As lagrimas insistiam em cair, limpei-as uma a uma e me concentrei no caminho. Eu estava saindo da zona urbana da cidade. Sabia que aqui perto, menos de cinco quilômetros, havia um sitio da família de Julia, talvez ela estivesse lá.
Pisei no acelerador e logo cheguei. Fui recebida pela tia dela que me levou até Julia. Ela usava shorts jeans surrados, botas de couro marrom, camisa xadrez na metade da barriga e um chapéu de cowboy. Julia me recebeu com um abraço de irmão-urso e me levou para dar uma volta pela propriedade do sitio.
Sentamos numa pedra perto do rio e jogamos pedras na água.
— À que devo a visita? —Ela perguntou brincalhona.
— Não sabia para onde ir, acabei saindo da cidade e por coincidência estava no caminho para cá, então vim.
Ela assentiu e jogou mais uma pedra na agua, e eu a imitei.
— E por que essa carinha? —Ela perguntou me olhando.
Suspirei.
— Cris, eu te conheço. Imagino que tenha haver com aquele loirinho. Vocês se gostam...
— Corrigindo: eu gosto dele. Ele não tá nem aí pra mim. —Joguei uma pedra com raiva.
— Como assim? —Ela parecia confusa. — Eu vi o jeito dele com você... Ele...
— A gente transou, Julia. —Confessei. — Ele voltou e rolou. E aí hoje ele veio com um papo de "foi um erro".
A boca dela caiu em descrença e raiva. Desde que colocara os olhos em Karan, ela achava que ele era afim de mim. Ela também vivia pegando no meu porque eu nunca mais tinha saído com ninguém desde que terminei com Renato, e agora que finalmente rolou...
— Ele é um estupido! Idiota! —Explodiu ela.
Eu sorri tristemente e joguei mais uma pedra na água.
— Eu demorei tanto pra aceitar e admitir que gosto dele, mesmo com todos aqueles defeitos, mesmo com tudo... —Pensei alto. — Ele parecia entender, parecia querer que eu aceitasse... Eu não sei o que houve, Julia, ele esperava por isso, e então simplesmente me disse que foi um "erro".
— imagino o que seu coraçãozinho tenha sentindo. —Ela me abraçou.
Dei de ombros e sequei uma lagrima solitária.
— Não vamos ficar assim. Vamos dar uma lição nesse idiota. Vou arrumar uma mochila e vou voltar com você, nós vamos nos arrumar e sair pra uma noite de garotas. Ele ainda está na sua casa?
Eu assenti positivo, ainda calada.
— Ótimo! —Ela disse se levantando. — Vamos.
Eu assenti de novo e a segui. Em menos de vinte minutos, Julia aprontou a mochila e avisou pra mãe dela que ia dormir na minha casa. Pegamos a estrada e voltamos. O caminho inteiro, Julia foi me dando ordens. "Não fale com ele", "Deixe que eu me encarrego de mostrar o quanto ele foi idiota", "Ignore-o"...
Deixei o carro estacionado na rua e entramos no prédio. Em questão de minutos estávamos na porta do meu apartamento. Assim que abri a porta e entrei, Karan surgiu, descalço, vestindo o mesmo jeans e camisa branca.
— Cristina! —Ele chamou meu nome como se estivesse desesperado. — Onde esteve?
— Dá um tempo, Karan. —Falei indiferente. — Essa é a Julia, lembra dela?
Ele assentiu olhando brevemente para ela, que o olhou de soslaio com a cara amarrada.
— Ela vai dormir aqui hoje. —Falei.
Me sentei no sofá e me preparei para ver Julia começar a cena dela.
— Cris, você pode tomar banho primeiro. —Ela disse. — Escolha uma roupa linda, hoje vai ser especial.
— Vão sair? —Ele quis saber.
— Vamos, e sem hora pra voltar.
— As coisas não funcionam assim, mocinha. —Karan disse ríspido.
— Não lhe perguntei nada. Ande Cris!
— Está cedo...
— Nós vamos jantar fora, e depois a gente vê. Anda logo.
Enxotada por Julia, eu me retirei da sala. Fui para o closet e escolhi uma roupa. Um short de couro falso curto e de cintura alta, para mostrar bem minhas pernas, um cropped vinho e o salto novo preto. Peguei a toalha e no caminho para o banheiro, eu parei e fiquei ouvido perto do corredor.
— Você não tem o direito de se meter, sua pirralha petulante! —Karan sibilou.
— Tenho sim, seu babacão! —Julia se defendeu. — Ela é minha amiga, sabe a quanto tempo eu esperava para vê-la assim? Feliz, gostando de alguém outra vez? Ela GOSTA de você! Ela gosta muito, e eu sei disso porque eu conheço a minha amiga.
— Você não sabe o que aconteceu...
— Eu sei que ela se entregou pra você, que ela quis se tornar sua, e você desfez dela. Sei que você transformou o que devia ter sido uma noite especial em uma simples transa qualquer. E sei que não vou deixar ela ficar deprimida de novo. Engula a sua maldita língua antes de dizer que eu não sei de nada, porque quem não sabe de nada é você. —Julia praticamente o batia com o dedo. — Eu achei que você gostasse dela.
A ultima frase desmoronou a muralha de defesa de Karan. Julia transmitiu a minha decepção em sua voz. Eu me afastei em silencio e fui pro banho, fechei a porta com cuidado para não chamar atenção e me despi vagarosamente, lutando contra a onda de sentimentos.
Terminei o banho o menos rápido que pude, e quando saí, encontrei Julia na porta esperando por mim. Ela me deu um abraço carinhoso e entrou no banheiro. Voltei pro quarto, e comecei a me vestir.
Me olhei no espelho, já pronta e gostei muito do que vi. O salto e o short curto valorizaram minhas pernas, e o cropped combinou com o tom negro do short, sem falar do pequeno decote. Fiz uma maquiagem bem caprichada no olho, coisa pra noite mesmo, caprichei no olhão preto e fechei com um batom vermelho sangue. Não usei brincos, anéis, pulseiras ou cordão.
Julia entrou no quarto pra se produzir e paralisou na porta ao me ver produzida. A boca dela caiu e depois se abriu num sorriso de orelha a orelha.
— Cris, você tá uma gata! —Ela exclamou vindo dar uma olhada de perto. — Olha essa roupa... Valoriza todo o seu corpo... E essa maquiagem?! Topo virar lésbica se você disser que transa comigo sempre que se vestir assim.
Eu gargalhei pela primeira vez no dia. Ela riu também e me abraçou.
— Tá linda, amiga. —Disse se olhando no espelho, ainda abraçada comigo. — Não vai faltar GATO DANDO EM CIMA DE VOCÊ HOJE!
Ela gritou a ultima parte para que Karan ouvisse. Se ela soubesse que ele pode ouvir sem precisar gritar... Julia começou a se produzir. Colocou uma bota de salto fino e cano alto ate o joelho, uma saia jeans com pontas maiores na frente e atrás, e uma blusa preta com renda e transparência no colo dos seios.
Tiramos algumas fotos juntas e saímos do quarto. Karan estava sentado na sala com cara de poucos amigos e me olhou da cabeça aos pés quando me viu. "Espero que tenha gostado, seu cretino." Pensei. Julia se adiantou pegando as chaves e abriu a porta.
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Pulsação
VampireCristina Levy é estudante de medicina e é sorteada junto com mais cinco colegas de classe para assistirem uma dissecação de um cadáver encontrado por arqueólogos na Espanha. O que ela não esperava era que uma simples gota de seu sangue despertaria...