41: queridinha do professor

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  Tomás elogiou a camiseta de Alana – estampada com vários gatinhos de cores diferentes – quando passou em sua casa, pouco antes da meia-noite, para levá-la a um encontro que não daria errado dessa vez

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Tomás elogiou a camiseta de Alana – estampada com vários gatinhos de cores diferentes – quando passou em sua casa, pouco antes da meia-noite, para levá-la a um encontro que não daria errado dessa vez. Ela o convidou para ir, como costumavam, à Biblioteca Municipal de madrugada – por não outro motivo que o fato de que nada saía dos conformes quando era assim.

     Ninguém estava sendo reprovado e expulso de campeonatos, ninguém estava invadindo sala de professores e sendo suspenso, ninguém estava tocando fogo em casebres ou tendo overdoses. Tudo nos conformes.

     E Alana sentia falta do romantismo desses encontros às altas horas, nos quais eles se reuniam para que ela escrevesse. Afora o romance, um pouco de trabalho em seus contos viria a calhar, já que estava se sentindo insegura quanto ao tal concurso de redação que Tomás parecia acreditar cegamente que ela era capaz de vencer; não lhe fariam mal algumas horas de puxa-saquismo para a devida restauração de seu bom ego, seu eu-autora.

     Às homenagens dos bons e velhos tempos, decidira voltar a usar as próprias roupas. Não porque Tomás dissera que não gostava das novas, mesmo porque Mika a estrangularia se soubesse que a opinião de um cara interferiria em suas escolhas fashion.

     Mas porque sua epifania no Campeonato Nacional a fizera entender, de uma vez por todas, que o Professor gostava dela por ela: gostava dos suéteres patéticos, das meias até os joelhos e das saias no cumprimento correto. Ela não precisava se vestir como se fosse mais velha, como Mika e as garotas da Pública faziam, porque sua idade e inexperiência não o incomodavam.

     Ele gostava dela de verdade, por inteiro, sem tirar nem pôr. E dava para perceber que ele também sentia falta daquele tipo de encontro, já que não conseguia conter a exibição de seus dentes perfeitamente brancos e simetricamente enfileirados desde o instante em que a vira.

     Ao se sentar de frente para o Professor no chão da Biblioteca, Alana serviu-se do café feito-em-casa que levara e lhe entregou as poucas páginas que escrevera nos últimos dias para que ele avaliasse.

     – Está ótimo para o concurso, – ele comentou de pronto – mas isso é tudo?

     – Não tudo, tudo. – Alana encolheu os ombros – É que eu achei que do resto você não ia gostar.

     – Você não devia se preocupar em me agradar. – Tomás depositou seus olhos quentes sobre os gélidos da garota – Eu já gosto de você. Do que você é.

     Cor-de-mel. Como um pôr do sol, só que com a tendência de formar um gradiente mais profundos quando estava perto dela.

     – E o que seria isso? O q-que eu sou? – titubeou, envergonhada por ser tão condescendentemente dominada.

     Pelo par de olhos que se parecia com o Sol da Tarde.

    – Uma escritora. De nascença. – ele sorria mais para os próprios pensamentos do que para ela diante de si, e uma pequena covinha se formava na parte superior de suas bochechas – E eu sei do que estou falando, porque eu sou escritor também. Só que eu precisei de alguns anos dentro de uma Universidade em outro país para aprender algo que você faz naturalmente.

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