Kiarah era uma jovem frágil e sensível, que após perder todos que amava em um trágico acidente de avião, se viu desamparada e sem esperança. Foi nesse momento de vulnerabilidade que Christopher, um garoto misterioso e sedutor, entrou de mansinho em...
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Christopher
Essa casa trazia lembranças, ela carregava sussurros e suas memórias batiam contra as paredes como se fossem um coração. Foi nessa casa que eu me tornei o monstro devorador de almas, mas também foi nessa casa que eu aprendi a amar. O uivo do vento que batia nas janelas a noite, sussurrava as lembranças e segredos que ela guardava a sete chaves. Foi nessa casa que eu morei sozinho e aprendi a amar a solidão, foi aqui que eu aprendi a rasgar, sangrar corpos e esmagar entranhas, foi nessa casa que eu vi a vida sumir de muitos olhos diferentes. Essa mansão no alto do Rio De Janeiro me abrigou, sozinho por muitos anos e me forjou como sou hoje, mas também foi aqui que ela entrou pela primeira vez e mudou a minha vida para sempre. Ela entrou aqui acanhada com os pés descalços no mármore polido, os olhos verdes perdidos e carregados de uma tristeza profunda, acanhada como se eu fosse um desgraçado ponto para acabar com a vida dela — e eu era isso mesmo, ainda sou, a diferença é que hoje meu coração não bate só por sangue e destruição, ele também bate por Kiarah. Fiquei olhando para ela na varanda, o amor que eu sinto é tanto que meu coração chega a bater mais forte só de olhar para essa mulher, ela parecia uma deusa, irritantemente linda. Ela usava um vestido azul esvoaçante que rodopiava ao redor do seu corpo com a brisa suave do mar. Kiarah respirava fundo de olhos fechados e eu ficava ali somente a contemplar a paz que ela me trazia somente por existir perto de mim, os cabelos cor de mel balançavam com o vento se espalhando por suas costas, me encostei no batente e cruzei meus braços. —Se lembra da primeira vez que esteve aqui? —perguntei ainda fitando as costas nuas dela —lembra de como fugiu daqui, da solidão que se instalou naqueles dias? Você tinha medo de mim —eu suspirei passando as mãos nos cabelos —ainda tem? Ela abriu os olhos e suas íris verdes me seduziram e me puxaram para dentro delas, Kiarah sorriu e como eu quis ver aquele sorriso novamente depois de tudo o que aconteceu e hoje era a primeira vez. —Não, o medo ficou no passado, tudo o que eu sinto por você agora é amor. As palavras dela me rompem por dentro. Eu matei tantas mulheres, foram tantas que imploraram por misericórdia, tantas que rezaram para que um deus a salvasse. Nunca senti nada, nenhuma maldita culpa. Fui até ela, o vento bagunçou meu cabelo e me inebriou com o cheiro dela. Kiarah é a minha penitência. —Sabe o que é isso? —puxei ela pela cintura colando meu peito nas suas costas —É obsessão. É o seu nome gravado na minha pele, talhado no meu coração. Eu poderia matar de novo, poderia abrir gargantas só para sentir o sangue quente e viscoso nas minhas mãos. —falei roçando meus lábios em sua orelha a vendo se arrepiar —mas você faz tudo parar, nem sempre, mas o bastante. Meus olhos arderam e meu peito se apertou, Kiarah mexe comigo de um jeito que me deixa malucou, eu pensei que depois da morte da minha mãe eu nunca mais seria capaz de sentir mais nada, nem amor, dor, tristeza, empatia, mas ai chegou a porra de uma garota, linda com olhos verdes tristes que me desmontaram inteiro, que fizeram de mim o que queriam — e agora quando sinto vontade de torturar, de matar, eu penso na dor que a pessoa sentiria, na dor que os familiares sentiriam ao ver a pessoa que tanto amam morta, mutilada e ai eu penso, que poderia ser Kiarah no luar delas, poderia ser eu no lugar dos familiares, eu estive no lugar deles quando Martim a pegou e tlavez isso não signifique nada para os outros, mas para mim que nunca fui capaz de sentir nada, signifca muito. Ela deu uma risada baixa e foi a coisa mais doce que eu ouvi em todos os tempos, ela se virou e segurou meu rosto