Capítulo 24

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Arthur Mendes

Seis meses.

Seis meses desde que minha vida mudou para sempre. Desde que descobri que tinha um filho, que o passado que eu achei ter deixado para trás ainda estava tão vivo quanto antes.

E agora, aqui estava eu, jogando futebol no quintal com Lucas e ouvindo sua risada ecoar como música nos meus ouvidos. Nunca achei que algo tão simples pudesse trazer tanta felicidade.

Olhei pela janela e lá estava ela, Isadora, me observando com aquele sorriso contido, o mesmo que me deixava desnorteado na faculdade. O mesmo que ainda tinha o poder de mexer comigo como ninguém.

Depois de algumas brincadeiras e o jantar improvisado que prometi — uma pasta com molho de tomate e um pouco de pão de alho, nada digno do talento culinário dela — coloquei Lucas para dormir enquanto Isa terminava de lavar a louça. Ele se agarrou no meu pescoço, como fazia toda noite agora, e me deu um beijo na bochecha antes de fechar os olhos.

Eu nunca soube que um gesto tão simples podia significar tanto.

Quando desci para a sala, encontrei Isa sentada no sofá, o cabelo solto caindo nos ombros, um ar exausto, mas tranquilo. Ela me olhou e deu um leve sorriso antes de pegar o controle remoto e mexer na TV.

— Você tá sempre aí, né? — ela comentou, a voz baixa, quase como se estivesse pensando alto.

Me sentei ao lado dela, deixando um espaço entre nós, mas ainda perto o suficiente para sentir o cheiro suave do perfume dela.

— Sempre que puder.

Ela me encarou por um momento, como se avaliasse o que eu tinha dito, e então desviou o olhar.

— Eu não esperava isso de você, sabe?

— O quê? — perguntei, confuso.

— Essa... constância. Você sempre foi tão... impulsivo.

Dei um leve sorriso, reconhecendo a verdade nas palavras dela.

— Eu sei. Mas algumas coisas fazem a gente mudar, Isa. Quando eu vi o Lucas pela primeira vez, quando percebi o que eu tinha perdido nesses anos... foi como levar um soco no estômago. Eu não ia deixar isso escapar de novo.

Ela não respondeu imediatamente. Em vez disso, cruzou os braços e apoiou os pés no sofá, como fazia sempre que estava pensando em algo sério.

— Eu fico esperando você desistir. — A voz dela era baixa, quase um sussurro. — E odeio isso. Odeio que minha primeira reação seja achar que, a qualquer momento, você vai sumir.

Senti um aperto no peito.

— Eu não vou, Isa.

Ela soltou uma risada curta, sem humor.

— Você pode dizer isso agora, mas e quando as coisas ficarem difíceis? Quando o Lucas crescer e começar a questionar? Ou quando sua carreira voltar a te puxar?

Cheguei mais perto, olhando diretamente para ela.

— Eu não posso mudar o que aconteceu no passado, Isa. Mas posso prometer que vou estar aqui. Não porque sinto culpa ou obrigação, mas porque eu quero. Porque vocês são minha prioridade agora.

Ela piscou algumas vezes, como se processasse o que eu tinha dito.

— Às vezes, parece bom demais pra ser verdade, Arthur.

— Então deixa eu te mostrar que é.

O silêncio se instalou entre nós, mas não era desconfortável. Era cheio de coisas que não precisavam ser ditas.

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