Ah, elas aparecem.
Cedo ou tarde, mesmo que você insista em escondê-las, elas saltam de seus poros e inundam seu mundo até que você decida se render.
E às vezes pode ser tarde.
Às vezes pode ser doloroso.
Exatamente como eu estava prestes a descobrir.
Dizem que um criminoso sempre volta ao local do crime, e humanos estúpidos também.
Adivinhe para onde eles estavam indo?
Exatamente.
Infelizmente o ferimento na perna do meu humano inútil e irritante não tinha sido tão grave como eu gostaria, o que significava que ele já estava andando outra vez.
Sem muletas.
E montando acampamento naquele mesmo lugar de semanas atrás.
- Você precisa enfrentar seus medos – o primo bonitão disse a ele, terminando de passar a armação por um dos lados da barraca. – Sabe, não é bom ficar traumatizado.
Ah, mas é claro que é.
É uma ótima idéia, uma idéia incrível, na verdade.
Alguns traumas não deveriam ser quebrados jamais, ser atacado por um urso muito menos.
Mas humanos são idiotas.
São ridículos e não pensam.
E só servem para causar problemas.
- Eu sei, vou buscar lenha mais tarde. – meu humano inconseqüente respondeu um tanto apreensivo, mas depois seus lábios carnudos se contraíram em um sorriso que sulcou as covinhas malditas em suas bochechas brancas. – Talvez eu encontre meu anjo lá outra vez.
Oh.
Oh.
Oh.
Não, não, não, humano.
Fique bem aí, não se mexa.
Não se atreva a dar um passo na direção daquela floresta, não senhor.
- Quando é que você vai desistir dessa idéia, Ian? – insistiu o primo, fazendo a primeira pergunta sensata do dia. – Você viu coisas. Você sabe que não existe.
- Existe sim e eu vi. – seus olhos azuis de repente ficaram sem foco, como se ele estivesse perdido em uma lembrança distante. Eu sabia que estava. – E não foi só lá. Foi no hospital, e na piscina e...
- E?
- Deixa pra lá. O que importa é que ela vai me proteger. Sempre me protegeu.
Oh, não.
Não, não, não, não.
Não.
Humanos devem perder o resto de juízo que lhes resta quando passam por experiências de quase morte.
Ou talvez esse fosse só o caso do meu humano.
Era difícil saber.
E eu não ia ter tempo de descobrir.
Porque embora estivesse completamente fora de si naquele momento, ele tinha razão em uma coisa:
Eu tinha o protegido.
Mas não conseguiria protegê-lo outra vez.
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O homem que me chamava de anjo [FINALIZADA]
ParanormalEu poderia dizer que essa é uma história com um final feliz. Uma história de amor, talvez, e então você se importaria em lê-la. Mas não. E não, simplesmente porque eu não estou aqui para te agradar, e sim para reunir o que sobra da minha memória fra...