virou-se para João, olhando-o com carinho.
— Eu sabia que você se sairia bem, mas foi melhor do que imaginei. Acho que meus pais nunca gostaram tanto de alguém assim logo de cara.
João sorriu, puxando-a para perto.
— Conhecer sua família foi muito importante para mim. E cada vez mais sinto que não quero estar ao lado de outra pessoa senão de você. Esse é só o começo de tudo que quero construir ao seu lado, Lydia.
Ela se aconchegou nos braços dele, sentindo-se protegida e amada. Aquele encontro com a família não era apenas um passo no relacionamento dos dois, mas uma confirmação de que estavam prontos para enfrentar o futuro juntos, com o apoio e a confiança daqueles que mais importavam.
Na manhã seguinte, enquanto tomavam café da manhã, Dona Glória entregou a João uma pequena cesta de biscoitos caseiros e doces, feitos especialmente para ele.
— Para você lembrar da gente quando voltar para Recife — disse ela, com um sorriso caloroso. — E para saber que aqui sempre terá um lar.
João, emocionado, agradeceu, prometendo que voltaria em breve. Naquele momento, sentiu-se verdadeiramente parte daquela família e soube que, independentemente do que o futuro reservasse, tinha encontrado um segundo lar ao lado de Lydia e dos pais dela.
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Caminhos Cruzados- João Campos
RomanceLydia, uma jovem enfermeira de 25 anos, decide deixar o interior de Minas Gerais para buscar uma nova vida na capital de Pernambuco, Recife. Recém-chegada, ela assume seu novo emprego em um hospital da cidade, sem imaginar como sua vida mudaria dras...