34: amigos ou benefícios, parte I

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Naquela noite, Alana tinha um encontro com Thales

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Naquela noite, Alana tinha um encontro com Thales.

E a única sensação disponível em seu catálogo interno de sentimentos era dor de estômago.

Alguns diriam que aquela sensibilidade gástrica nada mais era que seu instinto de sobrevivência lhe orientando a não fazer qualquer que fosse o despropósito que estivesse prestes a fazer. Só que Alana David raramente cometia algum despropósito – exceto, talvez, incendiar o casebre que supostamente pertence a seu professor, com quem supostamente tem um romance –, e não era capaz de identificar uma asnice, ainda que esteja sendo praticada debaixo do seu nariz – ou mesmo por ela própria.

Para não dizer que Alana não tinha sorte na vida, no entanto, Brenda faltara à escola no dia de sua condecoração. Dante, que, ao contrário de Alana, tinha noção de perigo, despachara-se da capital onde fazia faculdade e uma sexta-feira como outra qualquer se tornou Dia do Dante. O que significava que a amiga não teria de assistir a outra ganhando uma medalha na disciplina em que estava reprovando, reprovação que tinha como consequência a sua suspensão permanente da equipe de ginástica.

Além disso, a presença de Dante representava a certeza de que Brenda estaria sob controle por, pelo menos, um fim de semana. E isso era tempo o suficiente para que Alana desse conta das próprias coisas, a dizer, perder a virgindade e deixar de ser uma criança inexperiente aos olhos do homem que amava.

    E ela sabia, enquanto recebia a medalha das mãos do Professor Tomás, que todo aquele transtorno se pagaria quando estivesse em seus braços. Tomás sorria enquanto perpassava a fita da medalha pelo pescoço de Alana e ajustava seu cabelo, demorando-se em uma mecha que fora colocada atrás da orelha. Ele piscara algumas vezes, como se tivesse acabado de se dar conta das duzentas pessoas que o estavam assistindo.

    Era adorável.

    Quase tão adorável quanto a mensagem que Alana recebera no celular, segundos depois do encerramento da cerimônia. Tomás a levaria ao cinema, o que parece uma tremenda idiotice, mas era exatamente o que Alana esperava. Não havia cinemas em Aquino ou em qualquer das microcidades nos arredores, o que significava pelo menos um dia inteiro longe do Colégio e de todas as pessoas que não poderiam vê-los juntos.

    Se tudo desse certo com Thales, Alana estaria pronta para se entregar a Tomás. Ela inspirou profundamente, e exalou o ar em seguida. Ele seria dela e de mais ninguém depois disso. Aquele homem único, especial, desejado por todas as garotas do Colégio, só teria olhar para a (não mais)  inocente e (não mais) irrelevante Alana David.

    Quando o sinal indicando o fim das aulas soou pelos quatro cantos do Colégio Santa Luzia para Garotas, Alana apressou-se para o portão. Devia encontrar Thales por volta das seis, pois seus pais sairiam para jantar às sete, e voltariam lá pelas nove. Foi no momento em que seus sapatos tocaram a calçada defronte ao Colégio que Alana avistou, do outro lado da rua, as figuras de Mika e Natassia Vogelmann.

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