Eu me desfiz no banheiro, literalmente. Tudo o que estava no meu estômago foi cuspido para fora, e eu comecei a chorar a todo instante que fechava os olhos. Esfreguei tanto o meu rosto que senti ardendo sempre que a água caía, mas ainda me sentia suja. Draco tinha razão: era ele ou eu. Eu escolhi a mim, a minha sobrevivência, mas aquilo me deixava minimamente melhor.
Quando voltei para a cozinha, Draco tinha deixado o casaco preto em uma cadeira, e tinha as mangas da blusa preta dobradas, as mãos pálidas estavam sujas de sangue e restos de pele, mas ele não parecia se importar. Ele tinha conseguido colocar os restos humanos em alguns sacos, e agora esfregava as mãos na pia, com raiva.
-Você fez uma grande bagunça, Lufa-Lufa.
-Cale a boca, Malfoy.
Malfoy.
-Draco...
-Sim, precisamos conversar. Mas, me deixe limpar isso primeiro. - ele falou, secando as mãos com papel toalha e alcançando a varinha no bolso de trás da calça. Com um agito, o sangue foi devidamente limpado e os sacos de lixo desapareceram. - Foram para algum lixão trouxa.
Balancei a cabeça.
Draco se aproximou de mim e se abaixou à minha frente. Ele passou a mão em minha bochecha, procurando por qualquer hematoma.
-O que foi?
-Eu... entrei na mente dele. - falei, respirando fundo. - O nome dele era Mungyo Nevisse, ele... veio a mando de seu pai.
-Meu pai? - aquela sombra, aquela expressão de mais cedo, estava de volta.
-É. Aparentemente, seu pai sabe sobre a gente, graças à Parkinson. Parece que seu pai concorda com ela: não devemos ficar juntos. Você precisa ficar com ela, continuar a linhagem Malfoy com orgulho, unindo-se a alguém da mesma casa que você. E ele acha que eu vou atrapalhar na sua missão de matar Dumbledore. Seu pai mandou que ele me matasse pra mostrar que sou vulnerável e que ele tem poder sobre você. - agradeci mentalmente por Draco não ter me interrompido, porque não sabia se eu conseguiria retomar o raciocínio.
Draco ficou calado e se levantou, começando a andar pela cozinha agora limpa, quase como se nada tivesse acontecido ali. Eu o segui com os olhos. Ele tinha as mãos na cintura, seus ombros e seu peito se moviam rapidamente.
-Draco?
-Eu vou matar a Pansy! - ele xingou. - No jantar, ontem, meu pai falou sobre isso. Não achei que ele realmente fosse te atacar... Daya, eu sinto muito.
-Não é sua culpa, Draco. Foi o seu pai, não você.
-Você não deveria ter ficado sozinha.
-Eu não estava sozinha. Fred e George passaram o dia comigo, Fred desde que voltei. Talvez tenha sido por isso que ele não tenha atacado antes, porque os gêmeos estavam aqui. - falei. Pensei em me levantar, mas tinha quase certeza de que minhas pernas me deixariam na mão. - No segundo em que os gêmeos saíram para passar o Natal com a família deles, esse cara chegou. Com certeza ele estava me observando, e com certeza seu pai sabe há mais tempo do que pensamos.
-Eu não tenho dúvida disso. - ele balançou a cabeça e passou os dedos por entre os cabelos, bagunçando os fios. - Eu sinto muito, Daya. Eu sinto muito mesmo.
-Draco, eu tô bem, não tô?
-Se eu estivesse aqui, você não teria precisado matar ele! Eu o teria matado.
Draco permaneceu um pouco distante, apoiado contra a pia da cozinha, os cabelos bagunçados, sem casaco, com as mangas puxadas. Eu conseguia ver perfeitamente a Marca Negra e não sentir raiva, repulsa ou nojo, diferentemente de uma pessoa normal.
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Obsessed × D.Malfoy
FanfictionComo Lufana, lealdade era minha sina, minha benção e minha maldição, meu defeito mortal. A Morte não discrimina pecadores e santos, por isso eu perdi algumas das pessoas mais importantes da minha vida, e eu sobrevivi do mesmo jeito. O Amor não discr...