04: o flagrante

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A PRIMEIRA AULA de segunda-feira, para as primeiranistas do Colégio Santa Luzia para Garotas, era de Biologia, ministrada pela misteriosa Professora Cristina

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A PRIMEIRA AULA de segunda-feira, para as primeiranistas do Colégio Santa Luzia para Garotas, era de Biologia, ministrada pela misteriosa Professora Cristina. Brenda detestava Biologia (e a Professora Cristina), Silvia simplesmente não se importava se fosse a professora ou uma onça dando aula, e Alana odiava segundas-feiras.

Ou seja, os ânimos de segunda-feira não eram os melhores.

Se não fossem Boas Meninas, provavelmente a segunda-feira de manhã seria o momento elegido para cabular aula, dormir até mais tarde, fumar cigarros nas escadarias da Catedral, ou todas as opções acima combinadas. Porém, estavam todas lá, comportadamente sentadas, apenas esperando que a tortura terminasse.

Alana sentou-se atrás de Silvia, como normalmente fazia. Os fios de cabelo compridos da cabeça loura e encaracolada da amiga ocupavam a metade da mesa de quem estava atrás, e havia um considerável risco de Alana ficar cega caso Silvia resolvesse girar os cabelos e prendê-los num coque.

Era por isso que ninguém se sentava atrás de Silvia, a menos que a outra opção fosse se sentar atrás de Brenda – que era a pessoa mais mal-humorada do universo –, ou que a intenção fosse se esconder dos professores.

No caso de Alana, ela precisava terminar a lição de Matemática, passada antes das férias, que ela obviamente não se dignara nem a olhar durante as duas semanas de recesso.

Alana deu uma olhada na Professora Cristina, para se certificar de que estava se safando. A mulher devia ter lá seus trinta anos, mas tinha "cara de novinha", como dizia sempre a Madre Superiora.

E tinha mesmo. Era muito bonita, com suas pernas alongadas e cintura fininha, rosto familiar e cabelos castanhos sempre presos em um coque baixo. Cristina tinha impecável senso estético, e provavelmente era a única mulher em Aquino que conseguia se vestir como uma bibliotecária (saia-lápis até os joelhos, blusa de gola alta e óculos de armação retangular) e ainda parecer descolada.

Alana tinha ido ao banheiro antes da primeira aula, para checar se a falta de sono e ansiedade estavam tão evidentes em seu rosto quanto ela podia sentir, e enquanto estava no box, escutara as meninas do Terceiro Ano conversando sobre a possibilidade de o Professor Tomás e a Professora Cristina desenvolverem um romance.

—  Eu acho que é só questão de tempo. — disse uma voz muito aguda, que Alana não sabia a quem pertencia — Quer dizer, isso se já não estiver rolando.

— Eu concordo com a Letícia. — respondeu a outra menina — Eles são perfeitos um para o outro. Jovens, bonitos, inteligentes, se vestem como as personagens daquele filme, "500 Dias Com Ela".

— Eu acho que o Tomás é gay. — comentou uma terceira voz cheia de jocosidade, e essa voz Alana sabia que pertencia à companheira de equipe de ginástica de Brenda, Ana Júlia Castro e Leme, do segundo ano.

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