Capítulo dez, sobre ordens

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Se forem do Gregory, não desobedeça.

E nem questione, se possível.

Ao menos que você seja idiota ou tenha um gosto secreto pelo masoquismo.


Na verdade, pensando melhor, não.

Nem assim.


Depois dos humanos saírem para se encontrar com a menina do cabelo espetado, eu decidi voltar para o lugar parecido com o céu.

Péssima ideia.


Aliás, péssimo e suas variações haviam se tornado adjetivos bastante recorrentes lá em cima desde o aparecimento do meu humano das letras faltantes.

E por um motivo simples e inútil.

Jason.


Ele parecia obcecado com os meus desaparecimentos e atrasos.

E fazia questão de verbalizar isso toda vez que tinha uma oportunidade.


-De novo com o seu humano de estimação, Rose?

Eu respirei fundo e mordi o lábio antes que a vontade de voar no pescoço dele fosse maior que a minha sensatez.

Foi por pouco, mas a sensatez venceu.

-Por que você não cuida da sua vida e me deixa em paz, Walbrick?


Ele levantou os braços e começou a andar com aquele sorrisinho insuportável no rosto.

-O Gregory quer falar com você, McQueen. – ele falou com a voz ácida. Eu quase podia sentir o veneno invisível deixando seus lábios para se depositar em meu ouvido.

-Por que eu acreditaria em você?

O idiota riu.

-Porque se eu estiver falando a verdade e você não for... acho que o Gregory não vai gostar.


Eu respirei fundo outra vez.

A sensatez e a vontade de pular no pescoço estavam iguais agora.

Cada uma de um lado da minha cabeça, jogando seus argumentos no meu cérebro e brigando para ver quem ia vencer aquela.

E a sensatez venceu.

Outra vez.

Por muito pouco.

Mas não por muito tempo.


Deixei o inútil do Jason falando sozinho.

Verdade ou não, eu não ia arriscar. Não quando se tratava do Gregory.


Fui deslizando até a sala dele, no ponto mais alto do lugar parecido com o céu.

Ele gostava de observar tudo o que todos estavam fazendo, ao que parecia.

Desprezível.

Mas eu não ia insultá-lo naquele dia. A sensatez ainda estava vencendo.

Infelizmente.


-Gregory? – eu arrisquei quando entrei no escritório gigantesco.

Não que fizesse alguma diferença.

-Rose McQueen... – ele falou com aquele tom monótono de sempre, quase me abrigando a virar para ir embora. – Então o Walbrick te deu o recado...


Revirei os olhos sem que ele visse.

Observação idiota.


-Foi. – respondi mordendo o indicador. Era aquilo ou cuspir naquela cara insuportavelmente sem graça dele. – Estou aqui.

Ele balançou a cabeça e começou a andar em círculos.

Respirei fundo.


-O Walbrick tem me falado do seu comportamento, McQueen. – ele começou sem me encarar - Não posso dizer que eu esteja os aprovando, exatamente.

Claro.

Que imprevisível.


-Gregory, vamos manter aquele imprestável longe da nossa conversa. – era o limite do meu autocontrole – Por que foi que você me chamou?

-Eu tenho uma missão para você, McQueen.

Fiz cara de indiferença.


O que eu tinha falado sobre não desenvolver?

Exatamente.


Movi as mãos em círculos, impaciente.

-Parece que vai haver um acidente no sábado. – ele continuou – Um acampamento na floresta, um humano rebelde, um urso... Nada muito fora dos padrões, a não ser a parte do urso. Normalmente o problema é com carros, postes, e...


Mas eu não estava ouvindo mais nada.

A voz de Gregory era outra vez o chiado distante de uma estação fora do ar.


Humano rebelde, floresta, urso.

Eram todas peças de um quebra-cabeça se juntando no meu cérebro com um sentido que eu queria ignorar com todas as minhas forças.


Ou não.

Era aquilo que eu queria, não era?

Eu o odiava, afinal.

Eu finalmente o teria pessoalmente em meus braços e não haveria nada que ele pudesse fazer a respeito.


Ah, claro. Esqueci de contar.

Mas a essa altura vocês já devem saber para onde meu humano irritante das letras faltando estava indo.


E que ele iria pela última vez.


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O homem que me chamava de anjo [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora