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.Naquela noite, Lydia mal conseguiu dormir. O pensamento de que iria encontrar João Campos novamente no evento a deixava inquieta, com o coração acelerado, sem motivo aparente. "Não faz sentido", repetia para si mesma. Ele era apenas uma figura importante e com certeza teriam milhares de garotas, principalmente as mais jovens, querendo estar no lugar dela,ela, apenas uma enfermeira que o tinha atendido por acaso. No entanto, a insistência dele, o convite tão pessoal, criava uma expectativa que ela não sabia ao certo como lidar.
Quando o sábado finalmente chegou, Lydia se sentiu dividida. Passou o dia tentando se distrair com tarefas domésticas e, como de costume, revisou alguns prontuários que trouxe do hospital para se preparar para a semana. Mas, no fundo, sabia que estava apenas tentando evitar o nervosismo crescente em seu peito.
O fim da tarde trouxe o crepúsculo suave de Recife, e a cidade, que já era movimentada, parecia pulsar com vida. Olhando pela janela, Lydia respirou fundo. Já estava decidida a ir ao evento, mas não sabia o que vestir. Era uma ocasião formal, afinal, e ela mal conhecia a etiqueta social da alta classe da cidade. Vasculhou suas poucas roupas no guarda-roupa até encontrar um vestido simples, azul-marinho, que sua mãe lhe dera antes de partir. Não era chamativo, mas tinha um toque de elegância que ela achou apropriado.
Ao chegar ao local do evento, uma casa de recepções elegante no bairro das Graças, Lydia sentiu o glamour à sua volta. A fachada imponente do lugar, as luzes cintilantes e os carros de luxo que chegavam um após o outro a fizeram sentir-se fora de lugar. Ela hesitou por um momento, mas logo lembrou de seu propósito ali: criar novas oportunidades, conhecer pessoas e, quem sabe, finalmente sentir-se parte daquela cidade.
Logo ao entrar, foi recebida pela música suave de uma banda ao vivo e por uma multidão de rostos sorridentes, todos parecendo já se conhecer. Pegou uma taça de vinho da bandeja de um garçom que passava e começou a caminhar pelo salão, tentando não chamar muita atenção.
Não demorou muito para que João Campos a notasse. Ele estava no centro de um pequeno grupo, rindo e conversando, mas quando a viu, o sorriso se ampliou. Ele se aproximou com passos firmes, cumprimentando alguns convidados pelo caminho, até parar à frente de Lydia.
— Lydia! Que bom que veio. Fico muito feliz — disse ele, com uma voz calorosa e um olhar que parecia atravessá-la. — Estava esperando para vê-la.
Ela tentou esconder o nervosismo com um sorriso tímido.
— Obrigada pelo convite, João . Fiquei honrada, mas quase não vim. Achei que seria um pouco fora do meu ambiente — confessou, tímida e rindo leve
João deu uma risada baixa, relaxada, como se estivesse à vontade ao lado dela.
— Aqui, todos estão no mesmo barco, Lydia. Além do mais, você já fez tanto por mim. Foi o mínimo que eu poderia fazer. Por favor, aproveite a noite. Há muitas pessoas interessantes que eu gostaria que você conhecesse.
Antes que ela pudesse responder, ele já a conduzia pelo salão, apresentando-a a várias figuras influentes. Empresários, políticos, profissionais de saúde renomados... Lydia se viu em meio a conversas que giravam em torno de projetos sociais, política local e desenvolvimento urbano. Embora não estivesse acostumada a esse tipo de ambiente, percebeu que era mais fácil do que imaginara participar das conversas. Sua educação e suas experiências no hospital lhe davam conteúdo para contribuir, e a presença do prefeito ao seu lado facilitava as coisas.
Em determinado momento, os dois ficaram sozinhos, próximos a uma grande janela que dava para o jardim iluminado. João se virou para ela, com uma expressão mais séria.
— Sabe, Lydia, é raro encontrar alguém tão dedicada e eficiente quanto você. Fiquei impressionado desde o momento em que você cuidou de mim no hospital — disse ele, com os olhos fixos nos dela.
Ela sentiu o calor subir pelo rosto e desviou o olhar, sem saber como reagir. As palavras dele, embora elogiosas, traziam um tom que ela não sabia decifrar, principalmente pelo fato de ele ter a conhecido a tão pouquíssimo dias. Mais havia algo mais naqueles olhos, algo que a deixava alerta, mas também intrigada.
— Eu só estava fazendo meu trabalho — respondeu, com humildade.
— Talvez. Mas algumas pessoas fazem mais do que apenas o trabalho. E você parece ser uma dessas pessoas — disse ele, inclinando-se ligeiramente em sua direção, como se quisesse que ela realmente entendesse o que ele estava dizendo.
Lydia sorriu, mas antes que pudesse responder, uma voz surgiu atrás deles, quebrando a tensão do momento. Era a assistente do prefeito, que se aproximava com um sorriso no rosto.
— Prefeito, estão te esperando para o discurso — disse ela, lançando um olhar curioso para Lydia.
João assentiu, mas antes de se afastar, pegou a mão de Lydia por um breve instante.
— Fique por perto. Prometo que volto logo.
E então ele se foi, deixando-a sozinha mais uma vez. Lydia observou enquanto ele se dirigia ao palco, onde faria o discurso, e sentiu uma onda de alívio misturada com uma estranha ansiedade. O que exatamente estava acontecendo ali? Por que aquele homem, tão envolvido em uma vida pública cheia de compromissos, parecia tão interessado nela? Seria apenas gratidão ou havia algo mais?
Enquanto essas perguntas circulavam em sua mente, ela percebeu que não teria respostas fáceis. Mas, de uma coisa ela sabia: sua vida em Recife estava mudando mais rápido do que ela imaginava.
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Caminhos Cruzados- João Campos
RomansaLydia, uma jovem enfermeira de 25 anos, decide deixar o interior de Minas Gerais para buscar uma nova vida na capital de Pernambuco, Recife. Recém-chegada, ela assume seu novo emprego em um hospital da cidade, sem imaginar como sua vida mudaria dras...