Nem sempre só em livros as coisas mudam de repente. Isso é mais real do que parece.João não falou mais com Pedro, depois do que aconteceu naquela noite. E isso já fazem quase duas semanas.
Duas semanas de férias. Duas semanas que João nem sequer responde uma mensagem de Pedro.
Não é como se ele tivesse mal, Pedro supõe, afinal, a cidade é pequena, eles se esbarraram umas três vezes por aí, e o outro sempre parece estar bem. Por sua janela, pôde ver João passar sorrindo em frente à sua casa, algumas poucas vezes.
Ele só se pergunta o que fez de errado.
Os primeiros dias pareciam arrastados, torturados, quase imóveis. Ao final de cada dia, Pedro esperava a noite virar novamente, na esperança de que, na manhã seguinte, o céu vibrasse com uma mensagem de João, no WhatsApp.
Desistiu dessa espera depois dos quatro primeiros dias.
Amanhã já se inciam as aulas, e ele não sabe como vai olhar para João.
Esses últimos dias têm sido tão pesados, que Pedro decidiu finalmente praticar de verdade o violão. Tem dedicado tanto tempo à isso que vai bem melhor do que achou que realmente seria.
Está há quase duas horas no seu quarto, praticando, vendo o dia se ir e a noite chegando.
Ele decide descer e procurar alguma coisa para comer, embora não esteja com fome. Está se obrigando a isso.
Pedro se culpa, às vezes. Se culpa por se sentir mal por isso, acha que não deveria, não teria sentido.
— Filho — Ana diz, o assustando um pouco, pois não tinha visto ela —, posso te fazer uma pergunta?
— Claro — ele força um sorriso. Sabe que isso é em vão.— Por que não tenho visto você falar com o João, ultimamente? — ela pergunta. Pedro nunca achou que uma pergunta fosse o ferir tanto.
— Eu não sei... — ele diz com a voz arrastada.
— Como assim não sabe? — ela pergunta, confusa.
— Eu só não sei. Ele simplesmente parou de falar comigo. Não responde minhas mensagens, não atende minhas ligações. E eu desisti de tentar depois do quarto dia ignorado — Pedro dá de ombros, pressionando os lábios, segurando os lágrimas que fazem menção de sair.Ana vai até a sala e senta no sofá, fazendo um gesto para que seu filho também o fizesse.
Pedro não se opõe. Ele vai até o sofá e se deita com a cabeça no colo de sua mãe, olhando para o teto, esperando qualquer coisa que ela tivesse a dizer.
— Se eu perguntar uma coisa, você promete ser sincero comigo? — Ana pergunta, fazendo cafuné no cabelo de Pedro.
— Tá bem — ele responde. Pedro sabe que, quando sua mãe quer, dificilmente ele escapa de algum assunto.— Eu sei que você gostava do João, você me disse há poucos meses. Não fiquei sabendo de mais nada depois, mas também não insisto, afinal, sua vida íntima é só e unicamente da sua conta. Mas uma pergunta sincera, Pedro: o que você realmente sente por ele?
Pedro fica quieto por quase dois minutos, pensando, mas não sobre o que sente, e sim sobre como falaria aquilo.
— Eu... — ele respira fundo — a verdade é que eu me apaixonei por ele, mãe. É isso. Acho que demorei pra aceitar porque não me parecia possível se apaixonar por alguém com esse tempo. Acho que tentei dizer isso pra ele, há duas semanas, mas ele simplesmente foi embora e não falou mais comigo, depois disso.
Ele pode ver sua mãe sorrir de canto, enquanto parece juntar as palavras em sua mente.
— Meu amor... — Ana começa a falar — acho que no fundo eu já sabia. O João claramente tem algum motivo para ter se afastado, mas com certeza não é não sentir algo por você. As vezes, a cabeça das pessoas fica confusa com o amor, meu bem. Sempre pintam esse sentimento como algo lindo cem por cento do tempo, mas nem sempre é assim. Para algumas pessoas, receber um amor que nunca lhe foi direcionado, é tão surpreso que chega a ser assustador, apavorante.
— Eu tô começando a perceber isso — Pedro dá um sorriso irônico, ainda segurando as lágrimas.
— Só quero que vocês garantam que o que sentem é de verdade, é pra valer, que não vão mais se machucar — ela diz com um sorriso — Eu particularmente acho o que vocês têm muito lindo, mas nada se sustenta se alguém tem medo.— Não depende só de mim — Tófani finalmente permite uma lágrima escorrer.
— Eu sei, meu bem. Mas também não pode depender apenas dele. Tentem conversar. Amanhã vocês voltam à escola, pode ser uma oportunidade.Pedro odeia admitir, as vezes, mas sua mãe está certa.
Parte de seu orgulho o deixa com o pé atrás em relação a isso, mas o que sente, estranhamente, tem se tornado maior do que isso tudo.
Ele e sua mãe conversam por mais quase uma hora, até o momento em que ele decide ir dormir.
Talvez fosse um dia bem longo.
☆ ☆ ☆
Pedro está conversando com Malu e Renan, se atualizando depois de duas semanas sem se verem, apenas trocando mensagens.
Sentados nos mesmo lugares de sempre, esperando o último do grupo.
Tófani apenas sente um frio na barriga ao ver alguém passar ao seu lado, ele sabe que se trata de João.
Romania senta ao lado de Renan, numa terceira fileira, nem sequer olha para Pedro, isso o chateia.
Malu vai para a cadeira ao lado de Pedro.
— O que aconteceu com ele? — ela pergunta baixo.
— Acredite ou não, mas tem duas semanas que não sei nada do João Vitor — Pedro tenta parecer indiferente.
— É o quê?Malu pisca os olhos três vezes, tentando processar o que tinha acabado de ouvir.
— Isso mesmo — Pedro força um sorriso — Seu amigo está há duas semanas sem falar comigo, me ignorando.
— Já tentou conversar com ele? — Malu pergunta, num quase desespero.
— Antes das aulas retornarem? Tentaria, se ele me respondesse — ele respira fundo — Só perdi a paciência.Malu para pra pensar por alguns instantes.
— Olha... — ela começa — hoje vieram pouquíssimos alunos, e não fica ninguém na sala no intervalo. Pode chamar ele pra Cristo aí.
— Se ele quiser me ouvir, né.
— Não tem essa não. Ele quem resolveu sumir do nada, ele tem que ouvir e é calado.
— Relaxa aí, Malu — Pedro não consegue segurar a risada com as alterações de humor de sua amiga.Pedro aguarda as primeiras aulas passarem, e parecem se passar arrastadas.
Por alguns momentos distintos, ele pensa em desistir, não tentar, apenas deixar pra lá. Mas sabe que se fizesse isso, Malu o torturaria pelo resto da vida.
Quando o sinal ecoa pela escola, ele sente seu coração disparar. Renan arrasta Malu para fora da sala, para irem ao encontro de Lucas, assim que o último aluno sai da sala. Deixando apenas Pedro e João lá.
Quando Romania faz menção a levantar, Pedro o interrompe.
— A gente precisa conversar, João — ele diz, levantando de sua cadeira.— Não tenho nada pra falar — João levanta para ir até a porta, mas só se depara com Pedro encostado nela, o impedindo de sair.
— Aí é que você se engana. Você tem muito pra falar, e também tem muito pra ouvir.___________________________________________________________
Só pra avisar: vocês vão lidar com
um drama escrito por uma poetisa.
Chau!Até o próximo capítulo :)
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Suas Linhas | Pejão
RomanceOnde João faz um amigo muito próximo, e logo percebe que talvez queira percorrer cada traço de suas linhas.