06: o jardim secreto

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ALANA TENTOU PENSAR em razões para não abrir a porta do carro, sentar-se no banco do carona e ir com o Professor Tomás para sabe-se lá onde

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ALANA TENTOU PENSAR em razões para não abrir a porta do carro, sentar-se no banco do carona e ir com o Professor Tomás para sabe-se lá onde. Até então, tinha se permitido ser só intuitiva, mas não pensar no que estava fazendo era basicamente a coisa que mais abominava.

Com algum atraso, mas em tempo, todas as possíveis consequências apareciam, uma a uma, em sua cabeça.

Se fossem descobertos. Como iriam explicar. Quais mentiras seriam críveis. O que seus pais iam pensar. Tomás perderia o emprego. Ela seria expulsa do Colégio. Terminaria na Escola Pública, e deixaria de ser uma Boa Menina perante toda Aquino. Brenda provavelmente nunca mais falaria com ela. Os pais de Silvia tentariam arrastá-la para a igreja e exorcizá-la.

Ainda assim, nenhuma razão parecia ser boa o suficiente para que ela deixasse de ir com ele.

Ela colocou o cinto de segurança enquanto Tomás ligava o motor e colocava uma música para tocar no celular integrado ao sistema de som. Ela nunca tinha ouvido a canção, mas a melodia soava bem anos sessenta, do tipo que seu pai ouvia nos fins de tarde de domingo com um copo de uísque na mão e o olhar perdido. O veículo tinha um cheiro curioso, meio doce e meio cítrico. Na noite anterior parecia mais baunilha; agora, parecia capim limão.

Alana se manteve reta, olhando para frente e com as mãos no colo. Apesar de sua postura afetada, estava calma. Tomás, assim como ela, escolheu ficar em silêncio. Ela daria todas as moedas de seu cofrinho de porcelana para saber seus pensamentos.

Depois de uns vinte minutos, ela soube que a cidade tinha ficado para trás. Uma placa bonitinha, de madeira pintada, indicava que a partir daquele ponto estariam adentrando a região montanhosa de Aquino. O carro subiu por uma estradinha de terra até chegar a um pequeno lago, cercado de árvores grandes e folhosas. Não tinha nenhuma casa ou indício de habitação por ali, mas a grama estava aparada e as flores do jardim pareciam bem cuidadas. O ar tinha um aroma maravilhoso de pinheiros.

Devia ser a propriedade de alguém, ela concluiu, mas essa coisa de invadir propriedade alheia fora deixada para trás no segundo em que ela pisou naquela Biblioteca após o horário de atendimento ao público.

Tomás brecou o carro e abriu a porta, convidando-a a fazer o mesmo. Depois ele tirou uma manta felpuda do porta-malas e depositou-a cuidadosamente sobre a grama, sentando-se e chamando-a, batendo a mão suavemente no espaço vago sobre o cobertor.

— Que lugar é esse? — ela perguntou, aconchegando-se na manta e esticando as pernas. Alana se sentiu particularmente idiota enquanto encarava sua meia-calça de estampa de gatos, mas tentou não demonstrar.

— É o jardim da minha mãe. — contou ele — Antes, era a casa da minha avó, mãe do meu pai. — e apontou para um casebre completamente destruído, que causava em Alana sérias dúvidas a respeito da eficácia da Lei da Gravidade. — Ela vinha aqui todo o fim de semana e passava horas cuidando desse lugar, só para manter o jardim bonito. Pela memória da minha avó. Elas eram muito próximas. Desde que a minha mãe sofreu o acidente, ela não pôde mais vir até aqui. Então eu venho por ela, para fiscalizar o trabalho dos jardineiros que contratamos para fazer o que ela fazia.

Não Confie Nas Boas MeninasOnde histórias criam vida. Descubra agora