Capítulo Quatro - Segunda Parte

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Acordei atravessada na cama e toda dolorida. Por sorte, não acordei no chão novamente. Pois mesmo minha cama sendo de casal, ainda assim muitas vezes seu tamanho não era suficiente para me manter em cima dela.

Não tinha conseguido dormir quase nada. Pesadelos assim eram exaustivos e me faziam acordar toda suada.

Ainda estava escuro lá fora, o que só podia significar duas coisas: ou estava terrivelmente frio, como é sempre nessa época do ano, ou ainda não estava na hora de acordar. Ou as duas coisas.

Fiquei com a segunda opção e me encolhi o máximo que consegui para poder desfrutar do calor por estar debaixo de várias camadas de cobertores.

Sei que não conseguiria voltar a dormir. Ainda não podia acreditar que a noite anterior tinha realmente acontecido. Parecia tão surreal.

Era realmente possível que tudo aquilo tivesse acontecido? Eu tinha quase morrido. Minha mãe teria ficado desolada. Se Noah estivesse aqui, teria me dado uma bronca e tanto, por ter sido tão burra.

Se eu tivesse morrido, será que ele teria voltado? Voltaria para o meu enterro? Ficaria arrependido por não estar aqui quando aconteceu? Choraria por mim? Ou só o que restou dos nossos anos de amizade foi o ódio?

"O amor e o ódio andam de mãos dadas, Eva." Minha mãe sempre me falava isso. Agora podia sentir na pele o quanto isso era verdade. Sabia que Noah não me odiava realmente. Ele me amava... mas...

Pare com isso. Não queria pensar nele.

Minha garganta já começava a se fechar em um nó gigante e meus olhos se encheram de lágrimas. Pisquei várias vezes respirando fundo para afastar o sentimento para longe. Era passado, tinha que olhar para o futuro.

Passei o polegar pelo dedo indicador, sentindo o lugar onde durante tanto tempo ficara o anel que ele me deu. Como pude ser tão imprudente? Ir sozinha procurar por um pedaço do nosso passado.

Não queria ir para o colégio, mesmo sabendo que encontraria minhas amigas. Muitas pessoas me perguntariam sobre ele, e eu não conseguiria ficar respondendo somente "não sei, não sei". Olhariam como se fosse mentira, como se eu não quisesse contar. Não que isso fosse da conta de ninguém, mas cidade pequena é um terror. E a minha era um ovo. Todo mundo sabia da vida de todo mundo.

E já fazia algum tempo que todos sabiam que ele viajara e especulavam sobre termos brigado. Por sermos tão próximos desde a infância, as pessoas não entendiam quando eu falava que não tinha notícias dele.

Ele já deveria ter voltado para o começo das aulas, o que só fazia aumentar as fofocas pela cidade. E o fato de eu não querer falar sobre o assunto só fazia com que todos ficassem ainda mais curiosos.

Hoje não seria diferente. Todos perguntariam onde ele estava. Só um mi- lagre mesmo para distrair a atenção para a bomba que seria quando soubessem que ele havia se mudado e não voltaria mais.

Tomei coragem e olhei para o relógio que ficava na cabeceira da cama: 6h12. Ainda tinha alguns minutos para tentar dormir, mas, sabendo que não conseguiria, o melhor seria levantar de uma vez por todas e não ficar pensando nele.

Ao sentar na cama, absolutamente todos os pedacinhos do meu corpo protestaram contra o movimento e fiquei zonza por levantar rápido demais. Os músculos dos meus braços e das minhas pernas doíam tanto que chegavam a pulsar.

Soltei um gemido baixinho ao abraçar meus próprios braços sentindo quão doloridos estavam. Um sinal muito claro de que a noite passada não fora somente um pesadelo.

Labirinto de Espelhos  (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora