V I N T E E O I T O

12.8K 1.2K 476
                                    

Quando Harry chegou em casa, naquela noite, Natallie já estava dormindo. Ele se trancou em seu escritório por algumas horas, esperando obter avanços em suas investigações, mas sentia tanta dor de cabeça que nenhum segundo lá dentro se mostrou produtivo e, em desistência, desceu as escadas, indo para a cozinha. Sentou-se na mesa de jantar e observou os desenhos talhados na madeira escura, esperando que as linhas e os contornos o levasse a algum lugar. Juntou as mãos e apoiou o queixo nelas, sentindo-se confortável naquele ambiente escuro, silencioso e acolhedor. Ali, parecia que os problemas haviam desaparecido. Que tudo tinha ido embora.

Então escutou o som leve dos pés de Natallie descendo as escadas, e não se preocupou com as perguntas que estavam por vir. O abraço que ela lhe deu, escorando o queixo em seu ombro direito, o fez pensar que a presença dela, com ou sem questionamentos, era sempre a melhor maneira de melhorar noites ruins.

- Você não precisa esconder as coisas de mim, Harry.

Ela o largou, sentando na cadeira ao lado da dele.

- Não era relevante - explicou.

Natallie apoiou a cabeça nas mãos e piscou, lutando contra o sono. Seus cabelos estavam bagunçados e os lábios roxos pelo frio, mas ela continuava sendo a mulher mais bonita que Harry conhecia.

- Tudo é relevante - respondeu ela. - Me conte o que aconteceu na clínica. Eu estou preocupada com você, Harry. Tenho medo pelo que pode acontecer.

O detetive sorriu.

- Estou um pouco grande para você cuidar de mim.

Natallie sorriu junto com ele e respondeu, deixando o humor de lado:

- Você sabe que eu sempre vou cuidar de você. É o que venho fazendo desde que tínhamos 15 anos.

- Faz muito tempo - ele avaliou.

- Uma vida inteira.

- Muitos natais e anos novos - riu.

- E aniversários - completou, seu sorriso se desfazendo quando Natallie pensou nos significados que aquela frase continha.

Harry segurou a sua mão no mesmo instante.

- 15 anos - ela sussurrou. - 15 aniversários.

- Em um, querida, estávamos com ela. Não é muito, mas foi importante.

- Mais quantos teremos que enfrentar? - perguntou.

Harry não tinha uma resposta para aquilo.

Beijou os dedos da mão da esposa e sorriu do jeito que sorria para ela há 15 anos, quando sorrisos sinceros tornaram-se raros naquela casa. Quando parou para pensar, lembrou do início da conversa e franziu o cenho.

- Como você soube sobre a clínica? - perguntou. - Nada sobre mim foi liberado para a imprensa.

- Um dos sobreviventes foi parar lá no hospital - disse ela. - Foi uma confusão. Um homem me explicou o que havia acontecido. Ele me garantiu que você estava bem, mas as outras duas vítimas não estavam.

Harry assentiu, primeiramente, mas se interrompeu assim que as palavras da esposa fizeram sentido. O detetive aproximou-se da mesa, sentindo o coração acelerar.

- Que sobrevivente? - perguntou. - Ninguém sobreviveu!

Natallie se afastou, confusa e alarmada, e explicou com calma:

- Uma garota, sim. Ela passou por uma cirurgia, mas ficou bem. A bala chegou bem perto de seu coração.

Harry voltou ao seu lugar na cadeira, relaxando os músculos do corpo.

Quem Matou Sofia? (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora