Ela te ama

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| HOJE|

~ Bruna.

Acho que já havia bebido umas três doses e estava no meu segundo drink forte e adocicado ao mesmo tempo, quando Larissa chegou a minha mesa.

— Oi amiga. -ela se sentou.
— Porra Lari, que demora! -a encarei.
— Desculpe, deixei as coisas no apartamento e tomei um banho correndo, mas até que eu achasse alguma peça de roupa no meio de todas aquelas malas... -ela suspirou.- Vou pedir um drink. -assenti.

Escutei o dedilhar de uma música no violão, bem conhecida por sinal. Quando o cantor começou a cantar, foi o suficiente para eu desabar.

— Era só você ter pedido desculpas e você já saiu pra rua e beijou uma ou duas bocas... -respirei fundo.
— Droga, até aqui! -meus olhos marejaram.
— Voltei. -Larissa anunciou, se sentando a minha frente.- O que foi amiga? -escutei sua voz, olhando para a mesma.- Ta chorando porque?
— Droga de vida! -reclamei, deixando a lágrima escorrer.
— Calma Bru... -ela tocou minha mão, afagando na tentativa de me deixar calma.
— Ele é um imbecil, Lari. Um idiota! -era impossível controlar as lágrimas.- Eu não acredito que ele fez isso comigo.
— Bru, eu não to entendendo. -olhei para ela.- Você me disse que o que vocês tinham era contrato, era mentira, porque você ta chorando?
— Eu não sei. Eu... -limpei as lágrimas.
— Eu já entendi. -ela se afastou.- Você ama ele, né? -abaixei a cabeça.
— A briga foi feia, teve dedo na cara, teve voz alterada, teve tudo que tem em uma discussão, mas eu não, eu não tava terminando não, você confundiu seu coração. -ao som daquela musica eu chorei mais.

O que adiantava negar os sentimentos que ficaram exatamente evidentes agora após o álcool fazer efeito? Claro que aquilo me doeu, eu fui traida pelo meu marido. Marido? Que porra era essa Bruna?
— Eu não sei o que ta acontecendo comigo. -suspirei, enxugando as lágrimas e tomando um gole de bebida.
— Calma Bruna, não adianta se enfiar na bebida assim. Henrique sabe o que você sente?
— Não, ta louca? -a encarei.- Eu nem sei o que eu sinto, Lari. -suspirei.- Eu só estou confusa e sentindo a sensação da traição.
— Imagino, até porque vocês estão casados a três anos, é bastamte tempo.
— Odeio o Henrique, isso sim! Perdi toda a minha vida por conta dele, perdi varias chances, nunca consegui nem beijar outro cara, fiquei refém de um casamento falso, de uma pessoa que sempre teve outras.
— Eu te entendo.
— Não, não entende. -voltei a sentir os olhos queimarem com vontade de chorar.- Eu sempre fiquei sozinha nessa porra, Larissa! Sempre! Na lua de mel ele me tocou, ele me amou, ele disse que estaria comigo, que faria dar certo. E então sumiu, desapareceu. -terminei minha bebida, levantando o braço pro garçom, o chamando.- Eu fiquei grávida, Larissa, engravidei naquela noite. -seus olhos se arregalaram.
— Porque você nunca me disse?
— Porque eu perdi, eu sofri sozinha, ninguém sabe e nem precisa saber, eu quem tenho que arcar com todas essas merdas de escolhas que eu fiz. -o garçom chegou.- O mesmo drink por favor. -ele assentiu, se retirando.
— Henrique sabe que você perdeu um filho dele?
— Claro que não, a gente nunca se quer conversou, eu fiquei sozinha. Ah que droga! -suspirei, tentando engolir o choro.
— Você precisa conversar com ele.
— Nunca! Agora mais do que nunca eu preciso me afastar dele, sumir. Ta doendo muito. -suspirei.
— Vem ca. -ela se levantou para me abraçar.

~ Henrique.

Escutei a porta do apartamento abrindo, olhei o celular e eram 00:00am. Levantei, indo até a sala.

— Chegou tarde. -me aproximei, a mesma com uma cara nada boa.
— Tive que levar Bruna em casa e depois vir de uber.
— Porque não me ligou? -abracei a mesma, puxando seu queixo para um beijo.
— Henrique, sério. -ela se afastou.
— O que foi? -estava confuso.
— Henrique, preciso que seja sincero comigo. -arqueei a sobrancelha.- O que você sente pela Bruna?
— Nada. -dei de ombros.
— Tem certeza?
— Sim, porque?
— Porque ela te ama.
— Ta ficando doida? -eu ri.- Da onde tirou isso?
— Ela chorou muito, ela bebeu como eu nunca vi, mas ela estava muito magoada e triste.
— Bruna? Tem certeza disso?
— Sim, com toda certeza do mundo. -ela me encarava e parecia bem séria.
— Só pode ta brincando. -eu passei a mão no rosto, aflito e rindo nervoso ao mesmo tempo.- Ela me pediu o divorcio, ela nunca deixou eu me aproximar.
— Ela me contou que vocês tiveram um envolvimento na lua de mel.
— Sim, estávamos bêbados da festa, mas foi a unica vez.
— Ela engravidou. -encarei a mesma, arregalando os olhos.
— Você ta maluca Larissa? -senti meu coração acelerando.
— Não, ela disse que ninguém sabia e que guardou para si. Ela me contou muitas coisas, Henrique eu to... Eu não sei, to triste e arrependida de tudo. Minha consciência não pesou, me deu um murro. Eu acho que vou embora.
— Calma. -me aproximei, tocando seu braço.- Eu preciso processar tudo isso, Larissa. Eu nem sabia dessa gravidez, eu não sabia o que Bruna sentia por mim, eu nunca desconfiei de nada.
— Não sei como, pois tava mais que na cara que ela gostava de você, só pelo fato dela nunca ter nem se aproximado de outro homem.
— Eu duvido muito.
— Pois eu vi o quanto ela chorou e ouvi tudo o que ela disse, e tenho mais do que certeza que ela nunca se relacionou com ninguém durante todo este tempo.
— Preciso pensar.
— Eu imagino que sim.
— Eu vou sair. -procurei a chave do meu carro.- Volto depois.
— Não se preocupe, só não diga nada a ela, se não ela vai desconfiar.
— Eu sei.

Apenas passei por ela, saindo em direção a porta. Desci no elevador e parecia uma eternidade, eu apenas precisava chegar em casa, eu tinha que chegar até Bruna.

Quando cheguei no carro, acelerei o máximo que eu pude, indo em direção a minha casa. Ao chegar na mesma, estava tudo escuro e silencioso, subi até o quarto de Bruna e hesitei em bater a porta, mas travei. Decidi entrar devagar, tendo em vista que Larissa disse que a mesma teve que ser levada para casa, então o sono estaria pesado.

A mesma dormia de bruços na cama, jogada com seu pijama que deixava a polpa de sua bunda de fora. "Calma Henrique, você está aqui por outro motivo" eu dizia para minha mente. Entrei em seu closet, só precisava me concentrar pra achar algo referente ao bebê. Não sei quantas pastas e caixas eu mexi, mas não havia resquícios, nada, eu devo ter ficado horas naquele lugar só escutando o som de seu leve ronco.

Quando estava por desistir achei um envelope de um hospital ali próximo, o abri rapidamente e tinha tudo o que eu precisava. Ultrassom, dois testes de gravidez de farmacia, e varias folhas impressas. Peguei o envelope e deixei seu quarto, indo para o meu.

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