Era o que Jason queria.
Era o que eu devia querer, estava em minha natureza, afinal.
E aquele simples gesto acabaria com meus problemas.
Mas meu verme não queria.
Não podia.
Mas eu podia.
Rose McQueen podia e, daquela vez, não ia interferir.
O verme podia gritar.
Podia se espernear e devorar meu coração, mas eu não me envolveria.
Deixei o humano entrar na floresta sozinho quando os raios de sol começaram a ficar mais fracos.
Ele estava determinado, decidido.
Pronto para enfrentar seus medos estúpidos e se arrepender daquilo logo em seguida.
Porque ele ia se arrepender.
Ah, ia.
Humanos sempre se arrependem. Sempre.
Mesmo que mintam sobre o fato na maior parte do tempo, é só quando eles estão partindo dessa para uma nem tanto melhor que o fato se torna cristalino.
E aí é uma pena.
Mas então meu humano irritante desapareceu.
No instante em que perdi contato visual com ele, meu verme começou a girar a se contorcer em meu peito, gritando em minhas entranhas que eu deveria agir.
Que eu precisava sair correndo dali e encontrá-lo, antes que Jason fizesse isso primeiro.
Mas eu não podia me mexer, precisava acabar com aquilo.
Precisava deixar que ele morresse, porque só assim eu seria livre. Só assim retomaria minha vida, voltaria a andar no caminho certo.
E eu queria o caminho certo.
Não queria?
Claro que queria.
- Henry! – um grito explodiu da floresta.
Talvez eu não quisesse.
- Henry! – outra vez, mas eu sabia que só eu estava ouvindo.
Só eu.
E foi quando a voz grossa rasgou o ar e perfurou meus ouvidos que eu percebi.
Eu não queria o caminho certo.
Eu não queria caminho nenhum.
Só queria uma coisa, e talvez fosse tarde demais.
Tarde demais para ele.
Tarde demais para mim.
Tarde demais para nós.
Oh.
Meu verme dançou vitorioso quando escorreguei para dentro das árvores, passando pelo meio delas sem me importar em me parecer materializada.
Eu precisava chegar lá, ele queria que eu quisesse.
E eu também queria.
Rose McQueen queria.
Rose McQueen precisava do humano irritante e não teria problemas em gritar aquilo na cara de ninguém.
Nem na de Gregory.
Nem na de Jason.
E Jason estava lá quando cheguei, empunhando um graveto muito afiado, totalmente ensangüentado.
A luz da lua cheia refletiu em seus olhos escuros, quase como se comemorasse sua vitória inegável.
Ele tinha vencido.
Ele tinha atacado meu humano irritante, aquele de quem eu precisava desesperadamente.
Meu humano ia morrer, seu sorriso cercado por covinhas estaria congelado para sempre, seus olhos azuis não voltariam a enxergar o mundo, e ele nunca mais se agarraria com a garota do cabelo espetado.
E não havia nada que eu pudesse fazer a respeito.
Ou era o que Jason imaginava.
Se tinha uma coisa que eu tinha aprendido com os humanos é:
Eles tem o péssimo hábito de serem imprevisíveis às vezes.
E se tinha uma coisa que eu sabia sobre Jason é:
Ele nunca aprende.
Some dois mais dois e no segundo seguinte em que quebrei um galho de uma árvore próxima, ele já estava atravessado no estômago de James.
Seus olhos me encararam em choque, incrédulos com o que eu tinha acabado de fazer.
Porque aquilo não seria bom para mim, não senhor.
Mas eu não queria o bom.
Não queria o certo.
Eu queria ele.
- O que é que você está fazendo? – Jason conseguiu perguntar antes que eu cravasse o galho mais fundo em seu corpo, deixando bem claro que ele devia calar a boca. – Você está...
O que eu disse sobre não aprender?
Pois é.
- Eu estou abrindo mão da minha imortalidade – respondi entre os dentes, com o rosto o mais próximo possível do dele sem que eu tivesse vontade de vomitar, e lancei um rápido olhar ao corpo inerte ali ao lado. Alguma coisa doeu em mim. – Por ele.
Os olhos de Jason se arregalaram ainda mais, como se ainda duvidassem da minha palavra.
Ele não devia, àquela altura. Não era eu que estava com um galho fincado no estômago, afinal de contas.
- Mas você... você vai...
- Vou. – respondi em um tom monótono, que não revelava minha agitação interna. Eu não sentia mais o verme. Não sentia nada doer. – E você vai também, mas para outro lugar. – Girei o galho para cima e o empurrei com força, cravando-o em seu coração acelerado. – Adeus, Jason.
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O homem que me chamava de anjo [FINALIZADA]
ParanormaleEu poderia dizer que essa é uma história com um final feliz. Uma história de amor, talvez, e então você se importaria em lê-la. Mas não. E não, simplesmente porque eu não estou aqui para te agradar, e sim para reunir o que sobra da minha memória fra...