D E Z

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     Do outro lado da cidade, David Smith e Steven Hemmings prestavam uma visita à família de Jared Norton, o rapaz encontrado no porta-malas do carro escondido no estacionamento da rua Crawford.

     Diferentemente de Harry e Angelina, os dois foram recebidos de uma maneira um tanto peculiar. A casa da família Norton era uma mansão imensa e branca de paredes lustradas e jardim bem podado, o que não foi a coisa que os intrigou. Até ali era tudo muito normal. O que os intrigou foi o pequeno interfone preso ao lado da grande porta de entrada da casa. 

     Eles já haviam passado por dois tipos de sistema de identificação, sendo aquele o terceiro. Era como se o lugar precisasse de segurança excessiva— talvez mais do que alarmes de segurança e homens fardados pudessem proporcionar —  e só depois de os detetives se apresentar outra vez eles foram convidados para entrar. 

     A porta se abriu automaticamente, sem ninguém para recebê-los. Outro fator estranho, claro, porque também não havia maçaneta ou puxadores em qualquer dos lados da madeira clara. David retirou os sapatos quando entrou e percebeu a pilha de pares em uma sapateira ao lado da porta, assustando-se com a empregada que havia surgido do nada para ajudá-lo mesmo que ele não precisasse.

     — Oh, vocês chegaram!

     A voz veio acompanhada de um senhor que poderia facilmente ser uma versão mais velha do corpo encontrado no morta malas do estacionamento da sua Crawford. Aquilo causou arrepios em Steven quando ele imaginou uma realidade na qual Jared Norton envelhecesse até ficar parecido com o pai, que se aproximou dos dois detetives e os cumprimentou dizendo que seu nome era Aidan Norton.

     — Por favor, me acompanhem — disse, conduzindo-os para dentro.

     Passaram por duas salas amplas e claras, incrivelmente arejadas, onde viram móveis vazios por todos os lados. Os detetives tiveram a impressão de que não havia ninguém morando ali. A ideia voou para longe quando passaram por uma porta metálica e entraram em uma sala escura, cheia de coisas amontoadas.

     — Vamos conversar no nosso escritório, se não se importarem. — disse Aidan.

     Havia paredes com estantes repletas de livros, uma mesa de madeira no centro, luminárias de tom laranja e quadros visivelmente caros. Parecia mais que um escritório; soava, na verdade, como um santuário. A mini geladeira e a quantidade de itens pessoais ao redor indicavam o quanto de tempo que Aidan passava ali.

     O anfitrião ofereceu lugares para que os detetives se sentassem, e tanto Steven quando David não recusaram o conforto de duas poltronas de couro legítimo. Aidan também colocou whisky em três copos, mas este os policiais tiveram que recusar.

     — Onde está a sua esposa? — perguntou David quando Aidan sentou na poltrona em frente a eles e os dois perceberam que ela não viria.

    O velho deu um longo e pesado suspiro.

     — Greta sofre de uma doença degenerativa que a paralisou e afetou os seus músculos — disse com calma. — Ela toma muitos remédios para aguentar aa dor, então fica a maior parte do tempo dopada. Agora está dormindo, mas, se quiserem, posso acordá-la.

     Steven limpou a garganta, sentindo-se um pouco mal, e disse que não era necessário. 

     — Então, o senhor sabe nos dizer qual a ligação exata entre Jared e Sofia Spilman? — foi a primeira pergunta de todas. — Eles eram namorados?

     Aidan franziu o cenho como se estivesse buscando respostas. Então, depois de um tempo, soltou um "oh!" de reconhecimento e disse:

     — Sofia Spilman! Ah, aquela família... Não consigo imaginar o que os dois estariam fazendo juntos. Ela não era o tipo de garota por quem Jared costumava se interessar. Meu filho gostava das encrenqueiras, e Sofia era uma boa menina! Todos os Spilman são ótimos, na verdade. Pessoas certas. 

     Steven concordou com a cabeça. Ele falava como se os Spilman fossem santos. Ele não duvidava, mas achava estranho. Toda família precisava da sua ovelha negra.

    Aquilo o fez pensar em algo:

— Jared tinha um irmão? Alguém a quem pudesse contar sobre a sua relação com Sofia Spilman?

     Aidan balançou a cabeça.

     — Ele era filho único. Greta e eu nunca conseguimos ter filhos até Jared vir. Tentamos por anos e falhamos, por isso somos pais velhos. Jared era o único herdeiro dessa família.

     Steven e David concordaram com a cabeça, e de repente aquele encontrou pareceu mais triste, como se até aquele momento Aidan não tivesse notado que tudo era real. 

     Seu menino estava morto.

     — Um melhor amigo, talvez? – David arriscou, quebrando o silêncio.

     O velho Norton levantou o rosto como se tivesse levado um susto, então balançou a cabeça positivamente e disse:

     — Há um rapaz que andava com Jared e com Sofia de vez em quando. Vocês querem conversar com ele? Acho que tenho o nome por aqui — disse, levantando-se. Andou até a mesa de madeira escura no centro da sala e pegou uma agenda. — Charlie — recitou, logo lamentando: — Desculpe, mas só tenho o primeiro nome. Geralmente pegamos o nome completo de todos que entram aqui em casa, mas Jared insistiu que não era necessário com ele.

     — Faz alguma ideia de onde esse garoto pode morar? — perguntou Steven. — Tem qualquer outra informação?

    — Não, eu sinto muito — se desculpou Aidan. 

      David e Steven concordaram com a cabeça em silêncio. Estavam pensando sobre o quanto aquele tal de Charlie poderia ser importante. Ele não fornecera o segundo nome, e aquilo era estranho. Teria ele alguma coisa a ver com a morte de Sofia e Jared? Talvez os dois não fossem realmente amigos.

     Steven e David terminaram de fazer as perguntas, sempre vendo Aidan ser bastante prestativo. Então agradeceram, foram embora e voltaram para a Scotland Yard, onde transcreveram relatórios e perceberam que Harry e Angelina estavam muito atrasados.

...

CONTINUA

Quem Matou Sofia? (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora