Alana David e suas melhores amigas, Brenda e Silvia, são o tipo de garotas que nunca se metem em problemas. Sempre chegavam em casa antes das dez, não fumavam cigarros e não se metiam com os garotos da escola pública. Eram conhecidas no Colégio Sant...
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- Você está se vestindo diferente esses dias. - foi o comentário de Tomás para a escolha de vestuário de Alana naquele sábado, assim que ela entrara em seu carro com cheiro de capim-limão.
Ela sorriu, vitoriosa. Aos poucos já se acostumava com a assessoria estética de Mika, que tinha como fito fazê-la sentir-se mulher. Hoje a escolha incluía botas até os joelhos, um vestido preço de alças e uma camiseta branca por baixo de tudo, "bem anos noventa". Segundo Mika, a moda era essa agora. Alana achava que botas até os joelhos eram um pouco exageradas para uma breve ida ao cinema na cidade vizinha em um encontro romântico com seu professor do colegial, mas, até aí, todo esse romance era exagerado por si só.
- Eu tenho uma amiga nova que escolhe roupas para mim. - comentou alegremente, finalmente confortável ao pensar em Mika (visto que tomara a decisão mais acertada de não perder a virgindade com Thales), só depois pensando que talvez não fosse razoável mencioná-la a Tomás. Muitas conclusões prejudiciais poderiam ser extraídas dessa amizade, como, por exemplo, sua relação com Thales e o fato de que fora Mika quem a ajudara a descobrir todo o rolo da Cristina com Holiday.
Se é que Tomás sabia do rolo da Cristina com Holiday para começo de conversa.
Após checar se o traço de seu delineado estava simétrico pela trigésima vez, Alana se virou para Tomás e deparou-se com sobrancelhas franzidas que lhe conferiam um ar enfezado, completamente inconveniente ao momento romântico que estavam prestes a ter.
- Você devia usar suas próprias roupas. - aconselhou ele, ainda aborrecido. Alana se empertigou. Não fazia o menor sentido que Tomás preferisse as roupas de Alana, que eram, basicamente, saias plissadas como as da escola nas mais variadas cores, vestidos floridos e suéteres com estampas que acusavam claramente quem os comprara (nesse caso, sua avó).
- Não prefere que eu use roupas bonitas? - indagou Alana, confusa. O objetivo de permitir que Mika lhe vestisse como uma garota da Pública era agradar Tomás – e, secretamente, enfiar mensagens subliminares em seu inconsciente, do tipo "Alana é uma mulher sensual de bem resolvida sexualmente" –, não o contrário.
- Você fica bonita com qualquer roupa. Mas eu prefiro as suas.
Foi a vez de Alana parecer enfezada. Olhava para seu próprio rosto no espelho retrovisor do carro, e só podia descrever a própria expressão como "a de alguém que acabara de engolir um inseto". Tomás não entendeu, tampouco se desculpou. Menos ainda deu partida no carro. Apenas se virou para a Alana, que pôde notar que a luz do pôr do sol refletia em seus olhos dourados, conferindo-lhe uma aparência quase mística. A beleza daquele rosto ajudou a baixar um pouco o tom da revolta interna que ela sentia por Tomás não ter apreciado suas roupas como se deve, e a irritação passou por completo quando, empolgado, o Professor comentou:
- Hoje é o dia em que eu finalmente conseguirei te levar a um encontro de verdade.
Alana desfizera a carranca e agora sorria com tanta força que chegava a doer.
