Acordei de manhã totalmente confortável e quando virei a cabeça senti uma dor no pescoço. Abri os olhos e encontrei um mar azul e intenso olhando para mim. Karan já estava acordado e me olhava cheio de carinho e outro sentimento que não reconheci. Ele estava banhado e vestido com jeans, mas sem camisa.
— Bom dia. —Ele disse baixinho.
— Bom dia. —Sussurrei.
— Vá tomar banho. Espero você na cozinha.
Ele saiu e foi para a cozinha, e eu me levantei enrolada nos lençóis e fui para o banho. Lembrei-me de tudo que houve, as caricias, o amor, o desejo, o sangue... Fitei meu pescoço no espelho e encontrei duas marquinhas deixadas pelas presas dele.
Me banhei e depois me vesti, então fui procura-lo. Karan tinha feito meu café da manhã e estava encostado ao balcão, com as mãos apoiadas para trás, me dando uma visão de seu tanquinho e peitoral. Suspirei ao lembrar a sensação de minha mão sobre esse abdômen.
Sentei-me a mesa e comi em silencio. Sentia o olhar de Karan sobre mim, mas ele não disse nada. Acabei e ele retirou a louça suja, depois tomou a mesma posição e me fitou.
— Precisamos conversar. —Ele disse.
— Algum problema?
— O que você fez, Cristina? —Perguntou como se estivesse angustiado. — Você se entregou pra mim, ate me deixou beber seu sangue...
— O que há de errado? —Perguntei confusa.
— Você cometeu um erro.
A frase dele me feriu como uma faca. Ele tinha esperado por isso, sempre tinha deixado claro que não tocaria a mim ate eu querer, e eu quis. Ele quis também... E agora...
— Não estou vendo graça, Karan. —Falei.
— Porque não tem! Você não devia ter feito isso...
— Cala a boca! —Interrompi furiosa. — Não venha com esse papo de "cometeu um erro", eu não cometi erro nenhum! Todo esse tempo você me quis, todo esse tempo você esperou que eu te quisesse... Quer dizer, você já sabia que eu queria... Você esperou que eu admitisse. Foi o que eu fiz. Não venha com essa conversa agora!
— Você não era obrigada...
— Tem toda razão! —Subi o tom de voz. — Eu não fui obrigada. Você prometeu que não me tocaria ate eu querer, e eu quis. Nós quisemos! Se você não quisesse, não teria feito. Se acha que foi um erro, então você errou também.
O silencio pesou entre nós, eu sentia a raiva e frustração crescerem dentro de mim.
— Eu não queria seu sangue...
— Sim, você queria. Não seja covarde agora. Onde está o Karan que falava naturalmente sobre matar e beber sangue? O tempo todo você quis meu sangue, e eu o dei a você. Está dizendo que não gostou, é isso? —Eu estava irritada. — Uma vez você disse que via em mim desprezo pelo que você era, e você tinha razão, mas você mudou isso. Agora eu vejo quem você era e quem está sendo agora, e sabe o que eu percebi? O Karan que conheci não faria eu me sentir uma vadia, agora. Apesar de ele ser tão insano, ele veria que o que fiz foi uma entrega, uma prova de amor e confiança.
— Cristina...
— Não toque em mim. —Fugi. — Está arrependido? Tudo bem, vou facilitar pra você. Finja que não houve nada e farei o mesmo. Lamento se na minha tentativa de mostrar que o amo e confio, acabei cometendo "um erro". Talvez o erro tenha sido achar que você realmente sentisse algo além do desejo pelo meu sangue, mas até isso agora você está negando.
Enquanto eu falava, me dirigia à sala, catei a chave do carro e já estava com a porta aberta. Karan que ouvia calado e de cabeça baixa tudo que eu dizia, agora estava na minha frente, como que arrependido e preocupado.
— Onde vai?
— Não sei.
Bati a porta e peguei o elevador. Segurei a vontade de chorar com todas as minhas forças. Entrei no estacionamento e peguei o carro, dei partida e arranquei com tudo. Não importava para onde ir, só queria me afastar. Como ele podia dizer que foi um erro?
Eu sentia que havia feito a coisa mais certa em toda minha vida, por mais louco que pareça, eu me sentia bem. E o que foi uma noite mágica se tornou "um erro". Sentia como se houvesse um buraco sendo aberto no meu orgulho, na minha dignidade e na minha alma. Eu fui rejeitada por aquele o qual mais me quis.
Talvez só estivesse brincando comigo, me manipulando para conseguir o que queria e agora iria bancar o mocinho arrependido para me fazer recuar. Como eu fui me apaixonar por ele? Por que eu deixei ele entrar assim na minha vida?
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Pulsação
VampireCristina Levy é estudante de medicina e é sorteada junto com mais cinco colegas de classe para assistirem uma dissecação de um cadáver encontrado por arqueólogos na Espanha. O que ela não esperava era que uma simples gota de seu sangue despertaria...