Responsabilidade afetiva

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João se vê sem escolha, a não ser parar e ouvir o que Pedro tem a dizer.

— Tudo bem. Quer falar? Fala logo — ele diz, observando Pedro ficar parado na porta.
— Não acha que é você que tem alguma coisa pra falar, não? — Pedro tenta não perder a paciência.
— Eu tenho?

Pedro respira fundo, decidindo que não iria impedir a si mesmo de perder a cabeça, dali em diante.

— Quer dizer que você some da minha vida durante duas semanas, sem nenhuma explicação, e ainda me pergunta se tem algo a dizer, João?
— Bom... — Romania se encosta na parede — eu só vi que não dava mais certo.
— Ah bom, e isso justifica você não ter a decência de nem sequer conversar comigo? — Pedro está com raiva, mas tenta não levantar a voz, pois lembra que estão na escola.

— Não sei se justifica ou não, mas é isso. Não vi mais sentido — João dá de ombros.
— "Mas é isso" o cacete, João Vitor! Você já parou pra pensar em como eu me sinto sobre isso, sobre você?! Porra, você não tem nem vergonha na cara de me dizer uma coisa dessa. Se você pudesse, sei lá, me explicar ao menos o porquê, eu ficaria menos puto com você.

— Não tem explicação.
— Não, é claro que tem, você só não quer me dizer.
— Tudo bem, eu não quero te dizer.
— E você não parou pra pensar que talvez eu quisesse saber?
— Isso não me importa.

Pedro respira fundo e engole à seco.

— Eu nunca achei que diria isso de você, João, mas você é muito irresponsável — Pedro dá um sorriso irônico — Você não pensou, um só minuto, em como eu iria me sentir.
— Meu bem... — João abaixa a guarda.
— Não me chama de meu bem, nem de vida, nem de caralho nenhum — Pedro explode — Você não teve responsabilidade afetiva comigo, João. Porra, te custava? Ou melhor... te custa?!

— Eu quero te explicar, Pedro. Eu só não consigo. Não agora. Simplesmente não dá.
— E se não me explicasse agora, me explicaria quando?! — Pedro simplesmente continua alterado, sentindo as próprias veias pulsarem.
— Eu não sei... — Romania olha para baixo e engole à seco.

— Quer saber? — Pedro respira fundo e passa a mão no cabelo — Eu vou largar de mão, porque aparentemente, você já largou faz um tempo. Você não se importa, não é.
— Se você diz — João diz e pressiona os lábios, querendo que Pedro tome suas próprias conclusões.
— Vai se foder, João Vitor.

Pedro desencosta da porta e sai da sala, indo em direção ao banheiro, precisava lavar o rosto e tentar se acalmar.

Quando ele sai do banheiro, dá de cara com Malu e Renan.
— Querem parar de aparecer igual assombração?

— Não até você contar pra gente tudo o que aconteceu — Renan diz, cruzando os braços.
— Tenho escolha?
— Obviamente não — Malu responde — Anda, vamos pra quadra.

Pedro os acompanha, sem muita escolha. Porém também não queria ter que ligar pros amigos pra anunciar um fim.

Ele senta na arquibancada e observa os amigos sentarem ao seu lado.

— Terminamos — é só o que Pedro diz — Acabou.
— É o quê?! — Renan fica perplexo — Você tá brincando, não é?
— Eu realmente queria estar — Pedro força um sorriso — Mas não. Acabou.

— Depois da gente ter feito vista grossa pra cachorrada de vocês dois?! — Malu diz, percebendo Pedro curioso — Ah, é que todo mundo se fez de desentendido, há duas semanas, quando o João tava cheio de marca de mordida no pescoço.

Pedro não sabe se lembra desse momento com alegria ou com lamentação.

— Bom, vocês conversaram direito? — Malu continua.
— Digamos que ele não quis conversar muito — Pedro dá de ombros — Ele só disse que não dava mais certo, e que queria me explicar, mas não conseguiria fazer isso agora. Enfim, eu sinceramente perdi minha paciência.

— Ah, mas eu vou puxá-lo pelo cu — Renan diz, ainda incrédulo.
— É sério, tentem não se envolver nisso. Não quero que ele pense que eu tercerizei alguma coisa — Pedro pede.
— Somos nós mesmos que queremos uma explicação dele, não é só por você — Malu responde — Enfim, vou deixar passar uns dias. Mas como você tá, Pedro.

— Sendo sincero? — Tófani solta uma risada esbaforida — Destruído. Achava que qualquer pessoa pudesse fazer isso comigo, menos ele. Mas enfim, acontece.

— Acontece é o meu ovo — Malu diz, levemente alterada.
— Você nem tem — Renan arqueia a sobrancelha.
— Exatamente por isso — ela respira.

Pedro ri da situação, se sentindo aliviado por ainda conseguir sorrir, em meio a tudo isso. Ele sabe o quanto irá desabar, mais tarde.

— Olha, eu só quero que você fique bem. Acho que ninguém esperava isso dele, e deve ter algum motivo — Malu diz, fazendo Pedro lembrar do que sua mãe disse, no dia anterior — Bom, talvez, quando você não quiser mais matar ele, vocês possam tentar conversar de verdade, dessa vez.
— Vou pensar nisso — Pedro diz, indiferente. Ele não quer pensar muito em João, no momento.

— Só, por favor... tenta não se afastar da gente por causa disso — Renan pede à Pedro.
— Podem ficar tranquilos — Tófani tem um sorriso fraco no rosto — Vocês não têm nada a ver com nossas desavenças.

Pedro sente alguém pulando na arquibancada, logo atrás dele. Logo escuta a voz de Lucas.
— Pedro, achei que não ia te ver hoje — ele diz com um sorriso — Cadê o João?

Bom, seria mais um para explicar.

Pedro começa a sentir na pele o que sua mãe disse.

Amar não é fácil. Na verdade, é um desafio. É lidar com sua própria versão alterada dentro desse sentimento, e estar ciente de conhecer os erros da outra pessoa.

É saber que coisas como a essa podem acontecer e permanecer intacto. É, por mais que difícil, tentar entender os dois lados da história.

Amar não é não ver os defeitos de uma pessoa, é passar a conhecê-los e amá-la mesmo assim.

Tófani começa a realinhar seus pensamentos, sentindo a raiva sair, restando uma mágoa, tristeza. Apenas desejando que isso passasse.

O amor nunca foi como os trovadores descreveram. Sempre se tratou de um desafio constante.

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Nanda/Maria: *distraindo meus leitores pra vocês não me matarem* Gente, aprendi a tocar Dança pra mim no violão!😁

Até o próximo capítulo :)

Suas Linhas | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora