Capítulo 7

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**Cristina na mídia.**

Meus sonhos foram perturbados quando Hanna apareceu neles, com risadas estridentes e um olhar perverso. Ela ria de nós, por termos servido tão bem aos seus propósitos. Ela gargalhava ao ver o desespero de Heloisa e Otavio, Clara, Lauro... Ela brincava com a nossa cara, enquanto eles morriam e eu assistia a tudo petrificada.

Aquela coisa ainda azul e fria que antes estava morta sobre a mesa, agora se deliciava com o desespero de todos nós, lambendo o sangue que escorria pelo pescoço de Heloisa, e depois o rosto de Otavio. Ele mudava de forma à cada gota de sangue que roubava, ate acabar totalmente sua "transformação" e virar-se para mim, com os olhos ainda sedentos. Karan avançava para mim enquanto a gargalhada de Hanna ecoava por todo lugar.

Me ergui da cama, suada e agitada pelo pesadelo. Minha respiração estava desajustada e meu coração martelava freneticamente dentro do peito. Olhei ao redor, meu quarto estava do mesmo jeito, como eu havia deixado. "Foi só um sonho ruim, Cris. Fique calma." Pensei.

Passei a mão no rosto, tirando os fios que grudavam no suor e levantei. Caminhei descalça pelo corredor silencioso e fui ate a cozinha. Abri a geladeira e me servi de um copo bem cheio de agua, quando virei-me dei de cara com uma figura masculina parada atrás do balcão me olhando.

Senti meu corpo gelar e o copo escorregar de minhas mãos, mas antes que caísse e se quebrasse molhando todo o chão, a figura que antes estava lá, agora estava diante de mim e pegou o copo no ar, sem deixar derramar uma gota.

— Karan. —Minha voz saiu em um sussurro.

"Não foi um sonho...", tinha acontecido de verdade. Tudo aquilo. Ele colocou o copo sobre a mesa e me fitou. Seu rosto aparecia na pouca claridade da cozinha escura e sua expressão era insondável. Ele ainda estava vestido como quando saiu do banho, descalço e sem camisa.

— Tive um pesadelo. —Falei baixinho. — Achei que tivesse sido só isso, que nada do que houve hoje havia sido real.

— Foi real. —Ele afirmou e sua voz estava fria. — Teve medo de mim, de novo, porque seus sonhos à fizeram lembrar do que eu sou e do que eu faço.

— Você me assustou...

— Você se assustou. —Ele corrigiu. — Tem medo de mim toda vez que lembra o que eu fiz, e é bom que tenha medo mesmo. Teria acontecido com você o mesmo que com eles.

Ele me deu as costas e caminhou para o corredor.

— Teria me machucado, Karan? —Perguntei num sussurro.

— Teria.

A resposta dele veio alta e firme, sem sombra de duvida ou incerteza. Curta e verídica. E por mais que eu já soubesse que a resposta seria essa, não pude deixar de me sentir mal. Karan me machucaria, porque é isso que ele faz e vai continuar fazendo.

Ele já não estava mais ali. Tinha me deixado sozinha de novo. Peguei o copo de agua e bebi devagar, me perguntando se eu estaria viva à essa altura caso não tivesse sido eu a pessoa a cortar a mão e desperta-lo. Provavelmente não. Senti meu peito ficar apertado. Teria sido sorte ou azar? A pergunta que importava agora era: Ele ainda me machucaria?

Deixei o copo sobre a mesa e caminhei devagar pelo corredor, parei frente à porta do meu quarto e olhei para a porta fechado do quarto de Karan no final do corredor. Ele estava acordado, sei que sim. E por mais que eu achasse idiotice, eu quis pensar que ele estava ouvindo meus passos, minha respiração... Sentindo a linguagem do meu corpo.

Suspirei e entrei, fechei a porta sem fazer nenhum ruído e voltei para a cama. Fiquei rolando nos lençóis, o sono parecia não querer me visitar. Me levantei de novo e fui ate a sala, peguei meu notebook que estava sobre a mesa de centro e voltei.

Olhei a hora, eram cinco e quinze. Eu não ia conseguir voltar a dormir. Quando o notebook ligou, eu abri minha caixa de e-mails. Haviam cinco novos, dois da minha mãe, mais dois de marketing e um de um endereço desconhecido. Abri os de minha mãe.

