Capítulo 6 - Reencontro

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O sono induzido por remédios é uma bênção e uma maldição: te leva a um mundo de esquecimento sem sonhos. Porém, você acorda quase tão cansado quanto antes. Eu estava terminando meu delicioso jantar, cortesia do chef – sopa sem sal com torrada sem manteiga – quando bateram à porta.

– Entre. – digo enquanto descarto a bandeja com o que o hospital chama de comida.

O que vejo tira meu fôlego: Chris! Maior, mais forte e mais bonito do que minhas memórias, porém ainda o mesmo garoto que me deixou chorando no quintal de minha casa. Um loiro raio de sol neste triste dia dos infernos com o mesmo sorriso tímido que eu tanto amava.

Atrás dele entra alguém que é ainda mais alto. Nunca o vi pessoalmente, mas sei imediatamente de quem se trata, qualquer garota no país o reconheceria. Chris eu entendo, mas o que ele está fazendo aqui?

– Elle, eu sinto tanto! – seu timbre também está mais forte.

Ele corre, senta na maca ao meu lado e me abraça com cuidado para não me machucar. Tive tantas saudades! Seu calor e seu cheiro, diferentes, porém os mesmos. Sim, ele está aqui, Chris voltou por mim! Começo a chorar.

– Ah, querida, venha aqui. – ele me puxa em sua direção.

Apoio minha cabeça em seu ombro, sinto-me em casa e meu coração se alivia um pouco. Chris apenas me dá seu apoio silencioso. Sabendo que preciso liberar minha angústia, ele alisa meus cabelos enquanto cantarola baixinho alguma canção de ninar. Por um momento me permito crer que o mundo não desabou ao meu redor: tenho novamente seis anos, meu bichinho morreu e estou de coração partido, porém segura nos braços do meu melhor amigo.

"Todos mortos, sozinha no mundo, não há ninguém, só a mim".

Levanto minha cabeça e tento o melhor sorriso que consigo dar no momento.

– Olá, estranho. Vejo que não esqueceu de suas origens e promessas, afinal de contas.

– Sempre a mesma espertinha – ele belisca a ponta do meu nariz – Saiba que tentei vir mais cedo, porém você estava fazendo exames e só liberaram visitas externas agora. Sinto tanto, Elle.

Estive tão deslumbrada pelo seu retorno que não percebi sua aparência abatida. Havia olheiras escuras embaixo de seus olhos: ele esteve chorando.Chris continua a falar:

– Na verdade, eu vim mais cedo, mas você estava desacordada, então não conta. Vocês sempre foram minha família, a tia Liz e o tio George eram como meus segundos pais e eles partirem assim...

Chris está nervoso e quer expressar seu luto, o problema é que simplesmente não posso lidar com minhas próprias emoções no momento, muito menos com as dos outros. O psicólogo tinha razão quando disse que se preocupava em como eu poderia estar processando tudo isso. É demais para mim, não suporto falar sobre isso.

– Eu sei, Chris, eles não mereciam partir tão cedo e de uma forma tão cruel. – digo tentando controlar minhas lágrimas.

Chris continua falando sobre o quanto ele sente muito e o quanto queria ter estado aqui. Não presto mais atenção e procuro no quarto por uma rota de fuga. Meus olhos pousam no amigo do Chris, que está usando suas habituais roupas escuras, sentado em uma das mesas próximo da janela. Isto é mais longe possível de nós, seria essa uma tentativa de nos dar privacidade ou ele apenas gostaria de estar em outro lugar?

Pessoalmente ele era mais impressionante do que na TV. Seus longos cabelos castanhos estão presos em um coque alto estilo samurai e os olhos turquesa brilham em contraste com a barba cheia bem-feita. E como ele preenche bem a jaqueta de couro! A boca bem desenhada está levantada em um meio sorriso irônico, mostrando uma covinha na bochecha...

Sorriso irônico? Merda, fui pega no flagra enquanto o encarava. Rapidamente desvio minha atenção de volta para o Chris, ouvindo o que ele está falando.

– E por isso meus advogados já estão cuidando de tudo, viu? Você não vai precisar se preocupar com nada.

Droga! Eu deveria ter escutado a conversa dele.

– O que você quer dizer com seus advogados estão cuidando de tudo?

Não quero e não preciso de sua ajuda, posso me virar sozinha. Chris fala com cautela:

– Você será menor de idade por mais três semanas, serei seu guardião ou irá para um abrigo público.

"Todos mortos, sozinha no mundo, não há ninguém, só a mim".

– Ok, sem problemas. Você autoriza minha saída e eu posso voltar para minha casa. – digo, já ficando irritada.

Chris percebe que estou pronta para a briga, mas o tolo resolve pela tática de me acalmar ao invés de recuar.

– Docinho, entenda que você vai ficar sob minha responsabilidade, então você vai ter que deixar eu tomar conta de tudo por você.

Docinho? Ele ficou muito tempo ao redor de groupies sem cérebro...

Eu conheço Chris, quando ele diz "tomar conta de tudo", ele realmente quer dizer tudo. Não vou permitir que me sustente. As únicas pessoas que tinham a obrigação de me criar não estão mais aqui. Agora dependo apenas de mim. Começo a numerar meu ponto de vista com os dedos e escuto os risos de deboche do moreno atrás de mim.

– Em primeiro lugar, não venha com docinho para cima de mim. Em segundo lugar, nem quando a gente era criança eu deixava você assumir a responsabilidade por tudo! Se for para ser assim, pode voltar para onde você foi nos últimos quatro anos. Serei dona da minha vida. E em terceiro lugar – aponto para o Sr. Risadinha – Quem é esse babaca que você trouxe?

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Alguém #TeamChris aqui? rs

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Elle - música, amor e amizade (Volume 1) - AmostraOnde histórias criam vida. Descubra agora