Capítulo 23

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Johann estava sentado em uma das poltronas entretido com uma taça de vinho e cartas de baralho, sobre a mesa estava a garrafa de vinho francês, cartas, uma chave e um jarro aparentemente pesado. Johann me olhou por um breve minuto e não consegui ver nele o homem que conheci no escritório ou que me beijou àquela noite.

— Onde estou, Johann? —Perguntei sentindo minha boca seca.

— Em minha casa. Gostaria de mostra-la, uma vez que você mencionou certa noite que ninguém sabia sequer onde eu morava, mas como pode ver, a sua situação não deixa.

— Johann, o que ela vai fazer?

— Na melhor das hipóteses... Mata-la. —Ele deu de ombros.

— E você vai deixar?

— E por que não deixaria? —Ele pareceu curioso. — Pode escapar da morte se jurar lealdade à ela, Cristina. Walkiria é generosa, ela lhe daria uma segunda chance desde que desse a ela o que ela quer.

Olhei para Johann sentindo um misto de emoções. Decepção era a primeira delas. Eu achei que Johann fosse um cara legal, mas agora, aqui, ele se mostrava um cretino pau mandado.

— Eu achei que você fosse diferente. —Sussurrei deixando as lagrimas virem.

Por um momento eu vi em seus olhos a mesma gentileza de quando o conheci, de quando jantamos juntos, de quando nos beijamos. Ele parecia ter se comovido com o que eu disse.

— Veja, Cristina... Eu sei o que deve estar pensando. —Ele veio ate a cama e sentou-se perto de mim. — Que eu não sou aquele cara que você conheceu, que aquele Johann era uma farsa e tudo mais. Mas o que eu gostaria que você entendesse é que eu não posso trair Walkiria.

Eu continuava soluçando na cama, enquanto ele falava entre suspiros e expressões de compaixão.

— Walkiria salvou minha vida, Cristina. —Continuou. — Ela me tirou da lama, me ajudou a me erguer. Ela me deu tudo que tenho e tudo que me pediu foi uma coisa: lealdade. Ela me tornou o homem que sou hoje...

— E que homem você é? —Perguntei cessando o choro. — Um grande cretino, falso, duas caras. Um pau mandado! É isso que você chama de ser homem? Deixar essa louca matar pessoas inocentes como bem entender? Você é um COVARDE, Johann! Eu não vou sequer tentar impedir quando Karan arrancar sua cabeça fora, maldito covarde!

Ele pareceu surpreso com minhas palavras rudes e amarguradas, mas logo seu olhar triste deu lugar um sorriso debochado, maldito!

— Acha mesmo que Karan vai sobreviver? —Ele riu. — Walkiria o procurou por anos, ela mal pôde esperar para ter sua vingança.

— Que vingança? —Perguntei confusa. — Karan disse que...

— Karan mentiu. —Me cortou ele. — Walkiria o amava, mas ele nunca a amou. Ele manipulava ela para que ela fizesse suas vontades, fazia dela uma mera escrava sexual e uma fonte de comida.

— Mentira! —Acusei. — Karan disse que a amava, ele deu tudo à ela. Deu joias, conforto, proteção... Amor! Ela é que nunca o amou.

— Você não conhece Walkiria, Cristina. E tampouco conhece Karan. Está defendendo um homem que conheceu... À o quê? Duas semanas? No máximo um mês?

Ele tinha razão, eu não conhecia Karan tanto, mas eu conhecia o suficiente e eu acreditava nele.

— E você conhece Walkiria? —Contra-ataquei. — O que ela contou à você? Ela lhe falou quem aprisionou Karan, obrigando-o a dormir naquele caixão abandonado na Espanha? Ela contou que esse homem foi amante dela? E que foi por esse mesmo homem que ela abandonou e traiu Karan? Melhor... —Eu ri da cara de confusão dele. — Ela lhe contou que ela traiu Karan porque achou que ele tinha perdido todo seu dinheiro?

Johann me olhava de sobrancelhas franzidas; claramente perdido em minhas perguntas. Essa era a brecha para romper a lealdade dele para com Walkiria, mostrar que ele era só um fantoche dela.

— E então, Johann? —Provoquei. —Ela contou?

— Do que você está falando?

— Do que realmente aconteceu entre ela e Karan. —Afirmei. — Você me acusou por defendê-lo sem nem ao menos conhecê-lo, não foi? E agora? Quem não conhece quem? Karan me contou sobre seu passado. O que Walkiria lhe contou sobre o dela? Que foi amante dele, imagino, e suponho que também tenha dito que Karan à abandonou... Mas vejamos, Karan foi preso em um caixão. Quem está mentindo, Johann?

***

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