Triste fim

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~ Henrique.

Sai do carro totalmente desolado, sem chão, destruido por dentro. Certamente eu não era digno de perdão, fui extremamente impulsivo com Bruna durante todo esse tempo. Tivemos anos de sobra para reparar algo ou construir de fato um casamento, mas tudo o que eu fiz foi simplesmente estragar tudo. Sempre preferi o facil do que o dificil. Sempre optei em facilitar tudo a minha volta, e Bruna fazia parte do contexto dificil da historia. Pensar em toda uma logística para atraía-la fez com que eu desistisse e somente procurasse na rua o que eu nunca teria em casa, já que não passaria de um contrato.

Mas cá estou eu, enxugando a beirada do olho que está acumulada por lágrimas que insistiam em cair de tanta mágoa que eu carregava dentro de mim. Culpa. Muita culpa. Eu era merecedor daquele tratamento e vê-la diante de mim tão frágil como naquele carro, me fez perceber uma unica coisa: eu jamais, em toda a minha vida, vou achar alguém como Bruna.

Entrei no prédio pela garagem, indo direto ao elevador que me deixava na porta da sala daquele apartamento. Com minha digital, abri a porta e encontrei Larissa assustada vindo em minha direção.

— Cadê ela?
— Junta suas coisas e vai embora. -eu disse rude.
— Como assim?
— Eu ja tinha conversado com você que não queria mais nada entre nós, mas você insistiu em me ligar e causou toda essa merda.
— A culpa foi sua! -ela apontou o dedo para mim, brava.- Foi você quem me levou pra um quarto escuro dentro da sua casa e fez toda essa porra acontecer.
— Você tambem tem grande parcela de culpa nessa merda! -esbravejei.
— Que se dane!
— Exatamente! Que se dane! Amanhã vou assinar o divorcio e quero você longe daqui e da minha vida, olha a passagem de volta pra casa que eu pago. -dei as costas, voltando para o elevador.
— Henrique... -ela tocou meu braço, me virei para olhá-la.- Por favor, esquece tudo isso, vai la e assina esse divorcio e depois volta.
— Eu não quero nada com você!
— Só queria me usar, usar meu corpo! -ela gritou, se irritando.
— Nem eu sei o que passou pela minha cabeça quando me envolvi com você.
— Idiota! Te odeio! -me virei novamente, entrando no elevador.
— Adeus, Larissa! -as portas se fecharam.

[...]

Lá estava eu, em frente a Bruna naquela mesa de tribunal com os papeis em mãos, olhava fixo para aquela parte que dependia de mim, a minha assinatura. Bruna já havia assinado, com total propriedade, só restava a mim. Ela estava com os olhos fundos, certamente chorou boa parte da noite ou nem dormiu. Eu era o culpado de tudo aquilo.

Respirei fundo e assinei, com o pesar nos ombros. Era como retroceder durante todos esses anos. Anos vivendo ao lado de uma pessoa praticamente desconhecida, ou nem tanto. Eu sabia bem que ela gostava de rosas, mesmo ignorando as que eu dava. Sabia que quando acordava tinha que tomar seu café, se não, o mau humor se instalava pelo resto do dia. Também sabia que gostava de estar comigo nos shows, gostava da minha voz e das musicas, era nitido em seus olhos. Também sabia o quanto ela prezava por estar no meio da minha familia, ja que não tinha com quem contar. Sabia também que após um dia cansativo ela só precisava tirar os saltos e tomar um belo banho quente pra se recompor. Sim, eu sabia demais, mas nem tudo.

Não sabia sua cor preferida, o que ela mais gostava de fazer em seu tempo livre. Não sabia qual bolo ela gostava e se é que ela gostava de chocolates como toda mulher comum. Não sabia como ela ficava em dias de TPM, se era manhosa, irritada ou só era ela. Não sabia como eram os fins de dias cansativos no trabalho, nem ao menos se o trabalho a irritava o suficiente. Não sabia nem mesmo seu restaurante preferido. É Bruna, eu realmente não te conheço.

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