Cheguei alguns minutos mais cedo no colégio, os corredores ainda estavam vazios, e a culpa disso é da Olívia que me fez sair de casa mais cedo, segundo ela, para dar tempo de passar na biblioteca e terminar um trabalho que se esqueceu de concluir em casa.
Fiquei sentada um bom tempo no chão do corredor, encostada em meu armário enquanto lia mais um dos livros que chegaram na mesma caixa que o outro. Este já se tratava de um romance atual, bem estruturado e diferente do melhor romance que já li na vida, era impresso, com uma narrativa completamente diferente. Um pouco mais fria, sem sentimentos. A história é até boa, mas não me encantou.
Não era do mesmo autor.
Ouvi uma música vinda do fim daquele mesmo corredor do estúdio, e vencida pela curiosidade, caminhei até lá, parando novamente na porta que continha um visor de acrílico possibilitando observar sem precisar abrir a mesma.
Aléxia treinava os mesmos passos de antes, sozinha e concentrada, totalmente entregue aos movimentos. A música parecia conduzi-la, e não o contrário. Ela parou em um determinado refrão, então foi até o MP3 e voltou a música do começo.
— Eu já te vi! — sua voz ultrapassou a porta com diversão. Finalmente me olhou pedindo em um aceno que entrasse.
— Desculpa. Te atrapalhei? — entrei fechando a porta atrás de mim.
— Não. Eu sempre travo nessa parte. — respondeu ofegante colocando as mãos na cintura.
— Seria um Fouetté? — Aléxia sorriu, assentindo. — Posso ver?
Ela ajustou a música novamente e se posicionou, ligando alguns passos anteriores para dar continuidade, e como suspeitei, no mesmo refrão ela conseguiu iniciar o passo, mas errou outra vez.
— Uou! — seu preparo técnico é evidente. Ela não parece nenhum pouco despreparada, mas sim, insegura!
— Não vai, simplesmente não vai. — suspirou frustrada.
— Você é impecável, só precisa confiar um pouco mais, de novo. — empolguei-me e quando vi, já estava deixando minha mochila no chão. Aléxia voltou a música e novamente tentou, errando exatamente nas mesmas partes.
— Não vai! — ofegou exausta. Eu já tinha estudado seus passos.
— No meio do Fouetté, você está deixando a dinâmica do movimente te levar para subir na meia ponta. E não é, é Relevé! — seus olhos brilharam ao me ouvir falar.
— Sabia! — sussurrou em um sorriso, voltando a posição novamente. Tentou mais uma vez.
— Isso, Plié e sobe! — ela aceitou as coordenadas, mas infelizmente errou. — Aqui, presta atenção. — foi minha vez de marcar posição. — Você está fazendo dupla Fouetté... e aí você deixa a dinâmica te levar. — demonstrei. —Não, afunda Plié e Relevé... Plié e Relevé, marca o Plié lá embaixo.
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Fragmentos - Livro 1
Romance🥈2° Lugar na categoria DRAMA. Do concurso #Enredodourado 2° Edição. #22/11/20 | #01bestseller Perto de completar seus 17 anos, Isabela Callegari retorna a cidade natal da sua mãe, onde fará de tudo para fugir de um passado que não lhe pertence...