Na manhã seguinte, Lydia chegou ao hospital mais cedo que o habitual, sentindo uma mistura de ansiedade e determinação. As lembranças da noite anterior ainda a acompanhavam: o olhar aflito de João, a fragilidade de Miguel, e a sensação de estar realmente fazendo a diferença. Com um novo foco, ela se preparou para o dia, decidida a acompanhar de perto a evolução do tratamento de Miguel.
Assim que entrou na enfermaria pediátrica, encontrou Renata sentada ao lado da cama do filho, segurando a mão dele com ternura. Miguel estava mais calmo, respirando com mais facilidade graças ao oxigênio. Lydia se aproximou, sorrindo para mãe e filho.
— Bom dia, Miguel! Como você se sente hoje? — perguntou, ajustando os monitores.
— Melhor, eu acho — respondeu Miguel, a voz ainda um pouco fraca, mas com um brilho nos olhos.
— Isso é ótimo! Vamos continuar assim, tá bom?— Lydia incentivou, enquanto Renata agradecia com um olhar.
Naquele momento, o foco de Lydia era Miguel, mas sua mente estava dividida. O que seria de João? Ele havia saído na madrugada, ainda tão preocupado e vulnerável. Ao terminar suas tarefas, decidiu verificar se João estava por ali.
Enquanto caminhava pelo corredor, Lydia avistou uma figura familiar na recepção. João estava sentado, com a cabeça baixa e um semblante cansado. Quando ele percebeu a presença de Lydia, levantou os olhos, e seu rosto se iluminou com um sorriso que, apesar da exaustão, parecia sincero.
— Bom dia, Lydia. Como está o Miguel? — ele perguntou, levantando-se rapidamente.
— Está melhorando. A equipe está fazendo um ótimo trabalho. Ele já está respirando melhor e parece mais confortável — respondeu Lydia, sentindo um alívio ao ver João tão preocupado, mas esperançoso.
João assentiu, um peso visivelmente aliviado de seus ombros. Foi quando, em meio à conversa, uma mulher elegante, acompanhada por dois seguranças, entrou no hospital. João virou-se rapidamente, e Lydia notou a tensão em seu rosto.
— Ele chegou — murmurou João, quase para si mesmo.
A mulher se aproximou, e ao se aproximar de João, Lydia percebeu que era Pedro Campos, o irmão de João, um deputado federal que ela conhecia apenas de nome. Ele tinha uma presença leve e os olhos demonstravam um carinho genuíno por Miguel.
— Oi, irmão! — disse Pedro, abrindo os braços para um abraço. — Como você está? E o Miguel?
— Está melhorando, mas ainda precisa de cuidados — João respondeu, sua voz carregada de preocupação.
Pedro olhou para Lydia, que se apresentava como a enfermeira responsável por Miguel. Ela se apresentou rapidamente, notando a intensidade da expressão de Pedro.
— Obrigado por cuidar do meu irmão — disse Pedro, a gratidão clara em sua voz. — Eu não sabia que ele estava aqui até agora. Fiquei preocupado com vocês.
— Nós estamos fazendo o melhor que podemos. Miguel é forte e já está respondendo bem ao tratamento — Lydia respondeu, com um sorriso.
Enquanto a conversa fluía, Lydia percebeu que João estava ao lado, ouvindo atentamente, mas ainda preso em seus pensamentos. O olhar de Pedro era protetor, e ela pôde sentir a conexão que existia entre os irmãos. Mas também notou uma certa fragilidade em João, que parecia precisar de apoio.
— Bom, acho que já vou indo— falou Lydia, decidindo quebrar o silêncio que se instalara entre eles.
— Espera! Eu só... estou tentando processar tudo isso. O Miguel sempre foi um menino forte,mas é difícil ver ele assim — João admitiu, a voz embargada.
— É normal sentir isso. E é importante que você também cuide de si mesmo — Lydia disse, suas palavras carregadas de empatia. — Você pode se sentir um pouco mais tranquilo sabendo que ele está recebendo o melhor atendimento.
João respirou fundo, tentando se recompor, e um leve sorriso surgiu em seu rosto. — Obrigado, Lydia. Às vezes, só preciso de alguém que entenda o que estou passando.
Enquanto a conversa continuava, Lydia percebeu que havia algo especial naquela família. O amor que João e Pedro tinham por Miguel era inegável, e isso a deixava completamente o coração quentinho. A proposta de João sobre o projeto de saúde ainda ecoava em sua mente, mas agora com uma nova perspectiva. Ela via um futuro no qual poderia fazer ainda mais, não apenas como enfermeira, mas como parte de algo maior.
Pedro, embora preocupado com Miguel, rapidamente se lembrou de seus compromissos e agradeceu a Lydia pelo cuidado. Ele prometeu que voltaria assim que possível e fez questão de dizer a João para não hesitar em ligar caso precisasse de algo.
Com a saída de Pedro, o hospital parecia voltar ao seu ritmo habitual. João e Lydia trocaram olhares, e ela percebeu que, apesar das dificuldades, uma nova conexão estava se formando entre eles.
— Lydia, eu realmente aprecio tudo o que você fez. Você não tem ideia de como isso significa para mim — disse João, agora mais relaxado.
— É o que eu faço. Estou aqui para ajudar — respondeu ela, com sinceridade. — E, acima de tudo, estou aqui por você e pelo Miguel.
Aquelas palavras soaram como um compromisso, um laço que começava a se fortalecer. Lydia se despediu de João, prometendo voltar para verificar como Miguel estava se saindo.
Ao passar todo o plantão, ela não pôde evitar pensar em como aquele dia, com todas as suas complexidades emocionais e a conexão que estava se formando, poderia mudar não apenas o curso da vida de Miguel, mas também o dela e de João. O peso da noite anterior foi substituído por uma nova esperança, e, à medida que avançava pelo corredor do hospital, Lydia percebeu que estava mais conectada àquela família do que jamais imaginara.
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Caminhos Cruzados- João Campos
RomanceLydia, uma jovem enfermeira de 25 anos, decide deixar o interior de Minas Gerais para buscar uma nova vida na capital de Pernambuco, Recife. Recém-chegada, ela assume seu novo emprego em um hospital da cidade, sem imaginar como sua vida mudaria dras...