Capítulo 1

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POV Rio

Estou parada na calçada em frente à editora em que trabalho, com meu copo de café em mãos. Ao meu lado estão Jen e Alice, conversando sobre um romance de suspense que estavam lendo juntas. Suas vozes vão ficando cada vez mais distantes para mim, pois minha atenção segue a figura que se aproxima do outro lado da calçada. Era ela. Vestida com um de seus ternos habituais, desta vez branco, que realçava seus seios, ela parecia completamente imponderada, caminhando distraidamente enquanto mandava mensagem para alguém no celular. Ela parou próxima à faixa de pedestres, junto com outras pessoas, e quando o sinal abriu, continuou a caminhada pelas linhas brancas pintadas no chão. Ela só não esperava o que estava prestes a acontecer. A multidão próxima dela parou abruptamente, mas ela seguiu em frente. Em sua direção vinha um táxi em alta velocidade, que invadiu o espaço dos outros veículos e ultrapassou o sinal vermelho, atingindo o corpo da mulher e manchando seu terno branco, milimetricamente passado, com um vermelho vivo que jorrava de sua dona. Jen e Alice ao meu lado soltaram gritinhos horrorizados e correram em direção a ela, mas eu... ah... eu estava sorrindo... sorrindo tanto que até um cego a quilômetros de distância contaria os dentes de minha boca.

Ouço um som ao longe, lembra-me meu despertador... despertador?
Abro os olhos, ainda confusa, com resquícios de um sorriso mórbido nos lábios. Disparo o olhar pelo quarto, procurando de onde vinha o som. Era, de fato, meu despertador gritando comigo por já estar uma hora atrasada na segunda-feira. PELA DEUSA!
Pulo da cama, puxando os lençóis que me cobriam, sem tempo a perder. Corro até o banheiro e faço minha higiene matinal, arrumando o cabelo e passando rapidamente uma maquiagem no rosto enquanto me visto. Pego minha bolsa correndo, jogo-a no ombro e saio apressada do apartamento, tranco a porta e disparo em direção à rua.
Vou correndo pela calçada até a cafeteria onde passo todos os dias antes de ir ao trabalho, mas, ao entrar, sinto meu pânico aumentar. A fila para o expresso estava enorme, o que me faria me atrasar ainda mais.

– Rio! – Ouço uma voz feminina me chamar. Viro-me em direção ao balcão e vejo a moça gentil que sempre me atendia, sorrindo de forma espontânea e livre. Seus cabelos loiros caíam distraidamente sobre os ombros e seus olhos castanhos brilhavam em minha direção. Em suas mãos, dois copos de café.
Sorrio instantaneamente e vou em sua direção.
– Café, com leite e canela, do jeitinho que você gosta.
– Muito obrigada, você é um anjo, salvou minha vida! – Pego os cafés de sua mão, com o maior sorriso de gratidão que consigo emitir, e disparo novamente em direção à rua.

Entro no prédio da editora Strange & Strange e vou em direção ao elevador. Me permito respirar por um minuto enquanto o elevador sobe até o meu andar e, aproveitando, olho para o relógio para saber o quão ferrada eu estou. Eram 09:01. Eu estava frita.
Assim que as portas se abrem, continuo em disparada até minha mesa. Mas, antes que eu pudesse dar um passo, sou atingida por alguém: Peter, da contabilidade, com sua montanha de papéis. Para ser mais exata, um dos cafés da minha mão foi ao encontro diretamente de sua pilha de papéis, e minha blusa, como um sanduíche muito cheio de molho, se derramou completamente sobre mim e ele, até não restar mais nada no compartimento de papel.

– MAS QUE PORR... – Sinto o líquido queimar meus seios e barriga, e fecho os olhos por um instante.

– Desculpa, senhorita Vidal, eu juro que não te vi... – O rapaz começa a dizer, mas eu continuo em alta velocidade em direção à minha mesa, ignorando a dor que sinto. 

Vi Jen, com um sorrisinho de canto, me encarando parada perto do meu computador. Ela abre a boca para falar, mas eu a interrompo:
– Brooklyn Nets vs Knicks na sexta, dois ingressos pela sua camiseta, agora! – Falei, jogando minha bolsa na mesa e colocando o copo cuidadosamente, começando a desabotoar os botões da camisa. Eu sabia o que ela iria dizer, que eu estou horrível e terrivelmente atrasada, que a dragão me comeria viva e que eu deveria pedir contratar um matador de aluguel. 
– Basquete? Não sou fã... – Ela ironiza e solta uma risadinha.
– AGORA! – Digo, em tom desesperado, dando a volta na mesa e organizando dois manuscritos que havia deixado na semana passada.

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