25: duas caras

26.1K 3.2K 1.5K
                                    

Para quem estava acostumada a ver a Professora Cristina no seu modelo de perfeição diário, com seus cabelos delicadamente presos em um coque baixo, óculos agateados estilo secretária e sua saia lápis impecavelmente engomada, era uma experiência no...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Para quem estava acostumada a ver a Professora Cristina no seu modelo de perfeição diário, com seus cabelos delicadamente presos em um coque baixo, óculos agateados estilo secretária e sua saia lápis impecavelmente engomada, era uma experiência no mínimo perturbadora vê-la como estava naquele momento. Para começo de conversa, Alana finalmente entendera por que quase sempre a Professora usava camisas de gola alta: uma tatuagem enorme começava pouco abaixo da base do pescoço e descia até pouco acima do umbigo; o desenho era alguma coisa entre uma árvore e um pássaro, ela não sabia dizer. Se passasse mais tempo olhando para aquela coisa no peito dela, provavelmente não conseguiria dormir de noite.

    A Professora vestia calças de couro e um pedaço de pano transparente em vez de camiseta. Usava maquiagem carregada nos olhos, e seu cabelo estava repleto de frizz e apontando para todos os lados. Apesar de todos esses aspectos aterrorizantes, ainda havia uma mulher bonita por debaixo de todo aquele disfarce, e Alana se irritou profundamente com isso.

    Não havia nada nesse mundo que a fizesse permanecer dentro daquela casa. Por alguma razão, o único pensamento que passou por sua cabeça naquele momento foi "preciso incorporar a Ana Júlia puladora de janelas", embora a motivação de Ana Júlia – encontros lésbicos com a filha dos dois maiores fanáticos religiosos de Aquino – fosse bem mais intensa do que a dela. Por isso, antes mesmo de conseguir fechar a boca, visto que seu queixo estava despencando de tal forma que poderia até mesmo se desprender do corpo, Alana deu as costas e deu o fora.

    - Alana! - chamava Cristina, e seu desespero era tão evidente quanto delicioso. Alana passou pela porta e saiu correndo em direção à rua, sem saber muito bem para onde iria dali.

    A Professora Cristina era a traficante. A Professora Cristina, não Tomás, vendia drogas.

    Seu cérebro parecia estar acima da capacidade. Nada daquilo fazia o menor sentido. Seria possível que todas as risadinhas compartilhadas com Tomás pelos corredores do Colégio Santa Luzia eram fulcradas em relatos das atividades criminais de Cristina? Devia ser uma conversa estimulante. "Oh, Tomás, todos acham que eu sou uma professorinha de colégio católico, mas, na verdade, eu vendo drogas." Alana conseguia se imaginar dando risada disso, pensando unicamente a ironia de toda a situação. E até que ponto Tomás estaria envolvido, a ponto de deixá-la usar a suposta propriedade de sua família como depósito de ilícitos? E até que ponto estariam envolvidos Cristina e Tomás, que poderiam muito bem ser cúmplices?

    Pôs os pés na calçada e olhou para os lados, procurando por uma saída pela qual não pudesse ser seguida. Optou por descer pelo caminho que subira, até porque, não conhecia nenhum outro. Quando chegou à esquina, para sua surpresa, Mika e Natassia ainda estavam lá. Lembrava-se vagamente de tê-las ouvido prometer que a esperariam, mas em nenhum momento levou fé de que elas efetivamente ficariam do lado de fora até que ela saísse. Garotas da Pública não são de confiança, falou a voz de Brenda na sua cabeça.

Não Confie Nas Boas MeninasOnde histórias criam vida. Descubra agora