Cristina.:
Johann estava completamente atordoado. Posso apostar que através do que eu falei, ele encontrou falhas nas supostas verdades de Walkiria. Nesse instante a porta do quarto se abriu e ela entrou, seu vestido completamente transformado. Suja, rasgada, assanhada, ferida... Mas viva. Meu coração se apertou.
— Onde está Karan? —Perguntei segurando o choro.
Ela sorriu debochada e suspirou dando de ombros.
— Não... NÃO! —Solucei. — O que fez com ele?
— Johann cale a boca dela e prepare tudo para a partida, vou leva-la comigo, quem sabe ela tem um pouco de juízo e me jura lealdade. —Olhou para mim e disse: — Se não, bom, arranco sua linda cabecinha fora. Ah, e não esqueça de tirar as joias dela, Johann. São minhas por direito.
— Você não vai tocar nas joias, ouviu? —Berrei. — Eu morreria para evitar que as pegasse!
— Se você quer assim... —Ela deu de ombros. — Ande Johann, estou com pressa.
Johann permanecia imóvel nos olhando. Rezei para que ele a enfrentasse. Vamos Johann, seja homem! Meu peito se encheu de esperanças quando ele se levantou e a fitou, mas então saiu porta à fora. Tristeza tomou conta de mim. Ela matou Karan e agora estou em suas mãos. Johann era minha ultima esperança, e acabou.
— Ohn, tadinha. —Debochou ela chegando perto. — Está tristinha pela morte dele? Se eu fosse você, me preocuparia comigo mesma.
— Vá para o inferno, vadia! —Xinguei.
Ela semicerrou os olhos para mim, mas logo começou a gargalhar. Seu braço voou em minha direção e me segurou pelo pescoço, apertando forte e me fazendo começar a sufocar.
— Cuidado com sua língua, se não quiser morrer aqui mesmo.
Eu estava suspensa no ar pela mão de Walkiria que me sufocava. Balancei a perna e acertei um chute em seu estômago, com força, fazendo-a me largar em cima da cama e recuar um pouco, recuperando o fôlego.
— Desgraçada! —Esbravejou.
Ela veio na minha direção de novo, mas dessa vez eu já estava de pé, a empurrei em direção a cama, me afastei e peguei o jarro em cima da mesa, jogando-o contra ela e a acertando bem no meio da testa. Walkiria caiu e ficou alguns segundos gemendo no chão, foi minha deixa para fugir do quarto.
A porta deu em um corredor enorme cheio de outras portas, mas eu não sabia para qual direção ir, então corri para a esquerda, encontrando uma escadaria que levava para baixo, eu as desci ainda correndo, sentindo meu coração na boca. Já estava no meio da escada quando a droga do salto me fez entortar o pé e rolei escada à baixo.
Senti todos os lugares do meu corpo latejar pela queda, e então ouvi movimentos, como se de repente a sala estivesse cheia. Tentei levantar, mas uma coisa fina foi pressionada no meu peito esquerdo, bem acima do coração, me fazendo gritar de dor. Outro grito ecoou pela sala, era...
— DEIXE-A! —A voz de Karan.
— Johann, segure-o. —Walkiria mandou.
Percebi que a coisa fina pressionada em meu peito era o salto de Walkiria. Abri os olhos e vi ela em cima de mim, segurando uma faca prateada de cabo de madeira entalhado com pequenas pedras. Ela estava me prendendo ao chão com seu pé e o salto em meu peito, a testa tinha uma ferida que derramou sangue pelo seu rosto, presentinho meu. Senti vontade de sorrir por isso.
Olhei ao redor e vi Karan com a camisa ensopada de sangue, uma expressão de dor e ódio no rosto, preso aos braços de Johann que assistia à tudo indiferente. Fechei os olhos de novo, sentindo a dor no peito aumentar. O salto agulha de Walkiria estava me rasgando a carne.
— Eu havia lhe dito que deixaria você ver com seus próprios olhos enquanto eu a matava, não foi Karan? —Perguntou Walkiria, podia ouvir o sorriso em sua voz.
— Nunca lhe perdoarei se fizer isso, Walkiria! —A voz de Karan tremeu... Ele estava chorando?
— Está chorando, Karan? —Perguntou ela, surpresa. — O que viu nela que lhe faz temer tanto assim perdê-la?
