Q U A T R O

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     A missão de Harry White e David Smith era vagar pelos prédios e comércios da rua Chiltern em busca de gravações de câmeras de segurança. Precisavam urgentemente de imagens úteis, quais mostrassem pelo menos a placa do Porshe no qual Sofia havia sido vista chegando ao prédio em que morava, mas, infelizmente, à noite, com a chuva que havia caído na noite em que ela morrera, sabiam que não seria uma tarefa fácil.

     Mas, mesmo que já fosse tarde, ele seriam persistentes.

     Quase tão persistentes quanto aquele repórter novato que havia perturbado Harry na manhã em que Sofia caíra da sacada de seu apartamento. Para a surpresa do detetive, ele ainda estava lá: embaixo do toldo do café que não fechava desde 1972.

     — Olha só — o detetive sorriu ao vê-lo — Já conseguiu alguma novidade útil?

     O jovem tinha um crachá com o nome Julian pendurado no pescoço, e saiu de debaixo do toldo para seguir os detetives pela calçada úmida. Ele parecia eufórico, quase como se estivesse sem dormir há dias, e disse a próxima frase de um jeito tão cansado quanto animado:

     — Sofia Spilman não se matou! A mãe dela confirmou.

     Toda a quase serenidade de Harry White se esvaiu, e ele parou de andar. Olhou para o jovem com a expressão séria e perguntou:

     —Constance Spilman conversou com você?

     — Não, claro que não! Ela disse isso naquele programa de TV que passa todas as tardes. Acho que o senhor não viu porque ficou o dia todo lá dentro — apontou para o prédio de Sofia — Mas a família Spilman deu muitas entrevistas hoje.

     O nervos de White causaram uma reação em cadeia que começou com um grunhido, depois avançou para um chute falso contra o asfalto e acabou com resmungos repletos de xingamentos.

     — Eu não acredito, mas que merda! O que ela disse?

     O rapaz demorou para responder, provavelmente assustado com a reação do detetive:

     — Disse que Sofia nunca faria isso. Ela era católica.

     — AH, ELA ERA CATÓLICA. Grande coisa! Essa gente inventa cada uma... — ele xingou por mais alguns segundos, então virou para o menino e disse, calmo outra vez:— Você vai trabalhar para mim. Te pago o dobro que qualquer jornal para me atualizar de tudo o que a mídia e os Spilman dizem sobre Sofia. Pode fazer isso?

     Julian balançou a cabeça de uma maneira confusa e atenta.

     — S-sim.

     — Ótimo.

     Não deu tempo de o garoto responder. Quando Julian percebeu, Harry White estava longe, andando ainda emburrado com David Smith ao seu lado até o fim da rua Chiltern.

     Harry quis evitar pensar na família Spilman nas próximas horas, mas foi difícil. Ele e David passaram por diversos quarteirões e estabelecimentos enquanto uma garoa fina caía sobre a cidade, e em todos eles havia um jornal ou uma TV comentando a morte de Sofia. Era impossível fugir — e mesmo assim, quando se tratava da real busca por imagens e informações, ninguém sabia de nada.

     Harry estava começando a ficar maluco.

     — Então, Enzo te pediu pra ficar no meu pé? — perguntou em certo momento.

     Precisava se distrair, e por mais que conversar com outro ser humano não fosse uma de suas atividades favoritas, era tarde e David estava cansado o suficiente para entreter White com uma conversa manipuladora e quase engraçada.

Quem Matou Sofia? (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora