10/12/24
Depois da viagem a Belo Horizonte, onde João conheceu a família de Lydia, o casal voltou para Recife com uma nova perspectiva sobre o relacionamento. A experiência trouxe uma sensação de unidade e estabilidade entre os dois. Lydia sentia que aquela visita tinha reforçado o elo entre eles, mas, ao retornarem à cidade, a rotina e as pressões da vida de João como prefeito logo se fizeram sentir.
João estava em seu segundo ano de mandato, o que significava que o ritmo na prefeitura havia se intensificado. Os projetos que antes estavam em fase de planejamento agora demandavam implementação e resultados. Seu compromisso com a cidade era visível, mas, ao mesmo tempo, o peso das responsabilidades o deixava cada vez mais exausto. Lydia percebia as mudanças no parceiro: as olheiras mais profundas, o semblante concentrado, e uma postura que refletia o desgaste de conciliar a gestão pública com a vida pessoal.
Em uma noite, Lydia preparou um jantar simples para eles. Enquanto esperava João, lembrou-se dos momentos em Belo Horizonte, onde ele se mostrava descontraído, e desejou que ele pudesse relaxar mais uma vez. Quando João finalmente chegou, já passava das nove da noite, e ele estava visivelmente cansado. Lydia notou o jeito com que ele pousou a pasta com documentos sobre o sofá, suspirando como se estivesse exaurido.
― Senti sua falta hoje ― Lydia disse, abraçando-o e observando-o com um olhar cuidadoso.
Ele retribuiu o abraço, mas Lydia sentiu que ele estava distante, ainda com a cabeça nas questões da prefeitura.
― Eu também senti a sua, Lyd. Hoje o dia foi uma loucura. ― Ele suspirou e olhou para ela, tentando abrir um sorriso, mas os olhos demonstravam cansaço. ― Obrigado por me esperar para o jantar.
Enquanto comiam, Lydia observava o quanto ele parecia absorto. Tentou puxar conversa sobre assuntos leves, mas João respondia de forma distraída, claramente preocupado com algo que não queria compartilhar. Depois de alguns minutos em silêncio, Lydia decidiu abordar a questão.
― João, o que está acontecendo? Posso ver que você está mais sobrecarregado do que o normal. Isso me preocupa.
João suspirou, colocando os talheres sobre o prato e passando a mão pelo rosto.
― Desculpa, Lyd. Eu não queria te preocupar, mas... a situação na prefeitura tem sido complicada. Algumas decisões que precisamos tomar para avançar em projetos importantes têm sido dificultadas por questões políticas e burocráticas. E a pressão para mostrar resultados concretos só aumenta. Às vezes, sinto que não estou conseguindo dar conta de tudo.
Lydia segurou a mão dele, passando uma energia reconfortante.
― Como eu sempre falo,você não precisa carregar tudo isso sozinho, João. Eu sei o quanto você se dedica a Recife, mas também precisa de um momento para cuidar de si mesmo. Não vou te deixar enfrentar isso sozinho.
João respirou fundo e sorriu, grato pela compreensão de Lydia. Ele sabia que ela estava ao seu lado incondicionalmente, mas as exigências do cargo o faziam questionar se conseguiria conciliar o compromisso com a cidade e a relação que tanto prezava. Ele segurou a mão dela com firmeza, como se buscasse uma força que só encontrava ali.
Depois do jantar, decidiram caminhar pela praia, algo que raramente conseguiam fazer. Sob o céu estrelado e a brisa noturna, João começou a se sentir um pouco mais leve. Lydia andava ao seu lado, observando o mar e, finalmente, João se permitiu relaxar, tirando a gravata e desabotoando o colarinho da camisa.
― Sabe, Lyd, eu tenho pensado muito sobre o nosso futuro. Às vezes, no meio de tudo isso, só consigo pensar que quero você ao meu lado, para sempre. ― Ele parou, olhando para ela. ― Penso em como seria construir uma vida juntos, até mesmo uma família.
Lydia ficou surpresa e ao mesmo tempo emocionada com as palavras dele. Um sorriso se abriu em seu rosto enquanto ela segurava as mãos dele.
― Eu também penso nisso, João. Quero estar ao seu lado para tudo. Sei que sua vida é complicada, mas não tenho dúvidas de que quero fazer parte dela, seja qual for o caminho.
Eles continuaram a caminhar, conversando sobre o que gostariam de construir juntos, e, de alguma forma, aquele momento tornou o vínculo entre eles ainda mais sólido. Ao voltarem para o apartamento, João percebeu que as pressões do cargo ainda estariam ali na manhã seguinte, mas saber que tinha Lydia ao seu lado tornava o desafio menos árduo.
Nos dias que seguiram, João se esforçou para equilibrar melhor seu tempo, buscando pequenos momentos de descanso ao lado de Lydia. Certa noite, depois de um longo dia de reuniões, ele a surpreendeu com um jantar no terraço do prédio, onde preparou uma refeição simples, mas feita com carinho.
― Hoje, queria te agradecer, Lyd. Por cada palavra, por cada gesto. Você tem sido meu porto seguro, minha base. Sinto que só consigo enfrentar tudo isso porque sei que tenho você.
Lydia sorriu, sentindo-se tocada pelas palavras dele, e respondeu com sinceridade:
― João, é exatamente assim que me sinto. O que temos é algo que me dá forças, mesmo nos dias mais difíceis. Sei que nossa vida não é simples, mas sei também que juntos somos mais fortes.
O tempo que passavam juntos era precioso, um alívio em meio às exigências de suas rotinas. João sabia que o caminho até o fim do mandato ainda traria muitos desafios, mas com Lydia ao seu lado, sentia-se preparado para enfrentá-los. Aqueles momentos de cumplicidade e apoio mútuo eram a base do que construíam juntos, uma relação que ia além do amor e se tornava uma parceria verdadeira.
Naquela noite, eles dormiram de conchinha, e João soube que, independentemente do que o futuro trouxesse, havia encontrado em Lydia mais do que uma namorada. Ela era sua companheira, sua confidente, a mulher com quem desejava compartilhar cada parte de sua vida.
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Caminhos Cruzados- João Campos
RomanceLydia, uma jovem enfermeira de 25 anos, decide deixar o interior de Minas Gerais para buscar uma nova vida na capital de Pernambuco, Recife. Recém-chegada, ela assume seu novo emprego em um hospital da cidade, sem imaginar como sua vida mudaria dras...