O trabalho que os funcionários dos Spilman tiveram para conseguir puxar Bernardo para longe de Harry White foi o suficiente para convencer qualquer um de que o homem era inocente. Angelina nunca havia presenciado reação tão extrema a um comentário do parceiro, e olha que ele tinha um longo histórico de frases inconvenientes ditas em momentos mais inconvenientes ainda.
Por isso, quando finalmente separados, Angelina pediu para que Harry e Bernardo seguissem para cômodos diferentes. Só assim ela teria a paz necessária para continuar conversando com pelo menos uma parte da família Spilman sem interrupções, aborrecimentos ou mais socos. Era um momento delicado que exigia o afastamento do detetive que a acompanhava como parceiro há anos e sempre, sem exceções, acabava dizendo algo inconveniente em momentos frágeis.
Harry não ligou de ser dispensado. Odiava aquela parte chata do procedimento tanto quanto odiava a dramatização por trás das tentativas de colocar um pouco de emoção e verdade em interrogatórios rotineiros. Ninguém entendia que usar a tensão e o limite do luto e da perda era uma ótima ferramento para se arrancar verdades, por mais cruel que aquele procedimento parecesse, e a fraqueza diante das prioridades emocionais o irritava.
Seria muito mais lucrativo que Angelina conduzisse a conversa com os Spilman sem a presença do sempre odiado companheiro de investigação. Desse jeito Harry poderia, numa excursão privilegiada e não supervisionada, observar com calma todos os pequenos detalhes que transformava a mansão dos Spilman em algo tão naturalmente dramático.
A voz de Angelina ainda pedindo desculpas pelo parceiro ecoava do andar debaixo, passando pelos dutos do aquecedor e subindo todos os andares da mansão. De maneira clara, ela se esforçava para reconquistar a confiança de Constance, contando como White havia recebido um treinamento diferente por ter se formado nos Estados Unidos e usando da velha rivalidade entre os ingleses e os americanos para ganhar a empatia da mulher.
Harry deixou as desculpas de Angelina para focar na missão de coletar informações importantes pela casa dos Spilman. Ele sabia que sempre que encontrava dificuldades e escândalos automaticamente encontrava respostas. Era como um círculo vicioso. O único e real impedimento para os seus planos era o fato de que Angelina o havia mandado esperar no carro e, se ela descobrisse que fora desobedecida, provavelmente terminaria de quebrar o nariz do detetive por conta própria. Ele até mesmo se arrependeu de ter rasgado um pedaço de uma cortina dos Spilman para usar na tarefa de estancar o sangue do nariz machucado. Aquilo provavelmente o colocaria em apuros caso alguém percebesse a sua travessura.
Mas os Spilman certamente não sentiriam falta de um pedaço de cortina, não é?
De repente, uma porta entreaberta chamou a sua atenção, atrapalhando os pensamentos sempre rápidos do detetive. Harry viu um rastro de luz esbranquiçada desenhando o corredor e andou até a porta que permitiu aquela passagem, parando à sua frente antes de encostar as pontas dos dedos contra a madeira e empurrá-la com cuidado. Ele não escutou nenhum rangido daqueles rangidos característicos das casas mais antigas de Londres, mas não era preciso muita movimentação para ser notado em um lugar como aquele.
Assim que a porta se moveu e ele pôde ver o interior do cômodo, Marie Spilman levantou o rosto bruscamente, como quem leva um susto, e olhou na direção de Harry. O homem permaneceu parado, confirmando o delicado palpite de que tinha chegado ao quarto da mais jovem dos Spilman.
A garota estava sentada em uma cama de casal extremamente grande, tão alta que seus pés não tocavam o chão e suas sapatilhas pendiam nas pontas de seus dedos. Harry esperou que ela gritasse; que ela saísse correndo ou que o empurrasse e então batesse a porta em sua cara, mas a única coisa que aconteceu foi o som baixo, porém firme, de sua voz tomando o ambiente:
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Quem Matou Sofia? (DEGUSTAÇÃO)
Mystery / ThrillerHistória vencedora do Wattys 2016! A história do detetive Harry White poderá surpreender. Longe dos clichês de policiais misteriosos, Harry é provido de um humor ácido invejável e é completamente devoto ao seu trabalho. Não tem proble...