Desde o jantar na casa dos Campos, Lydia sentia que a conexão com João e com a família dele crescia a cada dia. Ela nunca imaginara que, ao se mudar para Recife, acabaria encontrando um espaço onde se sentisse verdadeiramente acolhida. Agora, estava cercada por um sentimento de pertencimento e carinho que nunca havia experimentado antes.
Naquela semana, após um longo e exaustivo plantão no hospital, Lydia estava pronta para ir para casa. Ao sair da sala dos enfermeiros, ela viu seu celular vibrar e sorriu ao ler a mensagem de João: "Ainda no hospital? Estou aqui na frente com uma surpresa. Você consegue vir me encontrar?"
Mesmo cansada, Lydia ajeitou o cabelo, verificou a roupa e se dirigiu à entrada do hospital. Ao sair, avistou João encostado no carro, com um sorriso de quem guarda um segredo. Ele segurava uma caixa nas mãos, e o sorriso caloroso que ele lhe lançou foi suficiente para derreter qualquer resquício de cansaço.
― Espero não estar te tirando do descanso merecido depois de um plantão tão longo ― ele disse, estendendo a mão para ela.
Lydia segurou a mão dele, e um arrepio suave percorreu seu corpo ao sentir o toque quente. Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas apreciando a companhia um do outro, antes de ela responder:
― Na verdade, você chegou no momento perfeito. Eu precisava de um pouco de paz ― disse, sorrindo.
João retribuiu o sorriso, e com um olhar enigmático, abriu a porta do carro para ela. Durante o trajeto, ele manteve o destino em segredo, respondendo a cada pergunta dela com um leve sorriso e um "você vai ver". O mistério apenas aumentava a ansiedade de Lydia, que não conseguia conter a expectativa crescente.
Após alguns minutos, João finalmente estacionou o carro em frente a uma praia quase deserta. O céu estava tingido pelos tons alaranjados e rosados do fim de tarde, e o som das ondas quebrando suavemente na areia parecia criar um ambiente quase mágico. Ele saiu do carro, abriu o porta-malas e pegou um cobertor e uma cesta de piquenique.
― Pensei que podíamos passar um tempo só nós dois ― disse João, estendendo o cobertor na areia e ajeitando a cesta ao lado. ― Acho que já faz um tempo desde que conseguimos ficar a sós. Estamos sempre rodeados de pessoas, e eu queria te ter só para mim hoje.
Lydia sorriu ao ouvir as palavras dele, tocada pela atenção e pela gentileza. João sempre conseguia enxergar além, perceber as necessidades dela mesmo antes que ela própria as reconhecesse.
― Você não faz ideia do quanto eu estava precisando disso, João ― disse, sentando-se ao lado dele no cobertor. ― Essa semana foi especialmente difícil no hospital. Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo... Estar aqui com você, sem ninguém por perto, é tudo o que eu poderia desejar.
Eles se acomodaram lado a lado, observando o horizonte enquanto o sol descia lentamente. João tirou da cesta algumas frutas e uma garrafa de suco gelado, servindo-a com cuidado. Lydia notou que ele havia pensado em cada detalhe, e o coração dela se encheu de gratidão.
Enquanto comiam, João começou a falar sobre sua infância, compartilhando histórias sobre os dias que passava na praia com o pai e os irmãos. Ele contava com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos, como se revivesse aqueles momentos de alegria e liberdade.
― Para mim, essa praia é como um santuário ― disse ele, olhando para o mar com um ar de nostalgia. ― Meu pai sempre nos trazia aqui nos finais de semana. Vínhamos acampar, nadar, passar a noite olhando as estrelas... Este lugar guarda muitas lembranças. E agora, com você, elas ganham um novo significado.
Lydia o observava atentamente, absorvendo cada palavra. Ela podia sentir o peso das lembranças e o carinho que ele tinha por elas. Segurou a mão de João com delicadeza, oferecendo apoio silencioso, e ele sorriu, retribuindo o aperto com firmeza.
― Eu admiro tanto isso em você, João ― disse Lydia suavemente. ― A forma como valoriza sua família, sua cidade, suas memórias. Isso tudo me faz querer estar ainda mais ao seu lado, compartilhar essa vida com você.
João a olhou nos olhos, tocado pela sinceridade nas palavras dela. Por um momento, ele hesitou, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. Então, com um sorriso tímido, respondeu:
― E eu também quero compartilhar isso com você, Lydia. Ter alguém ao meu lado para dividir o peso, alguém que me entende, faz toda a diferença.
Ele a puxou para um abraço, e Lydia se aninhou no peito dele, sentindo-se envolvida pela presença calorosa. O mundo ao redor parecia desaparecer, deixando apenas o som suave das ondas e o calor do corpo dele junto ao seu.
Após algum tempo em silêncio, aproveitando a companhia um do outro, eles se sentaram novamente e ficaram olhando o céu, agora tingido por tons de laranja e roxo. Lydia recostou a cabeça no ombro de João, e ele começou a falar mais sobre o pai, sobre o que significava para ele ser prefeito e o peso que sempre carregara desde a perda da figura paterna.
― Meu pai era um homem que acreditava profundamente nas pessoas e no poder de fazer o bem. Ele queria que nós, a família Campos, sempre estivéssemos a serviço de nossa comunidade. Desde que ele se foi, eu carrego esse compromisso. Mas, às vezes, a responsabilidade parece pesada demais. Por muito tempo, Lydia, eu enfrentei tudo isso sozinho. Agora, com você aqui... sinto que posso compartilhar esse peso, que não preciso mais suportá-lo sozinho.
Lydia ergueu a cabeça e olhou para ele com os olhos marejados. Segurou a mão de João com ainda mais força e, com uma voz suave, disse:
― Eu estou aqui para o que precisar, João. Sei que a sua missão é difícil, mas quero estar ao seu lado em cada momento.
João a olhou, com uma intensidade no olhar que lhe transmitia o quanto suas palavras significavam para ele. Havia uma força silenciosa entre os dois, uma conexão que transcendia o comum.
Ao final da noite, João a acompanhou até a porta de casa. Ele a segurou em um abraço apertado e, antes de se despedirem, colocou as mãos no rosto dela e, com um tom de voz cheio de ternura, disse:
― Você transformou a minha vida, Lydia. Estar com você é o que me faz querer seguir em frente.
Ela sorriu, emocionada, e respondeu:
― A aventura de estar ao seu lado é a maior alegria que eu poderia imaginar.
Eles trocaram um beijo longo, cheio de significado. E, ao fechar a porta de casa, Lydia se recostou, com o coração batendo acelerado, sabendo que estava vivendo um momento único ao lado de alguém que realmente fazia tudo valer a pena.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caminhos Cruzados- João Campos
RomanceLydia, uma jovem enfermeira de 25 anos, decide deixar o interior de Minas Gerais para buscar uma nova vida na capital de Pernambuco, Recife. Recém-chegada, ela assume seu novo emprego em um hospital da cidade, sem imaginar como sua vida mudaria dras...