Dirigi cerca de vinte minutos até chegar ao local, estacionei do outro lado da rua e dei uma olhada ao redor, antes de sair do carro. Estava pouco movimentado na rua, e não vi nenhum sinal de Karan. Respirei fundo e desci.
Cheguei à recepção e fui atendida por uma recepcionista negra de cabelos escorridos.
— Boa noite; posso ajudar? —Perguntou.
— Ah, eu estou aqui para ver Hanna Hales. —Informei.
— Sinto muito, não há ninguém aqui com esse nome.
— Não? —Que estranho... — Mas...
— A moça deve estar confusa. —Uma voz feminina veio detrás de mim.
Me virei e vi Hanna. Que merda é essa? A recepcionista disse que ela não estava aqui e...
— Você não é a Cristina? —Ela perguntou.
— O que...?
— Não se lembra de mim, Cris? —Perguntou se aproximando.
Ela me envolveu em um abraço desajeitado e falou ao meu ouvido:
— Me chame de Rita e finja me reconhecer, depois venha comigo.
— Ah... Hm, é... Eu lembro, Rita... —Falei confusa. — Como vai?
— Ótima, não quer vir comigo? Me faça companhia um pouco, faz tanto tempo...
Ela abriu um sorriso amigável para a recepcionista que não pareceu achar nada estranho, e seguiu me puxando para o elevador. Quando as portas se fecharam e ficamos à sós, me senti encurralada, em perigo. Lembrei das palavras de Karan... Não podia gritar por ele agora, só porque me sinto uma menininha sendo levada para a casa da bruxa má.
As portas se abriram e ela caminhou à frente pelo corredor na cor marrom e abriu a porta de um dos quartos. Eu entrei passando por ela em silencio e aguardei que ela fechasse a porta.
— O que foi aquilo, Hanna? —Perguntei.
— Se refere ao nome falso? —Ela deu de ombros. — Nada importante.
Eu ia insistir, mas ela me interrompeu antes mesmo de começar.
— Como ficou viva, Cristina? —Foi direta.
— Ah... Eu, não sei...
Ela me olhou desconfiada. Droga! Pense, Cristina. Não pode dar bandeira...
— Eu corri logo depois de você. —Menti.
Hanna semicerrou os olhos para mim.
— Por que ele não foi atrás de você?
— Eu não sei, como vou saber...? Eu...
Parei ao perceber que ela perguntava como se fosse claro para ela que ele iria me matar. A encarei, pronta para virar o jogo.
— Sabia o que ele era? —Soou como uma acusação. — Sabia que ele iria acordar? Hanna, você sabia o que ia acontecer?! —Meu tom de voz se alterava à cada frase.
Ela apenas suspirou e revirou olhos.
— Nos levou lá para que ele nos matasse? —Falei com raiva.
— "Ele"? —Ela pareceu perceber algo. — Sabe quem "ele" é, Cristina?
Eu não respondi.
— Sabe o QUÊ ele é? —Ela se aproximava. — Você não fugiu de verdade, fugiu, Cristina?
O tom dela era de acusação, sua postura ficou agressiva e eu recuei.
— Ele te deixou fugir? —Insistiu chegando mais perto. — FALE!
Corri para a porta quando ela gritou, mas ela barrou meu caminhou e me jogou contra a mesa de centro de vidro, me fazendo cair em cima dela e quebra-la. Tentei me levantar, mas sentia uma dor nas costelas. Rastejei para longe dos cacos e a vi trancando a porta.
— Ele te deixou fugir? —Perguntou de novo.
Hanna me segurou pelos cabelos me puxando para cima, para que eu ficasse de pé, e quando fiquei, a empurrei contra o vaso enorme de rosas. O vaso caiu quebrando-se e Hanna manteve o equilíbrio e ficou de pé.
— Você presenciou tudo, ficou viva, sabe o que ele é... —Ela rosnava com raiva. — Por que ele te deixou viva?
— Por que fui eu quem o despertei, e você deveria saber disso. —Respondi.
— Você cortou...
— Pois é. —Confirmei com tom de deboche. — Por que essa cara, Hanna? Achou que colocando um bando de humanos na mesma sala que ele naquele estado, iria acorda-lo?
Eu estava jogando. Iria provoca-la para que ela me dissesse algo útil. Hanna parecia ficar enfurecida a cada palavra minha.
— Foi o meu sangue que o acordou. —Afirmei sorrindo. — Não me diga que esse era o seu propósito... Era? Acordar o vampiro? E depois?
— Sua cachorra!
Ela berrou avançando em mim e me dando um tapa forte na cara, que eu devolvi duplo, um indo e outro voltando. Eu não ia apanhar pra essa louca! Ela caiu por cima de mim e montou em meu corpo, tentando me estrangular com as mãos.
— Ele me daria a vida eterna, sua desgraçada. —Sibilou ela. — Ficaria grato à mim e me recompensaria...
— Por... Quê... Você acha... Que... Ele fa...ria... Isso? —Falei com dificuldade.
Joguei-a para o lado e rastejei para longe, mas ela já estava de pé e me chutou na barriga.
— Eu sei que sim! —Gritou descontrolada. — Mas você tinha que se meter, não é? Cachorra!
— Como o... Encontrou? —Tossi.
— Ah, não foi fácil... —Ela parou de me agredir, estava entusiasmada em falar sobre sua descoberta. — Viajei muito pela Europa, conheci lugares que ele frequentou... Tive que estudar a vida dele, ate descobrir que havia sido aprisionado e obrigado a dormir. Levei anos para localizar o caixão... —Me chutou rindo. — Ate o idiota do Johann Vicent estava interessado nele. Ah aquele maldito!
Quando ela preparou outro chute, eu puxei sua perna que a apoiava e a derrubei no chão. Subi em cima dela e depositei uma sequencia de tapas em sua cara, puxei seus cabelos curtos e dei um ultimo soco até ela espetar um caco de vidro em minha coxa.
Eu gritei de dor e enquanto ela saia de debaixo de mim e agarra outro caco grande e se arrastava ate mim.
— Teve sorte por ele ter lhe deixado viva, mas não vai ter a mesma sorte comigo.
Nesse momento a porta se abriu com um baque e alguém entrou. O homem arrancou Hanna de perto de mim e a ergueu do chão pelo pescoço.
— Como sabia de mim? —Ele rosnou para ela. — Como me encontrou? O que queria? ME DIGA!
Reconheci ligeiramente as costas de Karan e então tudo escureceu. Me sentia submersa em meio ao cansaço. Vez ou outra eu voltava à consciência e me via deitada no banco de trás de um carro... Quem estava dirigindo? Eu não conseguia ver... Meus olhos pesavam tanto...
Tive flashes de visão, via Karan sujo de sangue,Hanna com um olhar de pavor no rosto, depois fúria e magoa ao olhar pra mim.Eram lembranças ressentes, eu sabia que sim. Sentia uma dor em algum lugar, mas não sabia onde. Eu choramingava e gritava, chamava por Karan... Ele não me respondia, ele me deixava sozinha...
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Pulsação
VampireCristina Levy é estudante de medicina e é sorteada junto com mais cinco colegas de classe para assistirem uma dissecação de um cadáver encontrado por arqueólogos na Espanha. O que ela não esperava era que uma simples gota de seu sangue despertaria...