CAPÍTULO 22 - SEGREDOS

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Desativei todas as minhas redes sociais, criei apenas um novo perfil com uma foto do Gus no perfil e apenas umas 10 pessoas adicionadas, mudei também o número do meu celular, apagando do mesmo tudo que era dele. Mensagens e fotos.

Voltei a frequentar meu terapeuta, o que me fez melhorar consideravelmente. Comecei em maio um curso de três meses na área de Digital Media, que era algo que me interessava. Gostava da parte de animação e era algo que queria focar a partir de agora. Não podia começar uma faculdade porque era verão, mas eu pretendia no futuro.

Meu pai veio me visitar, ficando comigo por uma semana em abril, na época que eu ainda estava mal. Ele que cresceu em mim a ideia do curso, visitou comigo o campus de Santa Rosa Junior College em Santa Rosa, que ficava a 20 minutos de Healdsburg. Ele acabou me convencendo.

Eu continuava trabalhando no lava-jato, e estudava pela noite, acabava voltando cansada pra casa, e aproveitando o tempo livre que tinha pra fazer trabalhos ou até sair com a Ellie ou com colegas da minha sala. Tinha até esse carinha da minha idade, ele usava óculos e tinha um estilo nerd, apesar de bonito, ele sempre tentava dar em cima de mim, ser meu amigo mais do que amigo, mas eu estava muito bem sozinha pra estragar isso.

Até que estava indo tudo bem, na medida do possível.

Era terrível quando eu lembrava dele, o que era bem constante apesar da minha vida movimentada e atarefada. Era nas noites que eu lembrava dele, ou quando estava em uma loja de CDs, ou quando via um policial na rua, ou qualquer outra coisa parecia me lembrar ele. Evitava escutar suas bandas favoritas, ou até mesmo o que me lembrava ele.

Em algumas noites quando estava me sentindo mais vulnerável, eu chorava lembrando de todos os nossos bons momentos. Eram poucas as vezes que eu procurava algo no Facebook a seu respeito, mas todo o perfil da Anna estava fechado, eu não conseguia ver nada e agradecia por isso. Eu precisava me controlar pra não ir na caixa e ver tudo que lembrava ele.

Tudo o que eu sentia era como se o colorido das coisas ao meu redor tivessem sumido. Como se tudo estivesse preto e branco, como se a animação e a excitação que eu sentia todos os dias tivesse sumido, como se nada mais fizesse algum sentindo, como se eu estivesse apenas empurrando a vida com a barriga, porque toda aquela animação que ele trazia pra minha vida tinha sumido.

Não me sentia mais desejada, adorada ou amada. Pelo menos não por quem importava.

Era insuportável o modo que ele tinha estragado todos os homens pra mim.

Todos pareciam novos demais, inexperientes demais, velhos demais, tediosos demais, magros demais, gordos demais, com a cor do olho errada, com poucos músculos, com músculos demais, com poucas tatuagens, com muitas tatuagens, nada estava mais certo nos homens pra mim, tudo parecia inadequado.

X

As coisas estavam se encaminhando, e todo aquele afastamento do Eric tinha realmente pesado pra mim, mas a verdade é que meu passado tinha sido muito pior, só que o passado estava no passado e eu já tinha superado ele, já tinha superado as merdas que tinham acontecido nele. Já não me abalava mais.

O passado deveria ficar pra trás, essa era a verdade, mas ele havia literalmente batido na minha porta.

Era uma segunda-feira, eu estava jantando com o Gus no meu pé, assistindo algum reality show na sala quando minha campainha tocou. Poderia ser qualquer pessoa. Um vizinho, um amigo, um desconhecido. Eu queria que fosse qualquer pessoa.

Abri a porta e senti meu corpo inteiro travando, eu engoli seco ao ver a figura familiar ali na minha frente. Meu corpo estava gelado.

Toda a vida estava se esvaindo de mim.

NOS BRAÇOS DELAOnde histórias criam vida. Descubra agora