— Vi coisas que você nunca me mostrou. —Respondeu ele. — Vi o medo da morte ao olhar em seus olhos pela primeira vez, vi solidariedade falar mais alto que a razão, vi o amor surgir onde parecia ser improvável, vi a esperança desabrochar aos poucos... Vi toda uma vida que nunca teria com você. Cristina é a mulher que você nunca será para mim.
Enquanto ele falava, um flashback passou em minha mente de cada momento aonde tudo isso aconteceu. Quando ele despertou e me viu na sala completamente amedrontada e paralisada. Quando cedi o quarto para ele e o levei ao shopping, aceitei ajuda-lo mesmo sabendo que o lógico a se fazer era dar um jeito de me livrar dele. Quando comecei a perceber que estava me apaixonando e não quis aceitar... Quando ele teve esperança e esperou que eu aceitasse que o queria. Quando nos amamos...
Senti lagrimas escorrerem pelo meu rosto, mesmo de olhos fechados, eu estava chorando. Eu o amava, não queria perde-lo e nem queria que ele sofresse por me perder. Abri os olhos e vi Walkiria tocada por suas palavras, mas não era compreensão o que ela sentia. Era inveja. Ela olhou para baixo, para mim e apertou ainda mais meu peito, me fazendo gemer de dor.
Agarrei sua outra perna que lhe sustentava no chão e a puxei fazendo ela perder o equilíbrio e cair. Girei e subi em cima dela, sufocando seu pescoço com minhas próprias mãos, enquanto ela se debatia embaixo de mim, tateando o chão a procura de alguma coisa.
— CRISTINA! —Karan gritou.
Desviei o olhar de Walkiria já roxa embaixo de mim e o olhei. Ele estava em pânico, se debatia ferozmente para soltar-se de Johann que o segurava com certa dificuldade e esforço. Então senti um golpe contra meu abdômen. A lamina fria da faca entrou em mim, me fazendo gritar e aliviar a força em volta do pescoço de Walkiria.
Walkiria me empurrou de cima de si e se levantou, me olhando triunfante. Agarrei o cabo da faca e o puxei, tirando a lamina de dentro de mim enquanto eu gritava de novo. Sentia uma enorme dor e o sangue se esvaindo de mim. Minha vista começava a ficar turva quando desviei o olhar de Walkiria para Karan, desesperado para vir ate mim, mas impedido por Johann.
— J-Johann... —Tentei falar, mas sangue saiu da minha boca. — Seja h-ho... Homem...
Vi vagamente sua expressão torna-se de dor e tristeza e então ele largou Karan que num milésimo de segundo tinha Walkiria nos braços e rasgava seu pescoço. Ela gritou de dor e então seu grito cessou em sua garganta quando ele arrancou sua cabeça e a desmembrou. Quando seus pedaços caíram no chão, tornaram-se ressecados, cinzas e nojentos, me fazendo lembrar do estado de Karan quando estava adormecido sobre a mesa no instituto.
Minha mente estava ficando embaçada, mas eu sorri satisfeita por ver aquilo. Karan estava avançando para Johann, mas parou quando me ouviu chama-lo.
— K-Karan... Karan.
Instantaneamente ele estava ao meu lado, me puxando para seus braços. Seus olhos azuis estavam vermelhos e marejados de lagrimas, ele afagava meu rosto.
— Johann... Não. —Tentei falar. — Não... M-mate... Não...
— Tudo bem, shhh. —Ele tentava segurar o choro. — Vai ficar tudo bem... Vai...
Karan estava em prantos, ele sabia o que ia acontecer. Eu estava morrendo, já me sentia fraca e quase não conseguia manter os olhos abertos.
— E-eu... amo. Você. —Falei.
Ele abriu um sorriso lindo, mas tão triste que me partiu o coração. Ele estava sofrendo. Não queria que ele sofresse. Tive vontade de chorar também. Fiz um esforço e ergui a mão, que chegou trêmula e fraca ao seu rosto, mas consegui afaga-lo por um breve momento. Então tudo escureceu e a ultima coisa que ouvi foi o grito de dor de Karan, seguido de um soluço que balançou meu corpo frágil em seu colo:
— NÃÃOOO!
***
Reta final, gente :/
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Pulsação
VampireCristina Levy é estudante de medicina e é sorteada junto com mais cinco colegas de classe para assistirem uma dissecação de um cadáver encontrado por arqueólogos na Espanha. O que ela não esperava era que uma simples gota de seu sangue despertaria...