2°. Capítulo

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Explicações.

Giovanna:

Após tomar coragem para entrar e me deparar com o interrogatório de meu pai e Sônia, toco a maçaneta da porta da sala, mas antes mesmo Sônia gira a mesma, me fazendo encarar seus olhos arregalados e cheios de apreensão:

- Oh céus minha menina! - exclama abismada. Ela abre caminho para que eu entre. - O que houve com você?

- Nada de mais. - respondo com desdém. - Depois te conto tudo, mas agora preciso falar com meu pai. Onde ele está? - olho ao redor e em seguida para a mesma que continua encarando-me com cautela.

- Êee... Está na sala de estar. - responde quase que num sussurro.

- Vou falar com ele. - digo e caminho em direção à sala de estar.

Chego à sala e ele está sentado em sua poltrona lendo um jornal atentamente, até que percebe minha presença. Sua cara é de que está pronto para dar um sermão daqueles, mas percebendo meu estado ele diz:

- Filha onde você estava? O que aconteceu? Porque você está toda machucada? - indaga sem ao menos me deixar responder.

- Calma pai! Estou bem. - digo tentando acalmá-lo.

- Como calma Gil?! - diz incrédulo. - Você sai, volta desse jeito e ainda me pede calma? - grita. Nunca o vi assim tão alterado, tanto é que ele nunca gritou comigo. Um silêncio toma conta da enorme sala. Ele passa as mãos no cabelo e continua encarando o chão. Confesso que fiquei chateada por ele ter gritado comigo, mas para não agravar essa situação decido falar.

- Desculpa. - essa é a única palavra que consigo pronunciar. Sento no sofá, alguns minutos depois ele aproxima-se de mim sentando-se ao meu lado.

- Eu também devo te pedir desculpa. Eu não deveria ter gritado com você. É que quando te vi assim tão machucada, senti como se... - faz uma pausa e eu o olho. - Sua mãe cuidaria melhor de você. - não sei o que dizer, nunca fui muito boa com palavras, então decido apenas abraçá-lo. Ele aceita meu abraço, logo em seguida deposita um beijo em minha testa, do mesmo jeito que fazia quando ia me pôr para dormir.

- Nunca mais diga isso. - o repreendo. - O senhor é o melhor pai do mundo e eu não poderia ter outro melhor. - digo. - E eu te amo. - afasto-me para olhá-lo e como eu pensei, ele estava com os olhos marejados. Mas como ele não gosta de chorar na minha frente, logo se recompõe com um sorriso no rosto.

- Você que é a melhor filha que alguém poderia ter. - diz e logo seu olhar vai de encontro ao curativo em minha testa. Fico paralisada, sem saber o que fazer: O que eu vou dizer? - pergunto ao meu subconsciente. Meu pai continua me analisando com o olhar e enfim resolve perguntar.

- O que aconteceu? - indaga olhando nos meus olhos. Assim fica difícil mentir para ele que me conhece tão bem.

- Fui atropelada. - digo e dou de ombros. Ele faz uma cara de surpreso.

- Você o quê? - indaga levantando-se do sofá num pulo.

- É pai, isso mesmo que o senhor escutou.

- Alguém viu a placa? - indaga e eu nego. - É impressionante! Basta eu deixar você sair sozinha para alguma coisa te acontecer. - anda de um lado para o outro.

- Nem começa pai! - esbravejo. - E também nem sei por que tanta neurose. Já estou aqui e bem. Isso é o que importa, não é?! - digo impaciente.

- É claro minha filha. - diz, mas ainda não parece totalmente convencido. - Você viu pelo menos o rosto de quem te atropelou? - já vi que ele não vai sossegar enquanto não encontrar o "babaca".

- Não pai. Eu desmaie e um rapaz que estava passando na hora chamou uma ambulância. Deve ter sido um bêbado qualquer. - minto. Não quero aprofundar esse caso, até porque não houve nada grave.

- Não acredito que nem prestou socorros e que deixou você desmaiada. - diz conturbado.

