Alana David e suas melhores amigas, Brenda e Silvia, são o tipo de garotas que nunca se metem em problemas. Sempre chegavam em casa antes das dez, não fumavam cigarros e não se metiam com os garotos da escola pública. Eram conhecidas no Colégio Sant...
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— VOCÊ DESTRUIU! — disse Silvia a Brenda, enquanto esta deixava a quadra desportiva onde acabara de competir no Campeonato Estadual, que naquele ano acontecida na cidade vizinha a Aquino. Aquela etapa qualificaria três atletas para o Campeonato Nacional de Ginástica Olímpica. — Sério, Bê, acho que nunca vi você competir assim.
— Foi daora. — comentou Alana, indiferente, entregando a Brenda um buquê de flores e alguns ursos de pelúcia que pertenciam à própria Brenda. Em todo Campeonato, Brenda fazia com que as meninas lhe entregassem objetos que já pertenciam a ela e flores pagas pelos seus pais, para parecer aos árbitros que ela tinha admiradores e traria grandes patrocínios ao Campeonato.
— Disseram que foi a maior pontuação. Isso significa que eu vou ficar com outra medalha de ouro. — exclamou Brenda, cheia de adrenalina — Vai ser a minha sexta vitória! Eu vou virar tipo uma celebridade em Aquino. Com certeza eu estaria nas manchetes, tipo, sexta medalha de ouro para garota local!
— Você sempre fica com a medalha de ouro. — Alana falou, em tom de deboche — Novidade seria se você ficasse com a prata ou sei lá.
Silvia deu uma cotovelada nas costelas de Alana. Ninguém devia fazer piadas sobre o sucesso de Brenda ou sugerir que um dia ela viria a falhar, porque as alternativas eram Brenda ter um colapso nervoso e compulsivo, fazendo com que ela parasse de comer e dormir e dedicasse seu tempo exclusivamente aos treinos, ou pior: descontar todos os seus medos e frustrações na pessoa que resolvera caçoar deles.
— Eu sempre ficava com a medalha de ouro, Alana David, quando competia na categoria mirim. — bradou ela, incoerente — Estou competindo com as melhores atletas de São Paulo agora, e não só as pirralhas de Aquino! E você, minha melhor amiga, podia se prestar a outra coisa que não me fazer sentir insegura sobre isso!
Alana revirou os olhos e deu uma pequena risadinha nasal. Nem a fúria de Brenda parecia ser capaz de tirá-la de seu tédio mórbido que agora completava um mês. Já estavam na terceira semana de Setembro e nada do Professor de Literatura aparecer. Começou a se referir a ele apenas como Professor de Literatura, pois era muito doloroso pensar em seu nome. Sem conseguir escrever, estava oficialmente sem tarefas extracurriculares, portanto, dedicava a maior parte do seu tempo ajudando Brenda a se tornar campeã estadual, o que estava prestes a acontecer. Isso em si já lhe dava aquela pequena sensação de desespero, sabendo que teria de arrumar outra coisa para fazer com seu tempo.
De certo modo, Brenda estava certa. Não existia campeonato nacional na categoria mirim, e tinha umas meninas muito boas por ali. Mas ninguém jamais poderia se comparar à qualidade e compromisso de Brenda Belucci com a ginástica. Alana tinha certeza quase que absoluta de que ela já tinha levado a medalha, e não fazia o menor sentido ficar nervosa sobre isso.
As três meninas se dirigiram ao banco das atletas para aguardar a classificação. Silvia passou a maior parte do tempo fazendo piadas a respeito dos trajes de Brenda, que na opinião de Alana, nem eram dos piores, visto que algumas meninas pareciam ter saído de uma briga feia com várias tiras de lycra. Dificilmente alguma coisa ficava patética em Brenda, e ela estava cintilando em seu collant azul escuro, glitter por todo corpo e nos cabelos, sob a perspectiva de acumular mais uma vitória.
