Capítulo 23

17 3 10
                                    

"No coração do vazio, a jovem Naelyra descobre que nem mesmo o caos pode escapar dos segredos e da desordem."

{00:00/03:43 – Lullaby of the Giants - Bear McCreary}

Batimentos cardíacos, era tudo que Lyra conseguia ouvir — batimentos serenos e constantes, ao abrir seus belos olhos azuis, a jovem ruiva olhou ao redor, certa de que tinha ido parar em Helheim, pois o sangue dos inimigos que havia derramado lhe negaria um lugar em Valhala, mas, para sua surpresa, a origem daquele som era outra, sua cabeça estava repousada sobre o peito de Loki, e era dali que os batimentos vinham.

Suas pupilas dilataram levemente com a visão, surpresa e confusão lutando em seu olhar, Loki também começou a despertar, piscando lentamente enquanto retomava os sentidos, num impulso, Lyra rapidamente se ergueu, sentando-se ao seu lado, para que ele não tivesse a impressão errada ao encontrá-la com a cabeça apoiada em seu peito — consequência do abraço desesperado que lhe deu antes de serem podados.

Afinal, que lugar era aquele?

O ambiente ao redor se assemelhava à uma versão distorcida, com torres partidas e fragmentos de arquitetura espalhados, como se o local tivesse desmoronado e sido esquecido há eras, um céu de cores tempestuosas, misturando tons de cinza e branco, pairava sobre eles.

Quatro variantes os observavam à uma curta distância, e Lyra sentiu um calafrio ao notar que uma delas era um jacaré, usando um pequeno chifre dourado característico de Loki, eram versões alternativas do próprio Deus da Trapaça, e embora a visão fosse estranha, nenhuma delas parecia hostil ou ameaçadora para com eles.

Acima deles, numa distância segura, uma nuvem roxa e pulsante flutuava sobre a grama verde, irradiando uma aura opressiva, a dupla logo tinha uma certa noção de onde podiam estar, Lyra havia visto algo sobre ou poderia ter sonhado com isso, o Vazio — um espaço esquecido e amaldiçoado, para onde os podados pela AVT eram enviados, o ar cheirava à fuligem, carregando a umidade de uma tempestade recente, ruínas de construções antigas e decadentes se espalhavam por todo o terreno, testemunhas mudas de eras destruídas.

— Que lugar é esse? Onde estamos? Quem são vocês? — Loki questionou, com a desconfiança estampada no rosto, afinal, isso fazia parte de sua natureza.

Uma das variantes, um Loki mais velho vestindo uma roupa amarela com tons de verde desbotados, deu um passo à frente, seus olhos mostravam a experiência de quem já havia visto e sobrevivido a coisas inimagináveis.

— Este é o Vazio, e aquilo — apontou para a nuvem roxa flutuante — é Alioth, e nós? Somos o almoço dele, se não nos mexermos, agora, vamos!

Sem esperar resposta, o Loki mais velho deu um empurrão no ombro de seu "eu" mais jovem, incentivando-o a seguir o curso, as outras variantes já estavam se movendo rapidamente, afastando-se do perigo iminente, enquanto a nuvem ameaçadora pairava mais perto.

Após longos minutos de caminhada, Lyra parou, com a respiração irregular e o suor escorrendo pela testa, sua visão começava a turvar, e o peso em seu peito era quase insuportável, quando não aguentou mais, ela caiu de joelhos e tossiu violentamente, o som cortando o ar e interrompendo a conversa que mais se assemelhava com uma discussão dos Lokis à frente, uma minúscula poça de sangue manchava o solo à sua frente, destacando-se contra o cenário desolado.

– Lyra! – Loki gritou, correndo até ela com um olhar de pânico que ele tentava esconder por trás de sua expressão controlada.

A ruiva tentou levantar a mão, balançando-a no ar como se quisesse afastar sua preocupação, seu rosto estava pálido, e um sorriso fraco, quase sarcástico, formava-se em seus lábios.

A Adaga e o DiamanteOnde histórias criam vida. Descubra agora