- Tá pai! Mas não pense mais nisso. Agora eu só quero tomar um banho e aproveitar o resto do nosso fim de semana juntos. - digo fugindo do assunto.

- Está bem! Falamos sobre isso depois. Agora vá tomar banho que eu vou avisar Sônia para pôr a mesa. - deposita um beijo em minha testa e anda em direção à cozinha.

Subo a escada em direção ao meu quarto, deixo minha bolsa em cima da cama, separo meu moletom cinza e entro no banheiro. Alguns minutos depois, saio, visto o moletom, seco meu cabelo e calço uma sapatilha. Pego meu celular que deixei dentro da bolsa e vejo três ligações da Liz.

A conheci na escola quando uma menina (Camila) da quarta série chamou Liz de "Gnomo de quatro olhos", só porque a mesma estava na fila da cantina, era a mais baixa e a única de óculos. Naquele momento não pensei em mais nada, apenas peguei meu copo de vitamina e, meus cereais e despejei tudo na cabeça daquela "tarântula". Aproveitei que não ia com a cara dela mesmo. E foi assim... Depois daquele dia, descobri que Liz morava próximo a minha casa e então nunca mais nos desgrudamos.

Decido retornar a ligação e no terceiro toque ela atende:

- Sua vaca! - exclama assim que atende. - Esqueceu de mim foi?! - diz manhosa.

- Não sua tonta. É que eu estava no banho. - respondo.

- O que aconteceu? - indaga preocupada. "Realmente ela me conhece!" - penso. - Giovanna não me esconda nada! - ordena.

- O que você acha de vir aqui mais tarde. - proponho.

- Gil, estou preocupada. O que aconteceu? - insiste.

- Nada de mais. Só passa aqui mais tarde. - digo.

- Está bem! Eu passo aí sim. - diz.

- Ok! Meu pai está me esperando para almoçarmos, se você vier, manda uma mensagem.

- Tá bom sua vaca eu mando. Beijo! - despede-se.

- Beijo maluca! - desligo o celular e desço até a sala de jantar.

Sônia já pôs a mesa, mas não sei onde está meu pai:

- Sônia! - chamo-a entrando na cozinha. Ela me ver e sorrir. - Onde está meu pai?

- Está no escritório querida. - responde sem parar de preparar a sobremesa.

- Hmm... Pudim! - digo batendo palma em aprovação.

- Sabia que ia gostar, afinal é uma das suas sobremesas preferida. - diz.

- Te amo sabia?! - digo abraçando-a, fazendo-a sorrir. - Vou avisar que o almoço já está servido. - digo saindo da cozinha. Bato na porta quatro vezes, mas ele não atende, então abro assim mesmo. Ele está concentrado falando ao telefone. Não ouvi muito da conversa, mas o ouvi dizer: "cheque as câmeras da vizinhança". Droga! Eu sabia que ele não iria sossegar. - pensei. Logo ele percebe minha presença e despede-se da pessoa do outro lado da linha.

- Algum problema filha? - indaga antes que eu possa falar algo.

- Vim só avisar que Sônia já pôs a mesa. - respondo.

- Então... Vamos? - diz vindo em minha direção.

- Vamos. - concordo.

Durante o almoço, conversamos sobre coisas aleatórias como: estudos, trabalho, férias, viagens e etc.

- Pai! E se fizéssemos uma viagem para o exterior? - indago esperançosa.

- Mas seus estudos e meu trabalho filha? - indaga e toma um gole de seu suco de laranja.

- Podemos ir no final do ano letivo e o senhor também está precisando de férias. - faço cara de "cachorro abandonado".

- É... Vou pensar no seu caso. - diz.

- Pai! - exclamo.

- Está bem! Vou pensar. Agora coma. Você mal tocou na comida. - ordena. "Ótimo! Ele está quase cedendo". - penso. Decido deixar para falar depois que quero fazer faculdade fora do país. Depois do almoço, subo para meu quarto para descansar e esperar Liz dar sinal de vida.

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