A Vilã

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— Mas o quê…? — Davi se virou abruptamente, só a tempo de ver Emily dando uma tragada naquela droga. Entrou em pânico. A menina começou a se engasgar, enquanto a fumava deixava seus lábios. Ele deu um tapa na sua mão, derrubando o cigarro no chão, apagando-o na umidade da calçada. 

— É ruim, é muito ruim! — dizia ela, entre tosses, sentindo uma leve dor de garganta. 

Davi colocou a mão na cintura.

— Você perdeu a cabeça?! — gritou, como se desse uma bronca numa criança. — Nunca mais faz isso, ouviu? — Ela começou a chorar, assustada com os gritos. Ele segurou em seus braços e a sacudiu de leve. — Qual o seu problema, sua idiota? Não sabe que essa porcaria pode viciar na primeira vez que a pessoa fuma? O que você quer, hein? Que droga, Emily! Não faz isso comigo, não faz isso com você mesma! Que saco, que droga! 

— Eu queria fazer parar! Eu precisava que meus pensamentos me deixassem em paz! Queria fazer a dor sumir! V-você disse que a droga fazia a crise sumir! 

— Ah, que saco — sussurrou ele, para si mesmo. Depois disse para a menina: — Você não, Emily! Você não precisa disso, idiota! Você tem Jesus, o amor da sua vida, lembra? Por favor, me diz que se lembra dele! — Ela olhava para o chão e chorava como criancinha. Davi olhou para os homens ao lado e percebeu que a cena estava chamando atenção deles. — Você não pode ficar aqui. Vamos. — Agarrou em seu punho e a arrastou para longe. 

Emily coçou o olho.

— Eu sou uma inútil, não sirvo pra nada. Ninguém me ama! — dizia. Davi se viu atormentado por suas palavras, não fazia ideia de onde a menina tirou essas crenças. — Eu tô tão cansada. Eu tô sozinha! 

Ele bufou. 

— Dane-se. — Pegou-a no colo como se ela fosse uma sacola de compras e começou a andar mais rápido. — Você não tá sozinha, ouviu? 

O corpo dela amolecia, perdendo as forças.

— Eu sou um lixo.

— Você é incrível. Para de acreditar nessas coisas. Quem envenenou sua cabeça? 

Ela não respondeu, ficou chorando e fungando até o rapaz colocá-la sentada no banco de uma praça. A menina se encolheu no lugar e observou o ambiente, cheio de luminárias, crianças brincando em escorregadores e cangorras. Olhou mais adiante e viu um carrinho de pipoca ao lado de outro banco.

— Acho que conheço esse lugar. 

— Foi pra cá que eu te trouxe quando você tentou se matar naquela rua perigosa.

— Não tentei me matar. Foi um engano. 

Ele deu de ombros. Depois enterrou a cabeça nas mãos. 

— Mano, se você viciar na maconha acho que eu me mato. Que droga, Emily! Não faz mais uma loucura dessas! Você surtou demais, passou de todos os limites. Não quero você metida com essas paradas. É um caminho sem volta! Você quer me deixar louco, né? Não pode colocar aquilo na boca nunca mais! Não seja igual a mim, por favor. 

— Você disse que influenciava as pessoas.

— É, e não me orgulho disso. Talvez tivesse fumado com você se estivesse alucinado quando você chegou. Ainda bem que eu tinha acabado de acender o baseado. 

— Tinha um gosto ruim. 

— Acho ótimo que pense assim e torço para que não tenha viciado. 

Ela se encolheu e coçou o braço.

— Eu tô sozinha.

— Para de falar besteira.

— É sério. Minha cabeça ficou escura, como se tivesse faltado energia. E eu sinto tanto frio. Não importa pra onde eu olhe, os meus erros estão lá, apontando o dedo na minha cara. Eu me sinto tão desprezada e rejeitada por todos. 

A Vilã [Editando]Onde histórias criam vida. Descubra agora