entre as suas mãos. —Eu amo você! Eu fechei os olhos sentindo a sensação do toque dela em minha pele e gostando de sentir essa paz que só ela é capaz de me dar. —Eu também te amo, princesa. Se amar é a palavra certa para esse buraco no meu peito que você abriu quando entrou na minha vida. Se amar é esse nó que me prende a você, então eu te amo loucamente. —dou um sorriso torto apertando ela contra mim vendo os olhos verdes marejados —eu sei que não sou perfeito, mas eu quero ser melhor para você e pode ter certeza que eu vou te amar até o meu último dia de vida, para mim não existe um mundo que você não esteja, não existe vida sem você, eu te amo, te adoro, te venero, te vivo! Ela beijou a minha boca selando todas as palavras que eu acabei de dizer e eu me derreti inteiro, me desmanchei nos braços dela porque somente essa mulher foi capaz de me fazer sentir vivo novamente nessa minha vida de merda. Essa casa, essa varanda, esse vento, tudo é testemunha do que ela fez em mim, do que ela mudou em mim. O monstro dentro da minha alma ainda morde, ainda lambe o chão por sangue. Mas quando ela sorri até o inferno se ajoelha para essa mulher e aí eu penso que talvez dê para adormecer a besta um pouco mais. Que talvez, só talvez, eu não precise mais de ver a dor e destruição para me sentir completo, porque ela me completa por inteiro e preenche com luz os cantos obscuros da minha alma. Colamos nossas testa e ficamos ali respirando a respiração do outro. —Eu não tenho medo de você, olhos azuis. Eu tenho medo de não ter você. Minha mão apertou a nuca dela. —Eu tenho medo de me perder novamente, Kiarah, porque quando você for embora —engoli em seco —se for, eu viro tudo novamente, o inferno, o monstro desgraçado que se alimenta de almas. O vento esvoaçou o vestido dela e o mar lá embaixo rugia como um hino de guerra. Eu, o assassino, o sádico, o filho da puta que só pensa em matar quando a noite parece longa demais — sou dela. Sou da voz dela, do medo que ela transformou em fogo, do amor que quebra quem se aproxima de quem eu amo. A obsessão não morre, só trocar de pele, de cor e de cheiro — o cheiro dela. E eu — Christopher Baronni — sou a prova viva de que alguns monstros merecem ter uma casa, se dentro dela houver um coração que bata junto ao sons dos gritos que eu não deixo mais sair. Enquanto Kiarah for meu altar, a escuridão aprende a calar — e até a fera em mim se curva ao verbo amar.
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Nota Científica: Psicopatia e Empatia
A psicopatia é marcada por frieza emocional, ausência de remorso e baixa empatia afetiva (sentir a dor do outro). Já a empatia cognitiva (entender intelectualmente o que o outro sente) costuma estar preservada, sendo muitas vezes usada para manipulação (Blair, 2005). Estudos de neuroimagem mostram que psicopatas não são totalmente incapazes de sentir empatia: quando instruídos a se colocar no lugar de alguém, certas áreas cerebrais ligadas à compaixão podem ser ativadas (Meffertet al., 2013; Decetyet al., 2015). O amor ou o apego emocional intenso também pode servir como gatilho, despertando empatia seletiva, voltada apenas a pessoas significativas (Keysers & Gazzola, 2018). Isso não elimina o desejo de violência, mas cria um paradoxo: o mesmo indivíduo pode ser cruel e, ao mesmo tempo, capaz de fragmentos de humanidade quando ama.
“Pesquisas em psicopatia indicam que, embora psicopatas frequentemente apresentem deficiência na empatia afetiva — isto é, sentir de fato a dor ou a angústia alheia —, há evidências de que em contextos de amor romântico ou apego profundo essa empatia pode emergir. Psicopatas podem compreender cognitivamente os sentimentos dos outros e, com motivação emocional intensa (como o amor ou o medo de perder alguém que importam de verdade), começar a sentir alguma compaixão, culpa, arrependimento. Esse despertar não elimina seus impulsos violentos ou desejo de matar; antes, cria um conflito interno brutal entre a fera e o coração que aprende a doer.”