"Oi, fofinha. Como está? Não tem ligado para mim, tenho sentindo sua falta."

O outro:

"Filhinha, espero que esteja bem. Você não tem dado noticias, não preocupe a mamãe."

Fazia mesmo dias que não ligava ou mandava e-mails para minha mãe, e agora com Karan aqui, eu pressentia que ia acabar me distanciando muito mais. Desde que ela continue na França bem longe dele e dos perigos que ele oferece, por mim está tudo bem. Digitei uma resposta rápida.

"Olá, mãe. Estou bem sim, e você e Fernando? Desculpe não ter dado noticias, a faculdade e o estagio me roubam muito tempo. Também sinto sua falta. Beijos."

E enviei. Apaguei os e-mails de marketing e abri o ultimo.

"Como está Cristina? Espero que viva. Precisamos conversar sobre o que houve no instituto, creio que você, como uma moça inteligente que é, sabe que ninguém acreditara em uma palavra sua sobre o verdadeiro ocorrido. Te aguardo para conversarmos sobre isso. Apareça no hotel três estrelas da quarta avenida, às 20:00 hr. Hanna."

Não acredito! Eu aqui querendo ir atrás dela e ela vindo atrás de mim. Como o mundo dá voltas. Eu até ri. Reli o e-mail e tive certeza. O E-mail era de ontem, horas depois do ocorrido no instituto.

— KARAN! —Gritei. Foda-se os vizinhos. — KARAN!

Eu ia gritar pela terceira vez quando ele apareceu no meu quarto com uma rajada de vento, ele aparecia confuso, preocupado e irritado.

— O quê? —Rosnou.

O tom de voz dele não me acuou. Estava ansiosa, praticamente pulei da cama e fui em direção dele, ele pareceu surpreso com minha aproximação tão aberta.

— Hanna. —Falei o empurrando pra minha cama.

Ele cedeu aos meus empurrões e se aproximou da cama. Eu subi no colchão e sentei em cima das pernas, alcancei seu braço e o puxei ainda mais para perto, fazendo-o sentar ao meu lado. Mostrei o e-mail e esperei que ele lesse.

— Tem certeza que é dela? —Perguntou.

— É claro que sim, Karan! —Exclamei. — Quem mais me diria isso? Esse e-mail me faz ter certeza que eu tinha razão. Ela sabia o que estava fazendo, aquela cretina!

Karan permaneceu calado.

— O e-mail é de ontem, então já passou a hora marcada. —Falei. — Mas vou responder agora, marcando um novo encontro. Vou ouvir o que ela tem a dizer, e descobrir se ela sabia ou não...

— Eu vou com você. —Ele disse.

— Karan... —Olhei para ele. — Ela não falou nada sobre você estar comigo, talvez ela não saiba que você veio comigo, que está... Aqui.

Ele permaneceu calado.

— Pode ser perigoso para você, Karan. —Continuei. — Se ela sabia o que você era e o que iria acontecer, então talvez tivesse algo em mente para você...

— Está preocupada comigo?

A pergunta dele me pegou desprevenida, e a intensidade de seu olhar sobre mim me secou a garganta.

— Mais ou menos. —Falei desviando o olhar.

Me concentrei no teclado e digitei uma resposta falando em voz alta para que Karan ouvisse.

— "Oi, Hanna. —Comecei. — Estou viva, sim, porém muito assustada. Passei o dia trancada, por isso não cheguei a ver seu e-mail, desculpe. Posso te encontrar hoje, no mesmo lugar e hora, se você puder. Aguardo sua resposta. Cristina."

Enviei. Ergui o olhar da tela e Karan me encarava, parecia distante.

— Se ela aceitar, você vai me levar junto. —Ele disse. E antes que eu pudesse responder: — E não estou pedindo. Não tenho um bom pressentimento em relação à essa mulher. Me chame quando ela responder.

E com isso saio do meu quarto. Olhei a camavazia aonde ele estivera sentando e senti-me um pouco solitária. Olhei a hora,eram seis e vinte da manhã. Mesmo sendo sábado, decidi começar o dia cedo.Tomei banho e me vesti, chequei os e-mails e nada. Levei o notebook para acozinha e o depositei sobre o balcão, iria passar o dia vigiando minha caixa dee-mails, se fosse preciso.

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