V I N T E E S E I S

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     Harry estava sentado no banco de seu Dodge Charger, olhando para o estabelecimento do outro lado da rua. O prédio era alto e claro, com janelas de vidro, e se parecia mais com uma agência bancária do que com um consultório.

     Naquela tarde, dias depois da discussão na Scotland Yard, Enzo havia marcado a primeira consulta de Harry com o seu novo psicólogo — alguém que ele não se dera ao trabalho de gravar o nome —, mas era óbvio que o detetive não deixaria de fazer seus deveres para comparecer àquele encontro que, para ele, não passava de uma atitude desesperada e ridícula de Enzo para tentar mantê-lo na linha. Harry preferiu seguir com o Caso Spilman, sempre à frente da Scotland Yard ao ir atrás de pistas adquiridas através do trabalho clandestino de Joseph Right.

     O detetive pegou o seu caderno de anotações, riscando o endereço número cinco de sua lista. Depois de passar a noite inteira tentando descobrir a localização das exatas trinta e duas coordenadas presentes no arquivo de Joseph sobre Sofia, Harry acabou por elaborar um mapa detalhado, onde os passos da garota morta eram marcados por fitas adesivas de várias cores. Azul era para lugares públicos; branco, casa de amigos; verde, boates e bares. Vermelho era para os lugares sem identificação.

     Assim, depois de um dia cheio, Harry estava no quinto item da cor vermelha.

     O primeiro fora um ponto perto do túnel da rua Lake; o segundo, o cemitério; o terceiro um hospital e o quarto a própria casa. Ali, à sua frente, estava o quinto lugar: o consultório do segundo Dr. Olsen da cidade. As datas das visitas àquele consultório eram recentes — há menos de quatro meses. Aparentemente, Sofia frequentava o lugar sem o conhecimento dos pais. Os dois ficaram surpresos quando White mencionou o fato, e não souberam responder por qual motivo a filha havia deixado Louise Campbell para falar com outro psicólogo.

     Harry desceu do carro e atravessou a rua. Passou pela porta de vidro e caminhou até o balcão da recepcionista, informando que tinha uma consulta.

     — Nome? — ela perguntou.

     — Alexander Spilman.

     A mulher digitou alguma coisa no teclado e então sorriu para ele.

     — O Dr. Olsen está esperando o senhor. Angel vai levá-lo até ele.

     Um garota loura apareceu e sorriu para Harry. O homem agradeceu a recepcionista e a seguiu. Angel usava saltos altos negros e saia até os joelhos; tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo delicado. Quando sorriu, Harry sentiu que era extremamente forçado.

     — Chegamos — disse a menina, parando no meio de uma sala com uma porta e dois sofás. — O Dr. Olsen está terminando com um paciente. Pode se sentar para esperar. Deseja alguma coisa? Um café ou chá?

     — Não, obrigado.

     Ela concordou com a cabeça e se retirou. Harry ficou ali, no meio da sala de espera, aguardando a porta se abrir para que ele pudesse se livrar do ar frio e do aspecto branco do ambiente, que em geral o incomodava. O homem sempre repudiou cenários crus demais.

     Com a espera para ser atendido, Harry refletiu sobre o seu plano — um que, na verdade, não existia. Os fatos eram que White não podia dizer que era policial; se fizesse aquilo e Enzo ficasse sabendo que o detetive insistira na investigação mesmo depois de ser afastado, seria o fim. Portanto, Harry conseguira uma identidade falsa, onde ele seria Alexander Spilman, um tio próximo de Sofia que, não podendo lidar com o luto, procurou o psicólogo da sobrinha a fim de descobrir o que se passava com a menina.

     Claro, White sabia que não seria nada fácil. Testemunhara da pior forma possível a resistência de um psicólogo diante da quebra de seu Código de Ética Medica. Ainda assim, precisava tentar.

Quem Matou Sofia? (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora