Capítulo Sete - Primeira Parte

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O chão estava duro e frio embaixo de mim pela segunda vez em menos de uma hora. Tudo rodava à minha volta. Minha boca estava completamente seca e minhas mãos estavam molhadas por um suor frio.
Minha cabeça latejava e doía muito. Levei a mão à testa ainda com os olhos fechados, e pude sentir uma elevação bem no ponto onde sentia um latejar constante.
– É melhor não tocar aí, Eva – uma voz falou muito próxima ao meu ouvido.
Os músculos da minha barriga se contraíram ao som daquela voz e me sentei rapidamente.
Péssima ideia. O chão pareceu girar embaixo de mim. Parecia que estava tombando, mas não entendia se estava mesmo caindo ou se era só uma sensação por estar tudo rodando.
– Calma – ele falou. – Você bateu feio a cabeça naquela porta. É melhor deitar de novo.
Senti mãos fortes me segurarem e com gentileza me puxarem de volta para trás pelos ombros. Esperei que fosse deitar de novo no chão frio, mas ele me apoiou em sua coxa.
– Foi uma pancada e tanto – falou, passando sutilmente a mão no local. – Não queria tê-la assustado. Mas você não parava de correr.
Assim que deitei, a tontura começou a passar e pude ver quem era. Mesmo não acreditando ser quem eu achava. Era ele. Pisquei várias vezes para clarear a visão antes de falar com certeza.
– Willian?
– Vejo que a capacidade da fala não foi afetada.
Eu estava completamente confusa.
– O que faz aqui? – falei, sem entender nada.
– O que eu faço aqui? – Riu ele ironicamente tombando a cabeça de lado. – O que você faz aqui? – falou, sem responder minha pergunta.
– Eu fiquei presa. Acabei dormindo durante a aula de educação física e só acordei depois que a escola já tinha fechado. E você? Qual a sua desculpa?
– Por incrível que pareça, também fiquei preso.
– Ficou? – perguntei sem acredita. Parecia improvável que nós dois tivéssemos ficado presos no colégio. Será que isso acontecia com frequência com outros alunos? – Que coincidência, não?
Minha tontura já havia passado, mas por outro lado meu nervosismo por estar em sua presença só aumentava.
Tentei organizar meus pensamentos. Eu estava na escola, à noite, trancada, ninguém sabia que eu estava ali, e ainda por cima estava com ele. Mas que primeiro dia de aula surreal.
Ele tocou de leve o local que latejava em minha testa. A sensação foi boa, mas mesmo assim fechei os olhos por causa da dor.
– Está doendo muito? – perguntou. Abri os olhos e me surpreendi com a intensidade com a qual ele me olhava. Parecia... preocupado.
– Só um pouco – menti. Estava doendo pra caramba.
– Vai ficar um galo.
– Mais um machucado para a coleção. Um a mais, um a menos... – falei, dando de ombros. Ele riu do meu comentário.
– Você se machuca com muita frequência?
– Com mais frequência do que eu gostaria – falei, sentindo a tontura passar por completo.
Mesmo sabendo que já podia me levantar, queria aproveitar mais um pouco daquele momento. – Acho que não tenho sido eu mesma ultimamente – confessei.
– E tem sido quem?
– Não sei... Mas não eu mesma. Alguém que não se sente bem por dentro, mas tem que fingir estar bem para que todos não se metam em sua vida particular. Alguém que agrade a todos – falei baixinho, mais para mim do que para ele.
– Não deveria precisar agradar ninguém. - disse ele.
Ficamos em silêncio por algum tempo.
Por que eu estava me abrindo com ele? Eu mal o conhecia.
– E esse hematoma em seu pulso? É novo? - perguntou.
Olhei para meu pulso e vi uma mancha escura que se formava dando a volta como uma pulseira meio esverdeada. Não me lembrava do momento exato em que o tinha feito. Mas com certeza foi na floresta.
– Relativamente novo – falei puxando a manga da blusa para escondê-lo. Mas Willian pegou minha mão e analisou o machucado de perto e, antes que eu pudesse ter alguma reação, levou meu pulso aos lábios depositando um beijo delicado no local.
Comecei a me sentir desconfortável por estar apoiada no colo dele. Minha nuca, que era a parte que estava em contato com sua perna, parecia latejar mais que o galo em minha testa.
– Ninguém está preocupado por você não ter voltado para casa? – ele perguntou.
– Não. Liguei para uma amiga e minha mãe pensa que estou na casa dela. Achei melhor não incomodá-la, ela está fazendo plantão hoje. E seria muito ruim ela receber um telefonema no meio da noite falando que sua filha está presa no colégio e ainda mais no primeiro dia de aula.
– Tentando agradar alguém? – ele falou, me olhando.
– Tentando não preocupar alguém – respondi. – E ninguém está preocupado por você não ter voltado para casa?
– Ninguém importante – ele falou, sem desviar os olhos dos meus.
Seu olhar era tão íntimo e intenso que tive que desviar os olhos dos dele. Sentia-me nua quando ele me olhava daquele jeito.
