Me devora, amor, com a luz acesa

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Pedro passou o resto da semana inteira gravando seus amigos sempre que podia, com uma câmera antiga que tinha em casa, que para a sorte deles, estava em perfeito estado.

Ele sempre revisava as gravações, para saber se alguma deveria ser excluída (afinal, não é como se alguém ali tivesse sanidade mental boa).

Também usavam a câmera do celular, afinal: transição do antigo ao contemporâneo.

Nesse momento, está analisando mais algumas das gravações, enquanto João está sentado à sua frente, fazendo o favor de afinar o violão para Pedro.

— Resolveu realmente adotar os óculos, agora? — Pedro pergunta, deixando a câmera de lado.
— Considerando a dor de cabeça que estava me causando ficar sem eles... achei eficaz — João responde, com um sorriso de canto, entregando o instrumento para o garoto — Pronto. Afinado.

— Estou começando a me arrepender... — Tófani pega o instrumento em mãos — tô com medo de errar na sua frente.
— E você acha que eu sou perfeito o tempo todo, por acaso?
— Ás vezes...
— Nem termina de falar, Palhares.

Pedro ri da reação de João e passa um minuto enrolando, tentando escapar daquilo, até que enfim desiste.

— Olha, eu vou dar uma roubadinha nessa cifra, sou apenas um iniciante curioso, não me julga — Pedro diz — Só dois acordes: Lá com sétima maior, e Ré com sétima maior.
— Não vou julgar, meu bem. Só quero que você toque. Quero ver isso — João apoia o queixo em uma das mãos, ansioso.

Tófani finalmente desiste de argumentar e só se concentra em lembrar da música, quer que isso acabe logo.

Eu vejo tua cara, o teu querer perverso
A gente fica bem aqui no chão da sala
Eu te queria a vida toda, te confesso
Por mim, a gente nem precisa mais da estrada

Eu vejo você longe e quero você perto
Fica na minha sombra, eu posso ser teu rastro
Não quero tu na linha, Vivo, morto ou Claro
Eu quero tu na minha boca
E a minha boca quer você
Quer você

Diga pra mim que é real
Que eu te prometo meu melhor
Fala pra mim o que eu quero ouvir
Que tu sentiu o que eu senti

Me diga agora, por favor
Que eu vou correndo te abraçar
Te quero tanto, é quase dor
É com você que eu quero estar

Se for por mim, vai ser assim
É só você querer

Pra gente, enfim, se amar
Pra gente, enfim, se amar
Pra gente, enfim, se amar
Pra gente, enfim, se amar

Pedro abre os olhos, receoso, quando para de dedilhar os acordes.
— Foi uma opção um pouco clichê, mas eu disse pra não me julgar.

Quando ele finalmente presta atenção, percebe que João está com a câmera apontada para ele.
— Ué, você passou a semana inteira gravando a gente — João diz, antes que Pedro faça qualquer pergunta — Também tem que aparecer, não pense que vou te deixar só na direção.

— É que eu não gosto muito dessas coisas, sabe... — o mais novo responde, sem graça, deixando o violão de lado.

— Eu percebo — João abaixa a câmera — Na verdade, você é lindo, mas vi que quase nunca tira uma foto. Low profile, anjo?
— Digamos que uma das poucas coisas que odeio na vida, é chamar atenção, mas as vezes me dou ao "luxo" digamos assim — ele deixa aspas no ar.

Você quer passar batido, mas pra mim é um foco, João pensa.

Eles se encaram por segundos que parecem minutos, um silêncio quase ensurdecedor instaurado no quarto.

Suas Linhas | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora