A chuva caía fortemente no asfalto da rua deserta. A casa de campo longe do condomínio tinha apenas uma pequena luz indireta laranja de um abajur. Estrelas bem brilhantes iluminavam o céu sem nenhuma nuvem no meio da noite.
Lendo a Divina Comédia em uma poltrona na sala de estar, uma mulher bebia um pouco de vinho com seus olhos absorvendo palavra por palavra e imaginando todo o cenário fictício em sua mente relaxada. A respiração suave, os lábios bem pintados pela bebida.
Era sua rotina.
Assim como passear sempre de manhã com seu cachorro, a dieta normocalórica, o trabalho como professora de educação infantil, chegar de carona com sua colega de trabalho e depois de um banho demorado terminar suas tarefas e leitura.
Yuta sabia disso tudo.
Desde a sua série favorita até o que gosta de comer quando chega o domingo à noite, onde fica melancólica pela perda do seu avô recente. E como uma boa mulher que é, o tratava com tanto carinho como um segundo pai.
No campo aberto do seu grande quintal, na chuva insuportável que fazia, no frio da noite e no calor do seu amor nada platônico, Okkotsu a vigiava como um verdadeiro espírito obsessor. O moletom encharcado com o boné, as mãos por dentro do tecido como se aquilo adiantasse alguma coisa.
Olhos vidrados, mãos trêmulas de nervosismo e o seu pau estralando com a visão sua de lingerie.
Okkotsu se perguntava se essa obsessão era um reflexo de uma solidão própria. Ao mesmo tempo, se a maneira que a sua mente trabalhava o permitia ter uma obsessão como tal. Afinal, ele nunca tinha se apaixonado por ninguém.
Seus lábios lambem seus beiços imaginando o sabor do beijo com gosto de vinho tinto.
Hoje seria o dia que iria se apresentar.
E tudo bem se ela não gostasse dele, ele faria com que gostasse de qualquer jeito mesmo. Tanto faz se fosse sangrento, doloroso ou doentio o bastante para a sociedade o julgar.
É um homem apaixonado. Não é isso que um homem louco de amor faz?
Tinha mais contras do que prós. Como o fato dele ser bem mais novo, um doente obcecado com problemas mentais...Mas o amor rompe barreiras.
Pegando o seu celular, começou a digitar rapidamente para seu número favorito sentindo os quebradiços da tela.
Era a primeira vez que entrava em contato diretamente com ela.
Além disso, no apartamento apertado que tinha no centro da cidade, várias fotos e objetos pessoais. Escova de dente usada, fio de cabelo, calcinha, resto das balas doces que comia...
Quando Rika ainda existia, pressionava a maldição a cuidar dela a qualquer custo. Vigiando sua casa e fazendo com que qualquer homem com segundas intenções vá embora.
Ele parou no meio do caminho.
O que iria dizer?
Mesmo fazendo tudo isso sem um pingo de vergonha, Yuta não sabia falar com mulheres. Era meio óbvio, se fosse um cara normal poderia sim conquistar qualquer uma. Porém, a única que brilhava na sua visão era S/N. Foda-se as outras.
" Uau! Você fica muito sexy com essa lingerie :0 "
Em poucas palavras, acabou soando esquisito.
Como mulheres mais velhas gostam de ser tratadas?
Sentia seu queixo estremecendo não só pelo frio mas também pelo nervosismo. A mensagem já foi enviada e visualizada, não podia apagar.
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