31°. Capítulo

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Festa Surpresa 2 - Parte

"Porque segredos machucam. Às vezes mais a verdade". - Arrow

"Filha, minha princesa.

Estou tão feliz em lhe ter em meus braços essa manhã.

Esperei tanto para lhe ter aqui, sentir seu cheirinho de inocência, olhar em seus olhos cheios de amor, sua pele quentinha por entre esses cobertores, sua boquinha ainda escura tentando adaptar-se à nova temperatura. Você é tão linda como sonhei que um dia seria.

Minha menina estarei sempre aqui para lhe ninar, cuidar e proteger. Para ensinar-lhe tudo que aprendi e, para aprender com você, serei para você como um porto-seguro onde em meus braços você encontrará consolo quando cair e se machucar, ou quando seus olhos virem o lado escuro do mundo, quando seus pés tropeçarem fazendo-a machucar-se, serei seu apoio, e se seu coração entristecer-se a fazendo chorar lembre-se que há alguém que lhe ama e não suporta vê-la sofrer.

Doei-lhe uma parte do meu corpo para dar-lhe a vida. Senti-la dentro de mim crescendo cada vez mais, deixava-me a mulher mais feliz do mundo. Saber que havia uma vida que precisaria do meu amor, do meu cuidado e do meu carinho me fez querer ser uma mulher melhor a cada dia, ser melhor, pois uma vida frágil precisaria de instruções, de cuidados e amor...

Filha, se quando você ler essa carta eu não estiver mais em um lugar onde seus olhos possam me ver, lembre-se que sempre estarei ao seu lado e que a amo mais que tudo.

Sei que seu pai fará o possível para vê-la feliz, ele a guiará e juntos cuidaremos de você.

Desculpe-me se lhe fiz sentir-se abandonada, é que a vida nos leva para caminhos diferentes dos que planejamos, ela nos faz fortes e nos prepara para nosso futuro. Hoje você pode não entender tudo que aconteceu, mas lá na frente quando você olhar para trás saberá que tudo serviu para moldar-lhe e fazê-la amadurecer.

Diga ao seu pai que o amo e que ao seu lado vivi os melhores momentos de minha vida, que ele é e sempre será o homem da minha vida, que o agradeço por ter me dado o melhor presente que uma mulher pode querer.

Sei que será difícil entender o que pedirei, mas peço que ele siga em frente e que encontre alguém que o faça feliz novamente.

PS: Parabéns minha princesa, hoje você não é mais uma menina frágil que precisa de cuidados. Hoje você se torna uma mulher da qual me orgulho. Vocês dois são tudo para mim".

Angélica

"Mamãe, porque tem que ser tudo tão difícil?".

Sinto meu corpo enfraquecer, minhas pernas parecem estarem sendo puxadas para baixo. Um abismo se formou embaixo de meus pés, minhas costas escorregam por uma das paredes de vidro da estufa, sento-me no chão enquanto cada palavra escrita à mão de minha mãe continuam dilacerando-me por dentro.

O ar que entra e sai de meus pulmões parece ter se perdido em algum canto desse pequeno cubículo, as paredes envidraçadas agora embaçadas pelo ar frio que entra fazendo as flores balançarem:

- Você vai adoecer se continuar aqui. - Enxugo meu rosto que está banhado em lágrimas que escorrem sem aviso prévio. A voz masculina que eu não ouvia há semanas tira-me dos meus devaneios.

- O que faz aqui? - Levanto-me parando à sua frente. Suas mãos secam meu rosto. Ele tira seu blazer e põe em mim - Obrigada! - Minhas mãos já estavam gélidas.

- Bom... Recebi um convite da Liz. - Acho que eu não deveria ter perguntado - Mas a verdade é que estava louco pra te ver. - Segura minha cintura puxando-me mais para si. Afasto-me.

- Acho melhor você pensar melhor antes de falar. Você não vai querer que sua "amiga" escute isso. - Friso bem a palavra amiga. Suas sobrancelhas arqueadas mostram confusão. Talvez esteja tentando lembrar-se de qual delas estou falando - A do restaurante... - Respondo sua pergunta interna.

- Ah sim, a Karina. - Sorrir cínico - Não te vi lá. - Tenta fugir do assunto. Não o respondo, o que o faz bufar - Ela é uma amiga da faculdade. Conhecemos-nos desde pequenos, nunca tivemos nada. A vejo como uma amiga, nada mais que isso.

- Não foi o que pareceu... - Digo sentindo-me uma burra por permitir que esse sentimento cresça dentro de mim - Mas isso não importa, não temos nada. Não é?! - Minhas palavras parecem atingi-lo, seus olhos miram os meus.

- Não haja como se não se importasse. - Aproxima-se novamente segurando minha mão. Seus lábios preenchem os meus assim como ansiei durante as semanas que passamos longe um do outro - Para de fugir de mim! - Pede angustiado.

Eu não queria acreditar que havia permitido que algum sentimento crescesse dentro de mim novamente, um sentimento que eu havia lutado tanto para não sentir, aquele mesmo sentimento que me magoou uma vez, está de volta. Tenho medo do estrago que ele pode fazer dessa vez, medo de não conseguir pela segunda vez.

- Não posso fazer isso com você. Seria injusto... - Desabafo - Durante anos venho fugindo desse sentimento, mas agora que ele me encontrou não sei o que ele poderá fazer. Tenho medo por nós dois, medo de que alguém saia machucado.

- E quem disse que eu não tenho medo? Você não foi a única a se decepcionar, nem será. Não tive muitas experiências como essa, e a única que tive, me fez querer esquecer todas as outras. - Uma única lágrima desce por seu rosto. Encaro-o.

- Talvez o melhor a se fazer seja... - Ele interrompe-me.

- Não faz assim. Não diz que não podemos ao menos tentar... - Pede enquanto tenta me segurar. Meus olhos ardem, mas não quero que me veja chorando.

- Me desculpa por não querer te machucar. - Minhas palavras saem como soluços: dolorosos e abafados.

- Não vou desistir de nós. - Diz com a voz firme. Minhas pernas fraquejam, minha vontade é de beijá-lo e, dizer que ficaremos juntos e que faremos de tudo para darmos certo, mas o medo de amar me impede.

Ele sai deixando-me perdida em meio meus pensamentos e minhas lágrimas que pesam formando um caminho triste.

Liz vem até mim e pergunta o que aconteceu. Digo que não quero falar sobre, ela entende mas continua perguntando se está tudo bem.

Voltamos para a festa. As pessoas parecem animadas, estão todas no salão de dança onde há vários instrumentos.

Antes que uma pergunta se forme em meus lábios, vejo a banda entrar.

Confesso que algo dentro de mim parece ter se quebrado em pequenos cacos de vidro. Algo em seu olhar me fez quer esquecer-se de tudo, me fez querer beijá-lo como se fosse pela primeira vez, mas não o fiz. Concentrei-me na música que saia de seus lábios, seus olhos não se desviaram um minuto se quer dos meus, estávamos numa sintonia onde só havíamos nós dois ali.

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