— Nem sempre temos o que queremos na hora meu amor, e nem tudo que queremos podemos ter. Você tentou me ensinar isso Emma. Do jeito mais materno e menos doloroso possível. Acontece, que eu pensei que valia somente para aquele carrinho que outro menino estava brincando no parquinho, eu queria de qualquer jeito, então pedi que você comprasse um pra mim, e você me deu o sermão que valeria para o resto da minha vida.
Somente os bips do monitor cardíaco era audível naquele quarto gelado de hospital. O cheiro de soro fisiológico e luvas de látex já era tão famíliar, que bastavam alguns minutos para me acostumar com ele e não senti-lo mais.
— Hoje, mais de dez anos depois, eu vejo que ainda não aprendi a lição. Quer dizer, eu sei que não posso ter o que é dos outros, e graças a isso também, eu aprendi que deveria conquistar minhas próprias coisas. Funcionou maior parte da minha vida... Até eu querer uma pessoa.
Forcei um sorriso, imaginando que ela também estaria sorrindo agora.
— Pessoas não são compráveis, umas até são, mas ela não. Eu só queria um sorriso, mas não qualquer sorriso, por que isso é o que ela mais faz comigo, e eu me sinto um puto orgulhoso, me tornaria um bobo da corte só para ganhar esses sorrisos todos os dias, mas eu quero outro. Um que recebo quase todos os dias de garotas que não dou a mínima ou até mesmo um rubor... sim poderia ser um rubor, um sinal entende? Um sinal de que eu poderia avançar, mas eu me sinto a porra de uma criança mimada, querendo ter o que não posso. — Suspirei pesadamente.
Eu queria simplesmente deixa-la em casa e desistir de bancar o palhaço, mendigo de afeto. Implorei que ela fosse como as outras e que acabasse logo essa sensação dentro de mim que muito provavelmente seja vontade, pura e simples. Meu corpo e mente acham que eu tenho posse sobre ela, por querer tanto assim, mas na verdade é porque ainda não a tive.
— Não estou te culpando Emma, mas acho injusto que você vá, sem me ensinar a conquistar uma garota. Tenho a impressão de que estou fazendo tudo errado, ou pior, de que não tenho a mínima ideia do que estou fazendo. — Ri sozinho observando seu rosto magro e apático.
Essa era uma das piores sensações do mundo pra mim. Não poder ouvir sua voz, não poder ouvir o que ela tinha a dizer sobre isso. Presumo que estaria toda abobalhada, gargalhando e fazendo piadas que me deixariam constrangido, antes de dizer que estaria orgulhosa e ansiosa por conhece-la.
Me levantei da poltrona ao lado do leito, e deixei um beijo demorado na sua testa. Estava se tornando cada vez mais difícil. Era como se a qualquer momento, eu fosse entrar aqui e não a encontrar mais. Como se eu estivesse vivendo uma contagem regressiva.
— Isso é muito importante. — Ergui meu corpo assim que ouvi a voz do médico. Ele estava parado na porta, nos observando de braços cruzados. — Esse diálogo, essa presença, tudo isso é muito importante.
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Fragmentos - Livro 1
Romans🥈2° Lugar na categoria DRAMA. Do concurso #Enredodourado 2° Edição. #22/11/20 | #01bestseller Perto de completar seus 17 anos, Isabela Callegari retorna a cidade natal da sua mãe, onde fará de tudo para fugir de um passado que não lhe pertence...