Capítulo dezoito, sobre persistência

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Devia ser o nome do meio de Jason, logo depois de Irritante a Insuportável.

Porque sim, eu sabia que ele era persistente.

Mas não daquele jeito.


Eu estava espiando meu humano deplorável, observando-o se arrastar com uma muleta enquanto não podia colocar a perna machucada no chão.

Ainda assim ele se movia, provando mais uma vez que a Seleção Natural já não é mais como era antigamente. Ele devia estar morto.

Eu devia tê-lo matado.


E ia me arrepender daquela decisão.

E da outra que tomaria naquele dia.


Mas não vamos nos apressar.


- Ei, cara. – alguém chamou de dentro de uma caminhonete vermelha que parou ao lado do humano. Reconheci a voz. Elas perfurariam meus ouvidos em qualquer lugar. – Quer uma carona?


Oh, mas quanta audácia.

O que será que Jason queria? Dar seu showzinho? Fazer o corpo do meu humano se esmagado e virar geléia em um acidente premeditado de carro, só para que eu não pudesse mais olhar para ele?


Que golpe baixo.

Materialização.

Típico do Jason e seu sadismo doentio.


Ah, mas aquilo não ia acontecer.

Não que eu me importasse, o humano já deveria estar morto, afinal.


Mas aquilo não tinha a ver com o humano, não senhor. Tinha a ver com destruir a existência miserável de Jason e atrapalhar todas as suas empreitadas daquele dia em diante.

O que aconteceria se ele não conseguisse levar a alma do humano?


É o que nós íamos descobrir.

Ou não – mas essa já é outra história.


- Só tem lugar pra um. – ele continuou, fingindo ser estupidamente amigável. Vi os olhos azuis do meu humano se contraírem, como se quisesse identificá-lo, mas não conseguisse. É claro que não iam conseguir. – Estou indo para a Universidade, fazemos Cálculo juntos.


Não acredite humano, não acredite.

Fique onde está.


Sua cabeça confusa se virou na direção do primo loiro bonitão, que fez sinal de tudo bem, encorajando-o.


Idiota.


- Tudo bem, Ian, eu vou andando. – o primo respondeu pateticamente, com um sorriso resignado nos lábios.


Ah, os bons samaritanos.

Como eu odeio todos eles.


Meu verme se remexeu, fazendo coisas doerem.

Eu não gostava daquilo.

Precisava fazer algo. Ele me dizia que eu precisava.


E eu fiz.


- Ahn, Jason? – chamei assim que saí de trás de uma loja do outro lado da rua imunda, tomando o cuidado estampar um sorriso impecável nos lábios, mostrando que também sabia aquele truquezinho barato, e que não me importaria de jogar de acordo com as regras dele. Ah, não.

Jason se virou em minha direção.

Seus olhos escuros se esbugalharam.

Meu verme começou a dançar vitorioso, eu quase podia ouvi-lo cantando.


- Decidi que vou para a faculdade hoje, querido.


Vi o brilho de ódio nos olhos de Jason e atrevi-me a olhar para meu humano estúpido, que parecia ter acabado de ver um fantasma.

Quanta ironia.


Seu rosto irritantemente perfeito e arranhado estava branco feito papel.

Ele abriu a boca para falar.

Eu fiz que não com a cabeça.

Ele olhou para o primo.


- Não vou te deixar sozinho, Henry, posso ir andando também. Não está tão ruim assim.


Isso, isso.

Ouça-me pelo menos uma vez, humano miserável.


Entrei na caminhonete ao lado de Jason.

Meu humano continuou a andar com suas muletas e sua perna manca.


- Você acabou de cometer um erro, McQueen.


Sim, eu tinha cometido um erro.

Jason tinha cometido outro.


O homem que me chamava de anjo [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora