Ainda estou acordada. Sinto que estou sóbria. As vozes estão muito altas. Eu vejo um monte de facas. Não são reais. Não sinto minhas mãos. Mas eu não vou abrir a porta. Sem remédios. As vozes vão tomar conta. Não importa a dor. O papai não vai sofrer. Essa porta não vai abrir.
Eu sei o quanto estou errada. Eu sei disso. Nada do que eu faço é certo. Sei como termina. Se eu morresse trancada, seria meu único acerto. Só queria deixar o papai em paz. Se eu abrir a porta, vou ter que tomar meus remédios, mas ele vai ficar comigo. Não quero entristecer ele. Ele estava feliz. Ele precisa ficar feliz. Eu vou resistir o quanto puder. Quando eu não aguentar mais. As vozes vão me machucar. Ele vai perceber. Ele sabe. Mas ele precisa estar bem.
Eu sinto muita dor. Minha cabeça parece querer explodir. Eu não sinto minhas mãos. Não sei quanto vou me machucar, mas não chega perto da dor de dormir. As vozes estão ficando mais altas. Eu não aguento mais chorar. Eu vejo sangue por todo lado. Talvez não seja alucinação. Só uma visão de quando eu perder a cabeça outra vez. Tudo isso não serve de nada. É só minha mente brincando comigo. Me torturando. Eu sei que vou chatear meu pai. E que vou pro hospital denovo. Já chega de machucar o papai. Não importa o quanto eu tente. Nunca vai mudar.
Eu vou parar de resistir. Quando eu fechar os olhos. Espero acordar sozinha. É ridículo. Não vai acontecer. Eu só errei denovo. Como sou burra. O mesmo truque. Todas as vezes. Desculpa pai. Me desculpa. Me desculpa. Que idiota. Eu devia morrer. Idiota. Idiota. Me. Perdoa. Não queria ser assim.
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Meu Diário
Non-FictionMe chamo Ana. Tento relatar sobre a minha vida como costumava fazer no meu antigo diário físico. Não há coisas boas para se ler neste diário.