A casa é só um bem material feito com tijolos e cimento.
Ser inanimado.
Então por que depois que os donos morrem parece não ter mais luz? Está cinza, escura e silenciosa. Triste.
Vazia.
Chris e John foram embora. Eu não acreditava que O Delegado fosse cumprir a ameaça, mas não quis arriscar. Além disso, eles tinham compromissos com a gravadora. Estavam em uma pausa entre turnês enquanto faziam o novo álbum, tinham uma agenda a cumprir e já tinham atrasado três dias por mim.
Estava afundada em pensamentos quando ouvi um grito:
– Vadia, venha aqui!
Sigo a voz e berro de volta:
– O que eu fiz para ser chamada de vadia, Tinkerbell?
Começo a rir pela primeira vez no dia. A resposta irritada que recebo já era esperada:
– Você ainda pergunta? Vai me abandonar, morar do outro lado do país com os dois caras mais gostosos do mundo e acabou de me chamar da maldita Sininho de novo!
– Você acabou de chamar seu irmão de gostoso, minion? – pergunto curiosa.
Chego na sala de televisão, ou no que sobrou dela, cheia de caixas e roupas espalhadas por todos os lados, a TV ligada em um canal de fofocas e no meio de tudo uma enorme cama com lençóis púrpura. Algum furacão deve ter passado por aqui.
– Eca! Meu irmão pode até ser bonito, afinal compartilhamos os genes, mas estava falando do sonho molhado e do deus grego do rock, John e Alysson.
Claro, o baixista.
Por detrás de um biombo chinês que costumava ficar em meu quarto sai um pequeno furacão loiro chamado Samantha. Ela me olha irada:
– Espera, você acabou de me chamar de minion?
– Você é pequena e amarela! E o que diabos aconteceu com minha sala? O que minha cama está fazendo aqui em baixo? – digo assustada com a bagunça.
– Pelo que eu ouvi falar, esta não é mais sua casa mesmo! – Sam diz emburrada.
Ela tem um grande coração, mas ainda não desenvolveu muito tato e não tem um filtro entre cérebro e boca. Mesmo assim, fico boquiaberta em choque.
– Desculpa! Não quis falar isso, você vai embora depois de amanhã e não pode subir escadas, então resolvi acampar aqui também. – ela fala com desespero. É tão branca que está com o rosto vermelho de vergonha pela gafe.
Tento aliviar, sei que não é por mal:
– Eu sei, relaxe, como você conseguiu fazer tudo isso sozinha?
– O bundão do meu irmão e aquele presente dos deuses às mulheres que fizeram a parte pesada...
E assim, Sam me distrai contando sobre como eles três empacotaram todas as minhas coisas e colocaram aqui para o caminhão de mudança.
Ela molhou de propósito a camisa de John, assim ele teve que ficar metade da tarde com o peito nu enquanto ajudava a carregar as caixas e a cama para baixo.
– Elle, que peitoral! Eu queria lamber as tatuagens dele. Quando estava acabando eu ainda tentei levar caixas escondidas de volta para cima, só para ele ter mais coisas para descer novamente. – Sam diz enquanto se abana com uma das mãos.
– E por que não levou? – pergunto imaginando a cena, apenas Sam para me fazer sorrir.
– Eu ainda levei duas, mas Chris viu e me fez devolver... aquele sem graça! – ela diz chateada, mas há um brilho em seu olhar.
– É bom ter o Chris de volta, né?
Sam me dá um sorriso sincero:
– Sim! Estava com saudades do bundão... Pena que é por pouco tempo e ele agora vai levar você e eu vou ficar sozinha...
Samantha não sorri mais e nem eu. Gostaria de levá-la comigo.
– Se eu pudesse, te levaria. Você sabe disso, não é? – digo com sinceridade.
Ela sorri para mim e dá de ombros.
– Quem sabe um dia – pega o controle da TV e aumenta o volume – Agora vamos fazer um pouco de pesquisa sobre a vida do seu futuro chefe gostoso.
E assim passei dois dias falando sobre tudo e ao mesmo tempo nada, vendo canais de fofoca e cercada por caixas do que restou da minha infância, escondida na casa que um dia chamei de lar.
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AVG
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