– E sua amiga, concordou em não falar para ninguém que você estaria aqui?
– Na verdade, ela acha que estou em casa. Dormindo.
– Então ninguém sabe que você está aqui?
– Só você – revelei, levantando a cabeça para olhá-lo. O mais estranho em sua expressão foi que pareceu que ele não tinha gostado nada de saber daquilo.
– Isso não é bom, Eva – ele falou, um tanto quando rude.
– Por quê?
– Eva, nunca lhe falaram que é perigoso conversar com estranhos?
– Não sou criança. – Me senti ofendida por ele ter falado isso. – E eu te conheço.
– Jura? – falou, cerrando os olhos para mim em sinal de descrença. – E o que sabe sobre mim exatamente?
Na verdade, absolutamente nada, pensei. Mas não daria esse gostinho a ele de admitir.
– Bem, seu nome é Willian.
– Ponto para você.
– Você é novo na escola.
– Uh, está acertando tudo ao meu respeito – falou, dando uma risadinha.
– Você não é da cidade.
– Praticamente sabe minha vida toda.
Sabia que estava tirando sarro da minha cara por eu não saber nada sobre ele, mas também estava achando graça.
– E...
– E?? – Fez sinal com as mãos para que eu continuasse.
– Você...
– Eeeeuuuu... – Ele continuava rindo e me encorajando a continuar sarcasticamente.
– Você tem covinhas quando ri.
Assim que terminei a frase, meu rosto começou a esquentar. Eu tinha realmente falado que ele tinha covinhas quando ria?
– Tenho? – falou, levantando as sobrancelhas.
Acho que por essa ele não esperava.
– Dessa nem eu sabia.
– Viu? Te conheço melhor do que você mesmo – falei rindo.
– Mesmo assim é perigoso ficar aqui sozinha.
– Não estou sozinha, você está aqui.
– E quem disse que eu não sou perigoso?
Meu sorriso murchou assim que ele terminou a frase. Não tinha pensado nisso. Só conseguia pensar em como sua boca perfeita, seus olhos perfeitos, em seu perfume delicioso. Não parei para pensar que não sabia nada sobre ele, nada que importasse, pelo menos. Só sabia o que todo mundo sabia, que ele era novo no colégio.
-Não tinha pensado nisso – ao falar isso, minha voz falhou.
Resolvi que estava mais do que na hora de levantar.
– Já estou me sentindo melhor – falei, começando a me levantar.
Ele deve ter percebido a preocupação por meus olhos, pois se apressou em dizer:
– Desculpe pela brincadeira, Eva. Não tenho a intenção de machucá-la. Não precisa ficar com medo. – Ele parecia ansioso ao falar isso. – Você pode me perguntar qualquer coisa, daí não seremos mais estranhos um para o outro.
Já estava quase sentada no momento em que meu estômago roncou alto. Coloquei a mão na barriga arregalando os olhos como que para abafar o som. Ele riu colocando a mão no bolso do agasalho.
– Acho que isso é seu. – E me entregou minha maçã. – Deixou cair quando começou a correr. Eu lavei.
– Obrigada – falei, pegando a maçã de sua mão. – Estou morrendo de fome.
– E não é à toa, não comeu nada no almoço – falou, com a voz querendo me repreender.
Sentei-me ao seu lado apoiando as costas na parede e dei uma mordida na maçã, mastiguei durante mais tempo do que seria preciso.
Então ele prestara atenção no detalhe que eu não comera no almoço.
E o quão estranho era nós dois estarmos ali, naquele momento. Juntos pelo acaso. Aiiii, obrigada, acaso. Se o encontrar pela rua, lhe beijo.
A maçã acabou antes que minha fome.
– Espera aqui um pouco? – ele falou, levantando-se. – Já volto. Não sabia se me levantava também, mas no final das contas achei melhor não arriscar, minha cabeça ainda não estava 100% normal. Fiquei olhando para ele enquanto andava até o fim do corredor. Seus ombros eram largos e a proporção entre ombros e cintura era perfeita. Só consegui reparar em suas roupas quando ele passou por uma faixa de luz que vinha de uma das janelas. Ele não estava com as mesmas roupas de hoje de manhã. Que estranho. Usava uma calça jeans mais clara, um sapatênis branco e uma blusa de mangas compridas azul com uma jaqueta por cima. O conjunto era simples, mas logo reparei que nada nele era simples. Ele era uma visão e tanto. Era como quando vemos revistas com aquelas roupas que nunca usaríamos de tão absurdas, mas que nas modelos ficam lindas. É bem isso. Só que as roupas dele eram de bom gosto.
Mesmo não o conhecendo direito, sabia que ele ficaria bem de qualquer jeito. Com certeza, ficaria lindo com os botões da camisa abertos mostrando só um pedacinho da cueca.
O que está acontecendo comigo? Estou despindo ele com os olhos agora? Ele virou à esquerda e saiu do meu campo de visão. Que pena.

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Amorecaaaaassss....
Esse encontro promete ficar ainda melhor! Aguardem o próximo capítulo! E para quem gostou não esqueça de dar uma estrelinha e comentar!

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